Estudo revela sub-representação de pesquisadores negros na ciência do esporte
Apenas 1,3% dos autores em publicações de destaque são negros; desigualdade é ainda maior entre mulheres
Luiz Felipe Fernandes
Apenas 1,3% dos autores de artigos científicos na área da ciência do esporte são negros. Entre eles, menos de 1% assinam como primeiro ou último autor – posições que indicam liderança no estudo. A presença de mulheres negras é ainda mais reduzida: apenas 0,34% foram identificadas como autoras negras.
A constatação é de um estudo liderado pelo professor Claudio Andre Barbosa de Lira, da Faculdade de Educação Física e Dança da Universidade Federal de Goiás (Fefd/UFG), e publicado no British Journal of Sports Medicine. O trabalho analisou 1.737 artigos e 11.158 autores das quatro revistas científicas de maior impacto no campo entre 2018 e 2022.
Para Lira, o problema é estrutural e afeta a própria qualidade da ciência. "A diversidade racial e étnica não é apenas uma questão de justiça social, mas também de qualidade científica. Diferentes perspectivas enriquecem a produção do conhecimento".
O estudo alerta para o risco de que jovens negros deixem de enxergar a carreira acadêmica como uma possibilidade. "Você não pode ser aquilo que você não consegue ver", resumem os pesquisadores no artigo.
Racismo sistêmico
Em comparação com a população global, em que cerca de 1,3 bilhão de pessoas (aproximadamente 17%) se identificam como negras ou de ascendência africana, os resultados do estudo sublinham uma significativa sub-representação de pesquisadores negros na ciência do esporte e medicina esportiva.
Embora a pesquisa tenha observado um aumento na proporção total de autores negros entre os períodos de 2018 a 2020 e de 2021 a 2022 (de 0,85% para 2,01%, um aumento de 1,16%), a taxa de crescimento foi substancialmente menor para as posições de primeiro (0,13%) e último autor (0,63%).
Os autores sugerem que a sub-representação pode ser atribuída a várias explicações, incluindo o racismo sistêmico no ambiente acadêmico. Fatores como a progressão limitada de estudantes negros aos níveis mais altos da formação acadêmica, que os impede de se tornarem autores de artigos científicos, e a dificuldade em obter posições de pesquisa sênior devido a fatores como "viés de afinidade" (onde figuras sêniores tendem a orientar indivíduos que refletem suas características) contribuem para o problema.
Além disso, barreiras como o idioma inglês, considerado a "linguagem da ciência", e a falta de financiamento para pesquisadores de países de baixa e média renda também dificultam a publicação em revistas de alto impacto, especialmente devido aos altos custos de publicação (APCs).
Ciclo persistente
Ao investigar causas e consequências da exclusão, o artigo aponta um ciclo persistente: menos referências levam a menor senso de pertencimento, o que resulta em menos pesquisadores e menor impacto científico.
Os autores defendem a adoção de políticas institucionais, ações afirmativas na pós-graduação, programas de mentoria e incentivo explícito à diversidade racial na composição de equipes de pesquisa. "Editoras científicas, agências de fomento e universidades devem implementar iniciativas para reduzir a lacuna de representação entre grupos minoritários", apontam.
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Fonte: Secom UFG
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