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Universidade Federal de Goiás
Cerrado Lapig

Expansão agropecuária pode ocorrer sem novos desmatamentos

Em 05/06/25 13:39. Atualizada em 05/06/25 15:50.

Pesquisa aponta alternativas sustentáveis para aumentar produção de carne e soja no Cerrado até 2030

 

Cerrado Lapig

Recuperação de áreas degradadas e intensificação sustentável de pastagens estão entre as soluções apontadas em estudo (Foto: Lapig)

 

Caio Rabelo
João Pedro Bolzam

Um estudo conduzido por pesquisadores do Laboratório de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás (Lapig/UFG), em parceria com a The Nature Conservancy (TNC) e a Universidade Federal de Sergipe (UFS), aponta que é possível expandir a produção de carne e soja no Cerrado até 2030 sem desmatar. A chave está na recuperação de áreas degradadas e na intensificação sustentável das pastagens, que poderiam sustentar até 61 milhões de unidades animais.

O professor Laerte Ferreira, coordenador do projeto e pesquisador do Lapig/UFG, explica que o grande diferencial do estudo está em mostrar que é possível crescer sem desmatar. Segundo ele, a intensificação das pastagens com critérios técnicos permite liberar áreas para agricultura sem avançar sobre a vegetação nativa.

A conversão de vegetação nativa em pastagens ou plantações tem efeitos diretos no clima: eleva as temperaturas locais e diminui a evapotranspiração. Para evitar esses impactos, o estudo propõe o uso das chamadas Paisagens Produtivas Sustentáveis, que são áreas onde a intensificação do uso do solo é planejada para manter a produtividade sem novos desmatamentos.

Essas paisagens são compostas por zonas produtivas onde o manejo eficiente das pastagens libera espaço para a agricultura e ainda contribui para a regeneração de ecossistemas. A especialista do Programa de Pesquisa em Pastagem do Lapig, Maria Hunter, destaca que a pastagem pode ser aliada ou vilã nesse processo. Quando mal manejada, ela degrada o solo e reduz a capacidade de retenção de carbono. Mas, se bem conduzida, ajuda a recuperar o solo e contribui para elevar os estoques de carbono, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa.

O estudo também considerou a capacidade dos solos do Cerrado de estocar carbono como indicador de qualidade produtiva e ambiental. De acordo com os pesquisadores, 13,2 milhões de hectares (Mha) de pastagens apresentam baixo vigor, com menor potencial de produção e baixa capacidade de armazenar carbono, o que contribui negativamente para o aquecimento global. Outros 20,9 Mha são de vigor médio e 15,9 Mha, de alto vigor, com boas condições produtivas e ambientais.

Maria Hunter reforça que estocar carbono no solo é fundamental para mitigar os efeitos da mudança climática. Além de ajudar a regular o ciclo do carbono, solos ricos em matéria orgânica são mais férteis, mais resistentes à erosão e essenciais para a sustentabilidade agrícola.

 

Leia também: Atlas revela 42% mais vegetação nativa em Goiás com uso de alta tecnologia

 

Cerrado Lapig

 

Cenários

Os cenários traçados até 2030 foram baseados em informações sobre o estado atual das pastagens, o tamanho do rebanho bovino, o potencial de crescimento com melhoria de manejo, a aptidão para o cultivo de soja e a possibilidade de regeneração natural do Cerrado. O objetivo é atender à crescente demanda por carne e grãos sem pressionar o bioma.

No cenário principal, as áreas de pastagens de alto vigor são mantidas, enquanto parte das áreas de vigor médio e baixo é recuperada com o objetivo de atingir a meta de 61 milhões de unidades animais. Esse número não representa o limite da capacidade de suporte das pastagens recuperadas, mas sim uma estimativa baseada na demanda projetada do rebanho bovino no Cerrado até 2030. As pastagens de alto vigor, sozinhas, já seriam capazes de sustentar cerca de 34,1 milhões de unidades animais, segundo o estudo.

Outras áreas, principalmente de vigor médio e baixo, seriam convertidas para o cultivo de soja, garantindo a expansão estimada de 3 milhões de hectares. As pastagens restantes, também de vigor reduzido, seriam destinadas à regeneração natural da vegetação nativa, em uma área total de 16 milhões de hectares.

Apesar da viabilidade técnica e ambiental do modelo, sua implementação enfrenta desafios significativos. A recuperação de áreas degradadas e a adoção de práticas mais sustentáveis requerem investimentos, assistência técnica qualificada e revisão de políticas públicas e de incentivos econômicos.

Laerte Ferreira lembra que paisagens produtivas sustentáveis não surgem sozinhas. Segundo ele, é preciso vontade política, capacitação no campo e incentivos reais para que o produtor enxergue valor nessa mudança de paradigma. Além dos dois pesquisadores, fazem parte da equipe os especialistas Claudinei Santos, Isabela Nogueira, Maiara Pedral e Gabriella Arruda.

 

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Fonte: Secom UFG

Categorias: Meio ambiente Ciências Naturais Lapig Destaque Notícia 2