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Universidade Federal de Goiás
Angelita Pereira de Lima

Sem Cerrado, não há Amazônia

Em 16/09/25 16:46. Atualizada em 16/09/25 16:47.

COP30 é a chance de reconhecer a interdependência entre os biomas e criar o Instituto Nacional do Cerrado

 

Cerrado

Do Cerrado dependem as bacias Amazônica, do São Francisco, do Prata e do Tocantins-Araguaia (Foto: Leopoldo Silva)

 

Angelita Pereira de Lima
Rozana Reigota Naves
Carlos Henrique de Carvalho

Em novembro, quando Belém receber a COP30, o mundo estará voltado para a Amazônia. É justo que seja assim. Contudo, se restringirmos o debate apenas ao bioma amazônico, perderemos a oportunidade estratégica de pensarmos o Brasil em sua totalidade ecológica.

Não haverá Amazônia sem Cerrado – e sem uma visão integrada, não haverá liderança climática brasileira. Por isso, as universidades localizadas no Cerrado defendem a criação do Instituto Nacional do Cerrado (INC), como unidade de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

O Cerrado é o berço das águas da América do Sul – de suas nascentes dependem as bacias Amazônica, do São Francisco, do Prata e do Tocantins-Araguaia. É a savana mais biodiversa do planeta e lar de povos indígenas, comunidades quilombolas, geraizeiras e ribeirinhas que há séculos manejam o bioma de forma sustentável. Ao mesmo tempo, é também o bioma mais pressionado do país: metade de sua área já foi convertida, apenas 8% estão protegidos e, em 2024, o desmatamento na região voltou a ser o maior entre os biomas brasileiros.

O Cerrado e a Amazônia são um contínuo ecológico, social e climático. A evapotranspiração amazônica alimenta os chamados "rios voadores", que garantem chuva no Centro-Oeste. O desmatamento, por sua vez, enfraquece esse mecanismo, afetando diretamente a agricultura e a disponibilidade hídrica. O balanço de carbono segue a mesma lógica: as emissões do Cerrado já neutralizam parte da absorção da floresta amazônica. Ignorar essa interdependência é perder metade da história – e metade da solução.

As ameaças são evidentes; também o são as oportunidades. Estudos recentes mostram que os milhões de hectares de pastagens degradadas no Cerrado são capazes de acomodar a expansão agrícola sem novos desmatamentos. A recuperação dessas áreas pode aumentar a produtividade e restaurar a vegetação. Além disso, programas de pagamento por serviços ambientais e o mercado regulado de carbono já em implantação criam um ambiente econômico favorável para remunerar quem conserva. O agronegócio pode e deve ser parte dessa virada.

A criação do INC, tendo por referência a articulação entre ciência e sociedade, irá orientar agendas de pesquisa sobre biodiversidade, água e clima; fomentar o desenvolvimento de tecnologias adequadas ao bioma; reduzir assimetrias sociais e regionais por meio da bioeconomia e da agroecologia; e apoiar a formulação de políticas públicas com base em evidências. Mais que uma defesa ambiental, trata-se de estratégia nacional: alinhar conservação, segurança alimentar, inovação e bem-estar coletivo.

 

Angelita Pereira de Lima é reitora da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Rozana Reigota Naves é reitora da Universidade de Brasília (UnB).

Carlos Henrique de Carvalho é reitor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

 

Este artigo foi originalmente publicado na Folha de S.Paulo.

The Conversation

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Fonte: Reitoria

Categorias: artigo Ciências Naturais Reitoria