
UFG contribui com análises sobre impactos climáticos na biodiversidade da Amazônia
Iniciativa conjunta com ICMBio e WWF desenvolve métodos de avaliação a partir de dados do Programa Monitora
Diferente de estudos que se concentram apenas em previsões futuras,
o projeto com a UFG busca identificar impactos que já estão em curso (Fotos: Arquivo pessoal)
Jayme Leno
A Universidade Federal de Goiás (UFG), por meio do laboratório Themetaland (Teoria, Metacomunidades e Ecologia da Paisagem), está à frente de uma nova etapa do Programa Monitora, iniciativa do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A parceria, que também conta com o apoio do WWF-Brasil, busca desenvolver métodos analíticos que permitam avaliar os impactos das mudanças climáticas sobre a biodiversidade em unidades de conservação na Amazônia.
O ponto de partida dessa colaboração foi a realização, nos dias 25 e 26 de junho, de uma oficina de design thinking no auditório do Centro Regional para o Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (CRTI), na UFG. O encontro reuniu analistas ambientais do ICMBio, gestores de unidades de conservação, pesquisadores do WWF e integrantes do laboratório Themetaland, além de estudantes e egressos da universidade. O objetivo foi diagnosticar oportunidades, discutir possibilidades e planejar ações para analisar os dados coletados pelo Monitora - programa do ICMBio que acompanha, ao longo do tempo, as respostas da biodiversidade às ações de conservação e aos impactos de fatores externos, como mudanças climáticas, perda de habitat e uso insustentável dos recursos naturais- ao longo de mais de uma década.
Coordenado pelo professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFG, Paulo De Marco Júnior, o laboratório Themetaland é referência nacional em análises voltadas à ecologia da paisagem e ao monitoramento de efeitos das mudanças ambientais. A UFG já mantinha colaboração com o ICMBio por meio do Programa de Redução de Impactos sobre o Meio Ambiente (PRIM-ICMBio), e agora amplia essa parceria ao assumir o desafio de analisar o vasto banco de dados gerado pelo Monitora.
Diagnóstico participativo e ciência aplicada
Durante a oficina, os participantes construíram de forma colaborativa quatro modelos de análise que integram informações sobre biodiversidade e impactos climáticos. Uma das propostas é estudar como mudanças na temperatura e nos regimes de chuvas têm afetado espécies específicas da fauna e flora amazônicas, incluindo aquelas com potencial de uso na bioeconomia, como peixes, castanhas e plantas como o cumaru.
Paulo afirma que "esse encontro foi fundamental para entender o problema com clareza e construir soluções que possam ser implementadas de forma prática pelo ICMBio nos próximos anos". Segundo ele, a intenção é produzir resultados concretos ainda neste ano, em sintonia com o calendário da COP 30, que será realizada no Brasil. A expectativa é que parte das análises já esteja disponível até o evento ou que os resultados orientem ações na esteira de compromissos firmados após a conferência.
A equipe da UFG é formada por dois pós-doutores e uma jovem pesquisadora recém-graduada na instituição, que vão usar métodos estatísticos e modelos matemáticos em suas análises. O trabalho inclui desde a elaboração de relatórios científicos até a criação de scripts e ferramentas que facilitem o uso dos dados por gestores públicos.
Para o professor, essa é uma oportunidade exemplar de como a universidade pode contribuir com políticas públicas efetivas e, ao mesmo tempo, promover a formação de novos cientistas. “Quando os estudantes percebem como suas habilidades são úteis na prática, entendem o real valor da formação acadêmica. E nós, docentes, também aprendemos a adaptar nosso ensino para preparar melhor nossos alunos para os desafios do mundo real”, pontua Paulo.
Avaliando o presente para preparar o futuro
A participação da UFG no Programa Monitora representa, assim, uma ação concreta na intersecção entre ciência, conservação e formação acadêmica, contribuindo para o conhecimento sobre os efeitos das mudanças climáticas e fortalecendo políticas públicas voltadas à proteção da biodiversidade brasileira.
Diferentemente de estudos que se concentram apenas em previsões futuras, o projeto com a UFG busca identificar impactos que já estão em curso. Com dados padronizados de abundância de espécies, será possível avaliar quais populações têm sido mais afetadas e quais são mais resilientes às mudanças climáticas. Esses resultados são essenciais para que o ICMBio possa definir estratégias de conservação mais eficazes e direcionadas.
“O melhor dado para essa análise é o da abundância das espécies em campo, e é exatamente isso que o Monitora fornece. Isso nos permite entender como variações de temperatura e precipitação já estão afetando o crescimento populacional das espécies amazônicas”, explica o coordenador do projeto.
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Categorias: Mudanças Climáticas Ciências Naturais ICB