
Pesquisa aponta que 80% dos trabalhadores da escala 6x1 não veem chance de progresso material
Estudo conduzido pela UFG já ouviu mais de 3 mil pessoas de todo o Brasil
Longas jornadas de deslocamento penalizam ainda mais os trabalhadores no Brasil (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
Thais Teixeira*
Oito em cada dez pessoas ouvidas em uma pesquisa da Universidade Federal de Goiás (UFG), que trabalham na escala 6x1, não veem nenhuma chance de progresso material na vida. O estudo, desenvolvido pelo Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa), entrevistou até o momento pouco mais de 3,7 mil pessoas em 412 municípios brasileiros, com o objetivo de demonstrar os impactos dessa escala na vida dos trabalhadores. Até o momento foram respondidas quase 100 mil questões.
No Brasil, segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), mais de 34 milhões de pessoas trabalham de maneira formal na escala 6x1. Nessa escala, o trabalhador cumpre uma jornada de 44 horas em seis dias da semana, com um dia de descanso.
De acordo com a pesquisa, tradicionalmente, essa escala implica em considerar uma jornada de trabalho diária de oito horas, de segunda-feira a sexta-feira, com complementação parcial de quatro horas aos sábados.
Dentre os trabalhadores entrevistados no estudo da UFG, a maioria (63,1%) é negra (pretos e pardos); o restante se divide entre brancos (35,5%), indígenas (0,3%) e amarelos (1,1%).
A pesquisa é feita por meio de um questionário com 26 perguntas que analisa questões como tempo de deslocamento da moradia ao ambiente de trabalho, gênero, raça ou etnia, escolaridade, meio de transporte para deslocamento, dentre outros.
Outro fator observado é que os jovens (entre 18 e 24 anos) formam a maior parte da mão de obra na escala 6x1. Dentre esse público, os cargos mais comuns são atendente de lojas, mercados e lanchonetes, e repositor de mercadorias.
Exemplo do painel com resultados da pesquisa que será lançado até o dia 1º de maio
Trabalhar e estudar
O professor do Iesa Tadeu Arrais, um dos autores do estudo, explica que a pesquisa surgiu por causa de sua turma de alunos. O professor exemplificou mostrando o áudio de uma estudante, que é operadora de caixa, pedindo indicação de canais do YouTube com o conteúdo da aula. Isso porque o turno em que essa estudante trabalhava havia sido trocado e ela não conseguiria ler os textos para a aula, pois eram longos e a carga horária estava pesada.
Essa é a situação de 32% dos respondentes da pesquisa, que trabalham e estudam. Entre eles, uma porcentagem majoritária (73%) estuda no período noturno. Os demais períodos correspondem a 21% no matutino e 6% no vespertino.
A pesquisa será divulgada no dia 1° de maio. Segundo Tadeu, o Sindicato dos Comerciantes do Rio de Janeiro vai disponibilizar um painel interativo (dashboard) e, a cada 500 respostas, os dados serão atualizados.
O professor diz que acha possível que a escala 4x3 seja implementada no Brasil. Ele destaca que essa prática já é comum em outros países e nenhum foi à falência.
"O que está por trás agora é uma luta muito tensa entre os grandes grupos de varejo, que são aqueles que aglomeram a maior parte da escala 6x1, que são operadoras de caixa, fiscais de caixa, telemarketing, estoquistas, e que são nossos alunos. Volto a dizer: são nossos alunos".
Ele acredita que a escala 6x1 só vai acabar com os trabalhadores nas ruas cobrando os patrões, e que principalmente os jovens devem participar dos protestos. O movimento Vida Além do Trabalho (VAT) é um exemplo disso. Outro fator apontado por Tadeu é a falta de ações dos movimentos políticos em relação à causa.
* Thais Teixeira é estagiária do curso de Jornalismo da FIC/UFG, orientada pelo jornalista Luiz Felipe Fernandes.
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Fonte: Secom UFG
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