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Universidade Federal de Goiás
Biodiversidade

Ciência goiana ganha destaque global frente aos desafios ambientais

Em 28/07/25 23:20. Atualizada em 28/07/25 23:43.

Pesquisas da UFG ampliam conhecimento sobre ecossistemas tropicais, o continente antártico e os efeitos do clima sobre a saúde

 

Biodiversidade

Novo método: características climáticas parecidas aproximam Amazônia do Congo, Madagascar e Papua-Nova Guiné (Foto: Adriano Gambarini)

 

Luiz Felipe Fernandes

O ano de 2024 terminou com um recorde alarmante: foi o ano mais quente já registrado, com uma temperatura média global cerca de 1,55 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais. A conclusão tem como base seis conjuntos de dados internacionais analisados pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), entidade vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU). Os últimos dez anos estiveram todos entre os dez mais quentes da história, compondo uma série extraordinária de temperaturas extremas.

As evidências científicas da emergência climática se acumulam na velocidade de seus efeitos. Os impactos ao meio ambiente envolvem o derretimento das calotas polares, o aumento do nível dos oceanos, alterações nos ecossistemas e a perda de biodiversidade. Também são cada vez mais comuns eventos extremos, como ondas de calor, incêndios florestais e mudanças nos padrões das chuvas que levam a inundações sem precedentes ou secas prolongadas.

Nesse cenário de urgência e transformação, Goiás tem se destacado no cenário científico internacional, contribuindo de forma decisiva para desvendar e enfrentar algumas das mais complexas questões ambientais da atualidade. Com pesquisadores à frente de estudos publicados em renomadas revistas como Science e Nature, a ciência goiana demonstra sua participação fundamental na produção de conhecimento em escala global, promovendo a preservação dos recursos naturais e ampliando o alerta à sociedade sobre os desafios ambientais.

Novas respostas para questões antigas

Uma das mais antigas perguntas da ecologia – por que algumas regiões do planeta abrigam mais espécies do que outras? – tem encontrado novas respostas graças à contribuição de cientistas da Universidade Federal de Goiás (UFG). Em um estudo publicado na revista Science, pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução (PPGECOEVOL), incluindo o egresso Marco Túlio P. Coelho e os professores José Alexandre Diniz-Filho e Thiago Rangel, revelaram uma relação clara e consistente entre a disponibilidade de energia no ambiente (como temperatura e regime de chuvas) e a diversidade de espécies.

Para superar as limitações de estudos anteriores, a equipe propôs uma abordagem inovadora: em vez de comparar regiões vizinhas no mapa tradicional, eles agruparam áreas com climas semelhantes, mesmo que estejam em continentes diferentes. Por exemplo, locais como Amazônia, Congo, Madagascar e Papua-Nova Guiné, embora distantes, foram analisados juntos por terem climas parecidos.

"Em vez de analisar a Terra como um mapa tradicional, com latitude e longitude, passamos a representá-la com base no clima, por exemplo, usando temperatura e chuva como os eixos principais", explica Marco Túlio.

Esse novo método permitiu, finalmente, isolar os efeitos puros do clima sobre a diversidade de espécies, fazendo com que os padrões deixassem de ser confusos. A pesquisa validou, nesse contexto, uma das principais previsões da teoria metabólica da ecologia (MTE, na sigla em inglês), segundo a qual a diversidade de espécies aumenta com a temperatura de forma proporcional à energia metabólica disponível.

O estudo também destacou o papel complexo das chuvas, que, embora fundamentais para a produtividade dos ecossistemas, podem ter efeito negativo sobre a diversidade em excesso ao favorecer espécies mais competitivas. Além disso, a área e o isolamento de cada tipo de clima são cruciais para explicar quantas espécies conseguem evoluir, se dispersar ou sobreviver nesses ambientes.

Info Nature
Distribuição de espécies pela geografia (acima) e pelo clima (abaixo) (Imagem: Coelho et al., 2023)

Essa perspectiva foi abordada em outro estudo, também liderado por Marco Túlio P. Coelho e com autoria de diversos pesquisadores da UFG, publicado na prestigiada revista Nature. A pesquisa mostrou que cerca de um terço da razão para a grande diversidade de vida nos trópicos não se deve apenas ao fato de serem quentes e úmidos, mas também porque esses tipos de clima cobrem uma vasta área e são realmente isolados, oferecendo um espaço único e vasto para plantas e animais crescerem, mudarem e se tornarem únicos.

