 
  
  Conheça o projeto que há 25 anos conecta universidade e comunidade pelo esporte
Iniciativa da Faculdade de Comunicação e Informação soma mais de 1,5 mil transmissões e contribui para a formação de jornalistas
 
Mariana Xavier*
Em 2025, o projeto de extensão Doutores da Bola completa 25 anos de atuação. Ao longo dessa trajetória já rolou muito jogo – de cintura e de transmissão esportiva. O projeto foi idealizado por Ana Lúcia Jardim, como parte do seu Trabalho de Conclusão de Curso no ano 2000, orientado pelo professor da Faculdade de Comunicação e Informação (FIC) da Universidade Federal de Goiás (UFG) Nilton José dos Reis Rocha. E o que começou com uma reunião entre orientador, orientanda e dois técnicos da então Rádio Universitária (hoje Rádio UFG) – Wilmar Ferraz e Aurelivaldo Ferreira, o Loró – se tornou um dos projetos de extensão mais longínquos da Universidade.
Hoje o Doutores da Bola é responsável por transmissões esportivas na Rádio UFG, por meio do Streaming 2, e também no canal do YouTube. Mas nem sempre foi assim. Ao longo desses 25 anos, o Doutores da Bola já passou por muitas fases: de coberturas esportivas em estádios, como a primeira transmissão realizada – um jogo entre Goiás e Cruzeiro pela Série A do Campeonato Brasileiro, a jogos em campos de bairros periféricos; da programação geral da então Rádio Universitária ao Streaming 2 e o suporte da internet; por linhas fixas de telefonia ao Wi-Fi.
Muita coisa mudou. Menos a vontade dos estudantes de continuar o jogo. "Os próprios alunos contribuem para isso. Eu sou só um mediador, mais do que orientador ou coordenador do projeto. É da parte deles que surgem as ideias", diz o professor Ricardo Pavan, coordenador do Doutores há 13 anos.
Renata Akatsu, hoje jornalista formada pela UFG, lembra das mudanças que o Doutores da Bola enfrentou e que mudaram, também, a sua graduação. "Na época era pandemia, não era o formato atual do Doutores. Era num estilo meio podcast, a gente escrevia boletim, gravava, juntava tudo e no final era um programa de uma hora. E ia ao ar na rádio".
Na segunda metade de 2022, voltaram as transmissões esportivas, dessa vez no Streaming 2 da plataforma de rádio e também transmitido pelo YouTube, por iniciativa dos alunos. "Eu acho que isso [a mudança nos locais de transmissão] foi muito importante para que crescesse como projeto e principalmente aprendesse a lidar com as dificuldades e com os problemas que a gente alcança no meio do caminho", complementa Renata.
Vitor Monteiro, participante do Doutores entre 2012 e 2016, ingressou no projeto em um período de greve na Universidade e relembra os desafios em manter a constância das transmissões nesse período: "Às vezes fazia um jogo a cada 15 dias, uma transmissão em 20 dias, uma semana dava certo, depois ficava duas semanas sem ter nada. Então estávamos muito reféns disso".
 
Aumento das transmissões
Ao todo, o Doutores da Bola já realizou mais de 1,5 mil transmissões ao longo de sua trajetória, o que representa cerca de 61 transmissões por ano. No entanto, só após a segunda metade de 2022, cerca de 300 transmissões já foram realizadas, o que configura cerca de 100 transmissões anuais.
Embora todos os integrantes do projeto vejam o crescimento no número de transmissões realizadas com grande entusiasmo, o professor Ricardo Pavan reforça que o objetivo é, acima de tudo, o aprendizado: "Temos alunos super capazes de fazer isso em um padrão quase profissional, embora o objetivo maior seja o aprendizado".
Para Vitor Monteiro, hoje jornalista esportivo e criador da página Esporte Goiano, a experiência adquirida no Doutores da Bola foi fundamental para sua carreira. "É a base, é a oportunidade que você tem para experimentar uma coisa nova, colocar novas ideias em prática e se mostrar, ganhar confiança e paciência. Claro, desenvolver uma autocrítica sua e com os colegas. Aprender sobre cobranças, mas com respeito, porque muitas vezes, entrando no mercado, a galera não tem muita paciência. Então você vai conseguindo aprimorar tudo isso".
 
