Queremos redes elétricas subterrâneas?
Redes de distribuição aéreas compactas seriam mais adequadas à realidade brasileira
Igor Kopcak
Semanas atrás, Goiânia recebeu sua primeira forte chuva que, sem surpresa, expôs os velhos problemas de infraestrutura que acometem nossa cidade. A alegria pelo fim da seca foi substituída pelo temor, devido a vias tomadas pelas enxurradas, a queda de árvores, e a interrupções do fornecimento de energia elétrica. Fatalmente, o dia foi marcado pela perda de uma jovem, que sofreu um choque elétrico ao atravessar a rua, na qual havia caído um cabo rompido e energizado.
Em meio à desolação, à sensação de impotência e ao jogo de empurra quanto às responsabilidades, surgem vozes pedindo pelo enterramento das redes de energia elétrica. De fato, as redes subterrâneas são mais robustas e seguras. São quase imunes às intempéries, à intervenção humana e ao manejo inadequado da arborização. Parece a solução perfeita.
No entanto, chama a atenção que o tema apareça desvinculado de qualquer debate ou, se esse existe, que não se saiba quem o conduz e em quais fóruns. Curiosamente a Enel, em parceria com o Senai-GO, criou um belo centro de formação de eletricistas e eletrotécnicos para instalação e manutenção de redes subterrâneas, mas, enquanto esteve à frente da Celg, não instalou um centímetro que seja desse padrão de distribuição de energia nas vias públicas.
Em 2023, o Conselho de Consumidores de Energia Elétrica do Estado de Goiás solicitou um parecer sobre um processo legislativo que estava em tramitação na Assembleia Legislativa. No processo, o relator havia incluído a seguinte emenda: obrigar a concessionária a "implantar sistema de rede subterrânea de cabeamento para a prestação dos serviços de distribuição de energia elétrica, em substituição às redes aéreas, de baixa e média tensão, existentes em vias públicas".
A proposta pareceu ignorar diversas questões, como (a) os custos quase proibitivos da distribuição subterrânea de energia, que seriam repassados integralmente às tarifas pagas pelos goianos; (b) a inexistência de coparticipação das operadoras de comunicação, cujos cabos compartilham dos mesmos postes da rede elétrica e são os principais responsáveis pela poluição visual urbana; (c) a ausência de coordenação com a Saneago, cujas redes de água e esgoto já ocupam o subsolo; (d) e a indiferença quanto à capacidade de as prefeituras assumirem integralmente o posteamento para instalação da iluminação. Nosso parecer sugeriu o veto à emenda aprovada na Alego, e este foi o desfecho da matéria.
Mas há alternativa. As redes de distribuição aéreas compactas são mais adequadas à realidade brasileira. Agregam desempenho e segurança superiores, com custos equiparáveis aos das redes aéreas convencionais. Quanto a isso, as concessionárias estão atrasadas em cerca de 30 anos, visto que as penalidades aplicadas pelas agências de regulação não têm motivado investimentos.
A degradação dos indicadores de qualidade pode nos conduzir a um ponto de inflexão em que a sociedade seria forçada a assumir os investimentos em redes subterrâneas. Algo semelhante ocorreu com nossas rodovias. Após décadas de descaso, elas foram reconstruídas com as melhores técnicas de engenharia e dinheiro público, mas a intenção foi entregá-las à gestão privada. A história ensina. Estejamos ligados.
Igor Kopcak é doutor em Sistemas de Energia Elétrica e professor da Escola de Engenharia Elétrica, Mecânica e de Computação (EMC) da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Este artigo foi originalmente publicado em O Popular.
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Fonte: EMC
Categorias: artigo Ciências Naturais EMC






