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Universidade Federal de Goiás
Lyotard

Tecnologias arquivísticas são armas de poder e resistência na era digital

Em 24/04/25 15:07. Atualizada em 24/04/25 15:14.

Pesquisa explora a perspectiva filosófica de Jean-Franços Lyotard sobre a natureza da verdade e memória

Da Redação

Na Teoria do Conhecimento do filósofo francês Jean-François Lyotard, a informação é central e mediada por agentes humanos e não humanos, numa lógica em que a verdade perde valor e a venda do conhecimento se torna o principal objetivo. Nesse contexto, tecnologias arquivísticas podem ser usadas como armas de poder e resistência.

As reflexões fazem parte um artigo publicado na Kalágatos – Revista de Filosofia, assinado por pesquisadores das Universidades Federais do Espírito Santo (Ufes) e de Goiás (UFG). O texto explora debates filosóficos sobre a verdade, a memória, o poder e a tecnologia, tendo como base a filosofia de Lyotard.

Os autores argumentam que as decisões baseadas em informações registradas por tecnologias arquivísticas semiautomatizadas, na sociedade capitalista, ilustram as teses de Lyotard sobre a dependência do capital dessas tecnologias. O estudo levanta a questão se o destino da humanidade é determinado predominantemente pelo humano ou pelo "inumano" enunciado por Lyotard, considerando a aplicação dessas tecnologias na criação, registro, classificação, organização, gestão, preservação e acesso a documentos e sistemas digitais inteligentes.

Os pesquisadores ressaltam que, para Lyotard, qualquer sistema material é tecnológico se processar informações úteis para sua sobrevivência. "Essa determinação ocorre cotidianamente quando, por exemplo, um usuário com credenciais para tanto faz constar em um sistema oficial de repressão que alguém é criminoso, selando o destino dessa pessoa, independente se isso corresponder à verdade dos fatos ou não", exemplificam os pesquisadores, entre eles o arquivista Mauro Medeiros, servidor do Centro de Informação, Documentação e Arquivo (Cidarq) da UFG.

O artigo afirma que a compreensão das tecnologias arquivísticas é crucial para a emancipação das pessoas da ignorância sobre os artefatos tecnológicos utilizados para criar e manter as fontes de informação que influenciam decisões e julgamentos. Assim, as tecnologias arquivísticas exemplificam a relação entre tecnociência e performatividade na teoria de Lyotard.

Para os autores as tecnologias arquivísticas são dispositivos e máquinas utilizados a favor e/ou contra os produtores de documentos ou aqueles que possuem direito de acesso a fim de inscrever, fixar, usar e transmitir informações para o futuro.

Os pesquisadores destacam que essas tecnologias voltam-se para a acessibilidade controlada por diversos níveis ou camadas de proteção e segurança com usabilidade, publicidade e funcionalidade, tendo como elementos distintivo a durabilidade que tensiona com o acesso e o uso, pois segundo eles, quanto mais facilmente acessível maiores os riscos, sendo um desafio central produzir hardwares e softwares de preservação de longuíssimo prazo.

 

Lyotard

Jean-François Lyotard foi um filósofo francês conhecido por sua crítica à modernidade (Foto: Reprodução)

 

O que é a verdade?

A pesquisa também aborda a problemática da verdade na sociedade da informação, questionando se ela pode ser confundida com a informação ou um "infoproduto". Os pesquisadores destacam a visão de Lyotard de que a verdade é produzida artificialmente por um conjunto de informações, computadores e mediadores para o benefício do capital.

No entanto, eles contrapõem que os arquivos produzidos antes desse paradigma servem como fontes de evidência que podem sustentar a verdade ligada aos fatos.

Ao analisar o cenário brasileiro, o estudo aponta que muitos sistemas de informação são criados para atender demandas imediatas, negligenciando o planejamento a longo prazo e as tecnologias arquivísticas. Nesse contexto, o "marketing precede a verdade", e o Brasil ainda depende de tecnologias de países que detêm o monopólio do conhecimento em tecnologia arquivística.

Se por um lado os autores consideram que "arquivos produzidos antes da emergência desse novo paradigma são fontes de prova, registros de fatos, de atividades humanas ou animais, de fenômenos da natureza e de outros acontecimentos documentados, que podem servir de base material para fundamentar a verdade ligada aos fatos", por outro destacam que as fontes da verdade estão sob mediações e classificam as ferramentas de tecnologias arquivísticas digitais, tais como: Archon, Archivits' Toolkit, ArchivesSpace, AtoM, Adlib Archive, Eloquent Archives, RODA, Dark Archive in the Sunshine State, Archivematica, Persistent Long term Archiving, Fedora, BitCurator, Archive-It, DuraCloud, Digital Preservation Software Platform (DPSP), The Online Disaster Planning Tool, Today's Document e Archon.

"Em um regime de acumulação de bens ou capitalismo, as chamadas 'tecnologias arquivísticas' exemplificam a tese de Lyotard de que existe uma relação direta entre o desempenho desse regime e essas tecnologias", concluem os pesquisadores.

Acesse aqui o artigo completo "Tecnologias Arquivísticas sob a perspectiva filosófica de Lyotard: mediação, verdade e poder".

 

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Fonte: Secom UFG

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