Participação feminina
Uma preocupação crescente na história do Doutores da Bola foi a participação feminina na equipe. Embora tenha sido fundado por Ana Lúcia Jardim, o projeto já passou por períodos de esvaziamento da participação de mulheres nas transmissões.
"Quando eu cheguei também tinha uma única menina no meio de 13 e 14 meninos. Ela praticamente só fazia uma função de comentar e mais nada. Então não abria espaço e eu não encontrava nenhum meio de incluir mais o público feminino", relembra Ricardo Pavan. Um trabalho desenvolvido pela então estudante Núbia Alves – o audiodocumentário Doutoras da Bola – chegou a abordar a falta de inclusão feminina nas dinâmicas do projeto e também no uso de termos misóginos pela equipe. Segundo o professor, as críticas foram fundamentais para o crescimento e amadurecimento do grupo.
Para Renata, que além de participante do projeto durante toda a graduação atuou como monitora do Doutores, ainda existem muitos desafios na equidade de gênero dentro do jornalismo esportivo. "Sempre vai ter aquele receio de 'ah, eu tenho certeza que se um homem estivesse falando o que eu estou falando, ele não seria julgado', mas que nós como mulheres acabamos sendo, dependendo da nossa opinião e da nossa análise".
No entanto, o legado de outras mulheres que a antecederam no projeto lhe trouxe mais segurança para experimentar diversas áreas dentro das transmissões. "Eu acho que, como eu entrei no projeto depois de uma monitora mulher, que foi a Amanda, ela sempre foi um um exemplo para mim em questão de organização, em questão da forma como ela lidava com tudo".
 
Extensão
Vitor narra que uma das experiências mais marcantes que teve enquanto participante do Doutores da Bola foi uma viagem para Londrina, em 2015, para a transmissão do primeiro jogo da final da Série C. Ele reforça o papel que a extensão teve nesse processo de conectar a equipe com as comunidades. "Quando você vai para outra cidade, seja no interior ou outro estado, e começa a falar do projeto, o pessoal fica encantado, perguntando 'poxa, vocês são estudantes, que legal, um projeto da Universidade, como funciona isso?'".
Para Renata, essa mobilidade da extensão, de ultrapassar as fronteiras da Universidade, é essencial para o processo de aprendizagem. "Eu acho que esse é um dos principais papéis da extensão. É você conseguir vivenciar aquilo que está vendo na sala de aula de uma forma dinâmica, tendo contato com a sociedade, com profissionais do mercado, com pessoas que vão consumir aquilo tudo que você está produzindo".
O professor Ricardo Pavan destaca também a importância do diálogo da prática extensionista com o conteúdo aprendido em matérias teóricas, reforçando as bases do tripé da Universidade: ensino, pesquisa e extensão.
A pró-reitora adjunta de Extensão e Cultura da UFG, professora Adriana Régia, ressalta que as ações de extensão são a manifestação da totalidade do que é produzido na Universidade em uma relação de troca de saberes com os diferentes setores e grupos sociais, e reforça a importância das raízes formadas pelo Doutores da Bola. "Os projetos de extensão são a prova dessa parceria com a sociedade e alguns se destacam por sua longevidade, sempre atuando em prol das comunidades em que estão enraizados, mas também na formação dos nosso alunos".
*Mariana Xavier é estagiária do curso de Jornalismo da FIC/UFG, orientada pela jornalista Kharen Stecca.
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Fonte: Secom UFG
Categorias: Doutores da Bola Humanidades Fic Especial Notícia 1
 
    





