Não há paz sob os escombros de Gaza
Ao não atacar as causas das desavenças, conflito entre Israel e Palestina não terá fim

Longe do fim: família palestina caminha em meio a escombros em Gaza (Foto: Ibraheem Abu Mustafa/Reuters)
Romualdo Pessoa Campos Filho
Por dois anos acompanhamos, em tempo real, um massacre sobre a população civil em Gaza. A ação, que explodiu a partir de um ataque terrorista do Hamas contra a população israelense, no intuito de aprisionar civis que serviriam como base de troca por palestinos presos por Israel, transformou-se numa carnificina, que resultou em mais de mil mortos e centenas de pessoas sequestradas. Justificando o direito de defesa, o governo de Israel desencadeou uma ofensiva violenta que resultou em mais de 60 mil mortos – número que deve ser muito maior, visto que sob os escombros de Gaza centenas de corpos apodrecem sem que sejam contabilizados.
Mas é simplista temporalizar em dois anos um conflito que dura mais de sete décadas, a partir da criação do Estado de Israel. Historicamente podemos retroceder mais no tempo, ao fim da Primeira Guerra Mundial, quando o Império Turco-Otomano, derrotado, viu seus domínios no Oriente Médio serem divididos entre os países vitoriosos, Inglaterra e França.
Com a Segunda Guerra Mundial, a região passou a ser influenciada pela União Soviética. Para conter esse avanço, restou aos britânicos, junto com os EUA, apoiar a criação de Israel, como estratégia para que essa região não saísse do controle do Ocidente, pelo que ela possui de riquezas em seu subsolo (petróleo e gás).
Se acrescentássemos os elementos religiosos que envolvem as três maiores religiões – o cristianismo, o judaísmo e o islamismo –, vagaríamos então por séculos de confrontos que fazem dessa região um dos maiores palcos de guerras do mundo.
Não é simples entender o que acontece no solo considerado sagrado por essas três religiões. Mas, a partir dos interesses estratégicos do Ocidente, a perversão de como passou a ser tratado o povo palestino dá a indicação de que, por trás das encenações de paz, há muito mais a se compreender sobre o massacre genocida transmitido em tempo real.
A dificuldade maior em se compreender a realidade da quase completa destruição de Gaza está na forma como a mídia ocidental traz as informações, tratando a população palestina como "terrorista". A mídia equipara pessoas – as que vivem suas vidas cotidianas oprimidas pelo Estado de Israel – a combatentes que, mesmo que por formas inaceitáveis, lutam contra um poder bélico enorme (maior ainda quando há o suporte dos EUA). Esse olhar sobre o povo palestino cria um estigma que se espalha por boa parte do mundo, quase que a justificar uma reação desproporcional e criminosa de Israel.
Ao não atacar as causas das desavenças, esse conflito não terá fim. É preciso reconhecer o Estado da Palestina, refazendo o traçado, reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1947, do território palestino e israelense. Se isso não for feito, a paz será apenas um arremedo de interesses econômicos e estratégicos sobre um solo devastado, em meio a escombros, onde se espalham, sem que possam ser encontrados, corpos de crianças, mulheres e idosos palestinos, de famílias inteiras que apenas desejavam viver tranquilos em seu território, como um Estado-Nação.
Romualdo Pessoas Campos Filho é professor titular aposentado do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Este artigo foi originalmente publicado em O Popular.
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Fonte: IESA
Categorias: artigo Humanidades IESA






