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Universidade Federal de Goiás
Propriedade intelectual estudantes

Propriedade intelectual na sala de aula

Em 27/05/25 13:30. Atualizada em 29/05/25 08:03.

Iniciativa da UFG estimula o reconhecimento e valorização das criações dos estudantes

 

Propriedade intelectual estudantes

Criatividade é ponto de partida para transformar a forma como os alunos lidam com suas ideias (Foto: Evelyn Parreira/Secom UFG)

 

Jayme Leno

Em um mundo cada vez mais movido pela inovação e pela criatividade, é importante garantir o reconhecimento e a proteção das criações intelectuais. Por isso, nada melhor do que ensinar crianças e adolescentes a reconhecer o valor de suas criações. Esse é o objetivo do projeto de extensão Invent-Ação na Escola, coordenado pela professora do Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás (IQ/UFG) Tatiana Ertner.

A iniciativa leva os conceitos de propriedade intelectual a alunos dos ensinos fundamental e médio, incentivando-os a acreditar no próprio potencial criativo e a entender como proteger legalmente suas ideias.

Criado em 2022, o projeto surgiu da inquietação da professora com a ausência de discussões sobre propriedade intelectual nas escolas brasileiras. "É difícil a gente atuar com uma coisa tão importante para todo mundo que faz ciência e tecnologia, que tem produtos que chegam à sociedade, mas que, ao mesmo tempo, é desconhecida no Brasil", afirma.

Ao buscar novos caminhos para ensinar o tema, Tatiana viu na extensão uma oportunidade de levar esse conhecimento às escolas, começando por uma instituição privada onde teve liberdade para desenvolver atividades com alunos do ensino médio.

A professora relata que, após dificuldades em inserir o tema nas dissertações de seus alunos de pós-graduação, decidiu incluir capítulos específicos sobre propriedade intelectual em todos os trabalhos orientados por ela, mesmo quando o foco era a Química. A partir dessa experiência, percebeu a necessidade de ampliar o debate para além da pós-graduação e da pesquisa, levando-o ao campo da extensão universitária.

"A extensão muitas vezes fica em terceiro plano. Mas eu quis experimentar, sair da formação de adultos e ir direto às escolas", conta. Os estudantes criavam projetos em diferentes áreas, como arte e tecnologia, enquanto aprendiam sobre os direitos ligados às suas criações.

O Colégio Marista, em Goiânia, foi a primeira parceria, com uma receptividade imediata. "Eles abriram as portas e me deram liberdade total para trabalhar". Utilizando a disciplina interdisciplinar Hub – que estimula os alunos a desenvolverem projetos próprios – Tatiana e sua equipe atuaram ao lado dos estudantes em criações artísticas, tecnológicas e experimentais. Ao longo do processo, os jovens aprendem a distinguir conceitos como direito autoral, patente e ética criativa.

Invent-Ação

A iniciativa aposta no reconhecimento do valor da criatividade individual como ponto de partida para transformar a forma como os alunos lidam com suas próprias ideias. Para a professora, o ponto central do trabalho é fortalecer a autoestima e o protagonismo dos jovens criadores. "Uma pessoa que entende que sua ideia tem valor se sente estimulada a continuar criando", diz.

Ela explica que esse estímulo pode gerar impactos duradouros: profissionais mais conscientes, inovação tecnológica fortalecida e, a longo prazo, desenvolvimento social e econômico para o país.

As atividades partem da liberdade de criação, em que os alunos escolhem as áreas com as quais mais se identificam – seja arte, ciência ou tecnologia. A partir dessas produções, o projeto insere noções práticas de propriedade intelectual, como direitos autorais, patentes e ética na criação.

O conteúdo teórico é integrado à prática de forma leve, com exercícios e discussões que surgem do próprio processo criativo. Assim, os estudantes não apenas aprendem conceitos legais, mas também desenvolvem senso crítico e responsabilidade sobre o uso e a proteção de ideias – próprias e de terceiros.

Ao todo, mais de 200 alunos, entre 7 e 17 anos, já participaram do Invent-Ação. A iniciativa também gerou frutos como um livro infantil, escrito por Tatiana, usado para apresentar o tema de forma lúdica às crianças do ensino fundamental.

Em uma das visitas, um aluno de 8 anos disse à professora: "Tia, eu sou autor". "Ali eu soube que estava no caminho certo", recorda-se com carinho. Apesar de atualmente estar presente apenas em uma escola privada, ela já articula a expansão para escolas públicas, como as Escolas do Futuro e o Hub Goiás, ainda em 2025.

Prêmio

O reconhecimento nacional veio em dezembro de 2024, quando o Invent-Ação na Escola conquistou o primeiro lugar na categoria Cidadania do II Prêmio PI nas Escolas, promovido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). A premiação é parte de um esforço do órgão para incentivar iniciativas que aproximem a propriedade intelectual dos ambientes escolares.

Surpresa com a vitória, a coordenadora conta que a inscrição foi feita apenas com o intuito de divulgar o que estava sendo desenvolvido em Goiás. "Não imaginei que venceria. Só de ter sido selecionada, já estava emocionada", relembra.

O prêmio é de abrangência nacional e avalia projetos de diferentes regiões do país. A seleção inclui uma etapa de envio de vídeos – chamados de pitches – para apresentar a proposta e demonstrar seu impacto pedagógico. Mesmo sem experiência com esse formato, Tatiana enviou o material e acabou liderando a categoria.

A notícia animou também a escola participante, que passou a abrir ainda mais espaço para novas atividades relacionadas ao tema. "A comunidade escolar ficou muito feliz. E, para mim, foi uma conquista completa, porque o prêmio abriu portas para ampliar o trabalho", comemora.

A premiação ainda levou a UFG a demonstrar protagonismo no tema, tendo a professora sido convidada a palestrar no evento A importância da propriedade intelectual para o ensino brasileiro, que ocorreu no dia 24 de abril no Ministério do Planejamento, em Brasília. A coordenadora foi a única participante do sistema de ensino a apresentar o assunto para uma audiência de servidores do Ministérios da Educação, do Desenvolvimento, e da Saúde, e diversos profissionais da área da propriedade intelectual, com o intuito de debater e dar soluções ao difícil problema da sua inclusão no ensino brasileiro.

Depois da premiação, a professora foi contemplada com um financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), voltado especificamente para pesquisas em propriedade intelectual. Essa conquista é ainda mais significativa por ter sido alcançada fora do campo jurídico, tradicionalmente vinculado ao tema. "Eu sou da Química, não do Direito, e mesmo assim consegui demonstrar que o projeto tem relevância. Isso me deu ainda mais confiança para seguir", afirma.

Fonte: Secom UFG

Categorias: Direitos Autorais Institucional IQ Notícia 4