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Universidade Federal de Goiás
Capa turismo

Goianos viajaram menos em 2024, mostra IBGE

Em 09/10/25 18:05. Atualizada em 09/10/25 18:06.

Um dos motivos pode ter sido o aumento nos preços dos combustíveis

 

Rodoviária

Passageiros em trânsito na Rodoviária de Goiânia: uma proporção menor de goianos viajou em 2024 (Foto: Rodoviária de Goiânia)

 

Edson Roberto Vieira
Antônio Marcos de Queiroz

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Turismo (Pnad-C Turismo), mostrando que houve uma ligeira queda na proporção de domicílios do país em que pelo menos um morador declarou ter viajado em 2024 (19,3%) em comparação com 2023 (19,8%). Em Goiás, a redução dessa proporção foi mais acentuada do que a nacional, passando de 20,8% em 2023 para 18,1% em 2024 (queda de 2,7 pontos percentuais).

A análise feita com base no número de viagens revela uma queda ainda maior em Goiás na comparação com o Brasil. No estado, os moradores dos domicílios realizaram 634 mil viagens em 2024, contra 727 mil em 2023, registrando um recuo de 12,8% no período. Já no país, esse número permaneceu praticamente estável, com uma ligeira queda de 0,12%, tendo sido realizadas cerca de 20,6 milhões de viagens em ambos os anos analisados.

A pesquisa mostrou que a maior parte (85,5%) das viagens dos brasileiros em 2024 foi por finalidade pessoal, especialmente para lazer (39,8%), com destaque para as praias, seguidas por visitas ou eventos de familiares e amigos (32,2%). As viagens por motivos profissionais representaram 14,5%, tendo como principal motivação (82,7%) os negócios e o trabalho. Em Goiás, as viagens por motivos pessoais foram relativamente mais significativas do que no país, registrando 90,0% do total, contra 10,0% por motivos profissionais. Contudo, no estado, as visitas ou eventos de familiares e amigos (38,4%) superaram as viagens especificamente por lazer (29,5%), ao contrário do que ocorreu no país como um todo. Muitas pessoas também têm viajado para tratamento de saúde ou consulta médica, que foi o terceiro motivo apontado tanto no Brasil (20,1%) quanto em Goiás (24,4%).

Analisando os motivos da queda na proporção de domicílios com viagens em 2024, verifica-se que a questão financeira pesou mais na decisão das pessoas. No Brasil, muito embora o número de viagens em 2024 tenha sido praticamente igual ao de 2023, os gastos totais das famílias com viagens aumentaram 11,7%, passando de R$ 20,4 bilhões para R$ 22,8 bilhões entre esses dois anos. Seguindo a mesma perspectiva nacional, em Goiás a principal razão para a não realização de viagens pelas famílias foi a indisponibilidade de dinheiro suficiente: 35,3% dos moradores dos domicílios goianos disseram que não viajaram por questões financeiras, 24,3% por falta de tempo, 18,1% por não ter necessidade, 7,9% por não ser prioridade, 3,4% por motivos relacionados à saúde e 1,9% por outros motivos.

Quando se analisa a distribuição percentual das viagens realizadas pelos meios de transporte utilizados, verifica-se que, tanto no Brasil (50,7%) quanto em Goiás (59,6%), as viagens realizadas com carro particular e/ou de empresa são as mais relevantes, em comparação com aquelas realizadas de avião (14,7% no Brasil e 13,1% em Goiás) e por ônibus de linha (11,9% no Brasil e 11,8% em Goiás).

Essa distribuição dos principais meios de transporte ajuda a entender melhor a queda no número de viagens entre 2023 e 2024, especialmente em Goiás, onde a variação negativa foi bem maior do que a nacional. Analisando os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE, verifica-se que os preços dos combustíveis aumentaram muito mais em Goiânia no acumulado de 2024 em comparação com a média nacional. O preço do etanol aumentou 25,98% e o da gasolina, 14,28% na capital goiana no ano passado, ao passo que a variação nacional desses dois combustíveis foi, respectivamente, de 17,58% e 9,71%.

Isso explica também uma boa parte do movimento contrário entre os gastos com viagens e a proporção de viagens, ou seja, com os primeiros aumentando e a última diminuindo. A falta de dinheiro figurou na primeira posição entre os motivos apontados pelas pessoas que não realizaram viagens em 2024, o que parece ter sido impactado pelo aumento dos preços dos combustíveis, que não apenas elevou os custos das viagens, como também reduziu a renda disponível para tanto.

Há de se considerar também que os preços de itens alimentares muito consumidos pela população aumentaram muito mais do que o índice geral de inflação em Goiânia. Muito embora o índice geral do IPCA em Goiânia tenha fechado em 5,56% em 2024, o aumento mais acentuado dos preços de produtos essenciais, como carnes e outros itens alimentares, certamente reduziu o espaço para gastos não fundamentais, como as viagens – especialmente as de lazer e para visitar amigos, que são as mais realizadas.

Os conceitos de elasticidade-preço da demanda e elasticidade-renda da demanda merecem ser lembrados aqui. O primeiro reflete em números a relação inversamente proporcional entre a demanda de um bem e o seu preço, que é evidenciada para a maioria dos bens, com exceção daqueles que os economistas chamam de Bens de Giffen – cuja demanda aumenta quando o preço sobe. Ou seja, o aumento dos preços dos combustíveis elevou os custos das viagens, reduzindo sua demanda.

No caso da elasticidade-renda da demanda, vale a pena chamar a atenção para três classificações dos bens relacionadas a essa elasticidade. A primeira delas é composta pelos chamados "bens normais", que são aqueles cuja demanda aumenta quando a renda dos consumidores sobe e vice-versa; a segunda abrange os bens inferiores, que geralmente são bens de qualidade inferior, para os quais a demanda cai quando a renda dos consumidores aumenta e sobe quando essa renda cai; e a terceira refere-se aos bens superiores, ou de luxo, classificados como tais porque sua demanda aumenta (ou cai) proporcionalmente mais do que o aumento (redução) da renda dos consumidores.

Dado que a maioria das viagens em Goiás acaba sendo feita por motivos não essenciais, como lazer e visitas a parentes e amigos, talvez essas viagens possam ser classificadas como bens superiores. Se isso for verdade, pode ser que a redução mais intensa da demanda por viagens tenha relação estreita com a diminuição da renda disponível das famílias para esse fim, em decorrência dos aumentos dos preços de bens essenciais, como combustíveis e itens alimentares consumidos em casa.

 

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás, n. 184, setembro de 2025.

 

Edson Roberto Vieira e Antônio Marcos de Queiroz são professores da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas (FACE) da UFG.

 

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Fonte: FACE

Categorias: colunistas Humanidades FACE