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Universidade Federal de Goiás
corrida ao ar livre

Violência urbana afeta prática de atividade física, aponta pesquisa da UFG

Em 20/10/25 08:40. Atualizada em 20/10/25 10:38.

Barreiras socioeconômicas também afastam brasileiros da prática de atividade física

corrida ao ar livreMedo da violência urbana acaba contribuindo para o sedentarismo (Imagem: Freepik)

 

Eduardo Bandeira

Correr, pedalar ou caminhar em parques e ruas de cidades brasileiras deixou de ser apenas um hábito saudável. Para muitos, tornou-se um risco. A pesquisa conduzida pelo professor Cláudio Barbosa de Lira, da Faculdade de Educação Física e Dança da Universidade Federal de Goiás (UFG), investigou a relação entre violência urbana e sedentarismo, revelando a complexa interação entre insegurança, desigualdade social e saúde pública. O estudo foi publicado no Human Kinetics Journal.

O estudo nasceu a partir de episódios recentes que chocaram o país: o assassinato de um ciclista no Parque do Povo e a agressão a uma senhora enquanto corria, ambos em São Paulo. Para o professor Cláudio, esses casos reforçam que a violência urbana é uma barreira concreta à prática de atividade física, especialmente para aqueles que não têm acesso a espaços fechados e seguros.

Segundo o estudo, além da violência, outras barreiras impactam a adesão à atividade física. Falta de tempo, presença de doenças, ausência de companhia, condições socioeconômicas ou simplesmente não gostar de se exercitar estão entre as justificativas mais citadas. Mas a insegurança se sobressai: “Ninguém gostaria de arriscar sua segurança em prol de ter uma rotina fisicamente ativa”, explica o pesquisador. Essa percepção cria um círculo vicioso, no qual pessoas inativas tendem a se afastar ainda mais do exercício, enquanto as ativas podem mudar de local ou abandonar suas rotinas.

De acordo com o pesquisador, o impacto da violência e da inatividade não é uniforme. Pessoas de classes sociais mais baixas estão mais expostas a episódios violentos e apresentam menores níveis de atividade física. Mulheres, por sua vez, são particularmente afetadas. Pesquisas apontam que 85% das corredoras de rua de Porto Alegre já desistiram de treinar por não se sentirem seguras. “É indubitável que esses acontecimentos geram medo. A violência urbana influencia diretamente quem pratica ou deseja praticar exercícios, especialmente em espaços ao ar livre”, afirma Cláudio.

Políticas públicas

A pesquisa também destaca a importância da atividade física para pessoas com deficiências ou condições clínicas específicas. Para esses indivíduos, o exercício é essencial à reabilitação. Alguns, com aptidões específicas e acesso a centros especializados, tornam-se atletas paralímpicos. Esse ponto evidencia que a prática física não pode ser encarada como mera escolha: ela é um direito, uma necessidade e uma forma de inclusão social.

Para enfrentar esses desafios, Cláudio defende a criação de políticas públicas de médio e longo prazo, concebidas como projetos de Estado e não apenas de governo. Entre as medidas sugeridas estão educação de qualidade desde a infância, criação de espaços públicos seguros e bem equipados, valorização das forças policiais, acesso a emprego e renda, e programas orientados por profissionais de educação física, distribuídos de forma igualitária entre bairros centrais e periféricos. Espaços planejados e seguros, inclusive com acompanhamento profissional, podem transformar a experiência do exercício, garantindo que a população se sinta acolhida e protegida.

O professor alerta ainda para a necessidade de transparência e visibilidade sobre a violência urbana. Ignorar os casos ou deixá-los de fora das discussões públicas equivaleria a empurrar o problema para debaixo do tapete. “Não podemos ignorar os casos de violência. A não divulgação seria apenas uma forma de silenciar um problema real. Precisamos olhar para ele de frente e construir condições para que todos possam ser fisicamente ativos de forma segura e digna”, conclui.

A pesquisa evidencia que saúde, segurança e equidade caminham lado a lado: "Transformar cidades em espaços seguros para o movimento humano não é apenas uma questão de bem-estar individual. É uma questão de justiça social, impactando diretamente a vida de milhares de brasileiros que buscam melhorar sua saúde, conquistar autonomia e viver com dignidade", ressalta o pesquisador.

 

Confira aqui o estudo publicado.

 

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Fonte: Secom UFG

Categorias: espaços públicos violência urbana sedentarismo Notícia 3 FEFD