Segundo José Alexandre, a UFG, por meio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Ecologia, Evolução e Conservação da Biodiversidade (INCT-EECBio), tem trabalhado com questões relacionadas à teoria metabólica da ecologia e às hipóteses energéticas para explicar padrões de biodiversidade desde 2007.

As lacunas de conhecimento sobre o continente gelado

A atuação da UFG se estende aos extremos do planeta. Pesquisadores da Universidade, como o professor José Alexandre Felizola Diniz-Filho, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e coordenador do INCT-EECBio, colaboraram em um estudo internacional publicado na Science que analisou o nível de conhecimento sobre a biodiversidade da Antártida.

O estudo identificou lacunas cruciais de conhecimento sobre grande parte da diversidade e do funcionamento dos ecossistemas terrestres do continente gelado, apesar de se saber muito sobre vertebrados marinhos que se reproduzem na costa, como pinguins e focas.

A pesquisa enfatiza a necessidade urgente de investir mais em estudos taxonômicos de grupos críticos, monitorar populações e realizar levantamentos regionais em áreas menos exploradas. Os pesquisadores também apontam que é preciso caracterizar traços funcionais e respostas fisiológicas das espécies, além de padronizar métodos de estudo e integrar e tornar os dados mais acessíveis.

A Antártida é um dos poucos territórios quase intocados que restam no planeta, com características ambientais que sustentam uma biodiversidade única, e seus ecossistemas desempenham funções cruciais, como a regulação do clima. Entender como esses ecossistemas estão sendo afetados pelos impactos das mudanças globais é fundamental para a conservação.

"Analisar as lacunas de conhecimento na biodiversidade nos permite identificar prioridades de pesquisa para os próximos anos. No caso da Antártida, é crucial investir em pesquisa taxonômica, monitorar populações, identificar espécies modelo, padronizar os métodos de estudo que usamos e integrar os dados que coletamos. Estas são algumas das medidas que propomos para enfrentar as incertezas que temos sobre este território importante e fascinante", explica Joaquín Hortal, professor colaborador do PPGECOEVOL da UFG e integrante do INCT-EECBio.

 

Pesquisa Antártida

Território quase intocados, Antártida tem características ambientais únicas (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Efeitos das mudanças climáticas na saúde

A UFG também está na linha de frente do monitoramento dos impactos das mudanças climáticas na saúde humana, uma questão de crescente urgência global. A professora Raquel Santiago, da Faculdade de Nutrição (Fanut) da UFG, é coautora dos relatórios do Lancet Countdown, uma iniciativa internacional e multidisciplinar da revista médica The Lancet.

A colaboração reúne 114 cientistas e profissionais de saúde de 52 instituições e agências da ONU para reunir as melhores evidências científicas sobre o tema e oferecer recomendações a gestores governamentais de países de todo o mundo.

 

Lancet

Pesquisadores de instituições de todo o mundo fazem parte da iniciativa da prestigiada revista The Lancet

 

A professora Raquel contribui para a elaboração dos relatórios da América do Sul, América Latina e do Brasil. As edições destacam, por exemplo, a emissão de gases de efeito estufa pela atividade agrícola e a importância de sistemas alimentares mais sustentáveis para o combate à insegurança alimentar e nutricional.

"Além dos impactos nas cadeias de abastecimento, preços de alimentos e perdas econômicas, a mudança climática está aumentando o risco de insegurança alimentar e desnutrição", alerta Raquel.

Além disso, a professora da UFG coordena o Hub Latino-Americano de Saúde Planetária, um grupo que discute e propõe ações relacionadas à proteção à saúde e ao bem-estar humanos em consonância com a proteção dos sistemas naturais da Terra. Uma das ações é a elaboração de uma disciplina de saúde planetária para ser inserida nos currículos de graduação e pós-graduação, garantindo que as futuras gerações estejam preparadas para esses desafios.

 

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Fonte: Secom UFG

Categorias: Meio ambiente Ciências Naturais ICB Fanut