
Projeto conecta alunas da rede pública e pesquisadoras negras
Investiga Menina! já oferece suporte pedagógico a mais de 4 mil estudantes em Goiás
Projeto visa incentivar que meninas, especialmente negras e estudantes de escolas públicas, sigam carreiras em ciência e tecnologia (Fotos: Evelyn Parreira)
Anna Paulla Soares
Na sexta-feira (29/8), ocorreu a 4ª Vivência Intercultural em Produção de Ciências do Investiga Menina de 2025 no Núcleo de Pesquisa e Ensino de Ciências (Nupec) da Universidade Federal de Goiás (UFG), localizado no Câmpus Samambaia. A iniciativa busca incentivar que mais meninas, especialmente negras e estudantes do ensino básico público, se interessem e sigam carreiras nas áreas de ciências exatas e tecnologia.
Anna Canavarro Benite coordena o projeto de pesquisa e extensão da UFG
De acordo com a coordenadora do projeto de pesquisa e extensão, Anna Canavarro Benite, professora no Instituto de Química (IQ) da UFG, “o projeto discute educação para as relações étnico-raciais e promoção da igualdade racial como um eixo transdisciplinar, mas, sobretudo, ensina ciências exatas a partir da contribuição de mulheres cientistas negras brasileiras”.
A grande missão do projeto é levar pesquisadoras negras contemporâneas para dentro das escolas, ou trazer estudantes para conhecê-las nas dependências da Universidade, como ocorreu nesta edição. “Essas mulheres estão vivas e existem no mesmo espaço-tempo geográfico das estudantes e elas podem ir à escola para contar de suas pesquisas”, afirmou a docente. As pesquisadoras apresentam suas pesquisas, explicam o impacto de seu trabalho e dialogam diretamente com as alunas.
Kheytiany Hellen do INPP foi a convidada da edição contando sua trajetória na ciência
Nesta edição, a convidada foi a professora Kheytiany Hellen da Silva Lopes, membro do Instituto Nacional de Pesquisas do Pantanal (INPP), que contou sua trajetória na carreira científica, saindo de uma escola pública na periferia de Cuiabá (MT) e alcançando o mais alto título acadêmico - o doutorado (PhD).
“A necessidade move a gente, a nossa luta move a gente”, afirmou a pesquisadora sobre as dificuldades encontradas pelo caminho, principalmente por ser uma mulher negra e periférica. Além de inspirar as adolescentes com sua história de vida e carreira, Kheytiany, que trabalha com produtos naturais desde sua graduação em Química, deu diversas dicas sobre autocuidado e a utilização dos produtos naturais como aliados na melhoria da saúde emocional.
“Vendo de onde ela veio e onde ela está hoje, a gente consegue perceber que não é impossível alcançar nossos sonhos. Ela nos deu uma outra visão sobre o mundo, em que a vida não é só o ciclo que a gente vive, mas um mundo enorme onde a gente pode sair e explorar”, relatou a adolescente Ana Clara Jubé, de 16 anos, que cursa o segundo ano do ensino médio no Colégio Estadual da Polícia Militar Dr. Belém, em Bela Vista de Goiás.
Após a palestra, as estudantes passaram por uma experiência científica imersiva, ao participarem de um experimento supervisionado no Laboratório de Ensino de Química do NUPEC.
Experimento supervisionado realizado durante o evento
Mudando o “rosto da ciência”
Ao substituir o ensino tradicional, geralmente baseado em referenciais eurocêntricos e masculinos, por uma abordagem que dá protagonismo a mulheres cientistas vivas, que atuam no Brasil, o Investiga Menina! traz representatividade. A professora Leidiane Marinho, que leciona Química para o ensino básico em uma escola de rede privada em Goiânia, passou a integrar a equipe do Investiga em janeiro deste ano. Para ela, a importância do projeto é dar visibilidade àqueles que se sentem invisíveis na sociedade. Ela completa: “É mostrar para as pessoas que elas podem e devem ocupar esses lugares, mas para isso a gente precisa mexer muito cedo, na formação inicial básica da criança e do adolescente, para mostrar que meninas também são capazes de serem cientistas, de entrarem na carreira de ciências”.
Os resultados já são visíveis: as ex-alunas da educação básica que participaram da iniciativa, hoje, já formadas em cursos de ciência e tecnologia, retornam como cientistas convidadas.
Suporte efetivo
Além de oferecer um acompanhamento pedagógico com suporte regular nas disciplinas de exatas dentro da sala de aula nas instituições parceiras, o projeto também distribui cerca de 50 bolsas de iniciação científica com recorte de gênero e raça, destinadas a meninas negras, para que possam iniciar sua trajetória na pesquisa científica. Ademais, o auxílio da bolsa para além do amparo financeiro, permite que as estudantes estejam dentro da Universidade, sendo cada vez mais estimuladas pelas possibilidades que as cercam nesse ambiente.
A equipe do Investiga Menina! envolve uma rede de aproximadamente 100 pessoas, incluindo estudantes de graduação e pós-graduação da UFG, do Instituto Federal de Goiás (IFG) e da Universidade Federal de Jataí (UFJ), e ainda conta com o apoio do grupo de mulheres negras Dandara no Cerrado e de diversas escolas públicas do Estado de Goiás.
Atualmente, o projeto atende cerca de 4 mil estudantes em sete escolas públicas. Além da capital, as ações abrangem cidades como Anápolis, Senador Canedo, Aparecida de Goiânia e Jataí.
Recentemente, o principal financiador do projeto tem sido o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio de editais de fomento a meninas e mulheres nas ciências. O projeto também obteve recentemente aprovação em novos editais da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) e do próprio CNPq, o que, segundo a coordenadora da iniciativa, vai permitir que as atividades de iniciação científica atinjam um número cada vez maior de meninas da escola básica.
Você pode acompanhar o trabalho do projeto através do @investigamenina no Instagram.
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Fonte: Secom UFG
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