Pesquisa avalia efeitos de herbicidas no sistema reprodutor masculino
Estudos em animais mostram danos na qualidade espermática em caso de uso indiscriminado do produto
Kharen Stecca
O uso de herbicidas é uma realidade presente na agricultura que permite aumento da produtividade com o controle de pragas, mas é preciso muito cuidado na hora da aplicação desses produtos. Um herbicida específico, comercialmente distribuído no Brasil, tem sido amplamente utilizado para o controle de plantas que competem com culturas como milho e algodão. A aprovação desse produto no Brasil ocorreu em 2022, sendo sua principal utilização na América Latina, com planos de expansão para a China em 2025. Esse produto comercial consiste na mistura de dois herbicidas: o S-metolacloro e a flumioxazina.
Até o presente momento os estudos científicos ainda são escassos, em especial os que avaliam efeitos na reprodução masculina. Os poucos artigos disponíveis relatam efeitos no sistema reprodutor, especialmente na prole de animais tratados. Com a mistura dos dois princípios ativos, a pesquisa atual é considerada uma das primeiras a investigar seus impactos, evidenciando uma lacuna significativa no conhecimento sobre seus potenciais efeitos.
Nesse contexto, a pesquisa conduzida por Renata Karine de Carvalho, pós-doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás (ICB/UFG), visa preencher essa lacuna. O estudo avalia os efeitos da exposição a diferentes doses do herbicida composto por S-metolacloro e flumioxazina, especificamente no sistema reprodutivo masculino em ratos.
Os resultados obtidos até o momento sugerem que, embora não tenham sido observadas alterações macroscópicas na estrutura ou massa dos tecidos reprodutivos, nem nos níveis hormonais, a análise microscópica revelou defeitos significativos na morfologia dos espermatozoides. "Esses defeitos foram mais pronunciados nas doses de 500 mg/kg e 1.000 mg/kg, afetando principalmente a cabeça dos espermatozoides", relata a pesquisadora.
Adicionalmente, foram encontrados efeitos negativos no acrossoma (organela que contém enzimas essenciais à fertilização) e um aumento nos danos ao DNA dos espermatozoides, detectados pelo teste cometa (veja imagem). Os indicadores de estresse oxidativo também foram mais pronunciados no testículo e nas células espermáticas, principalmente nas maiores doses, ressalta Renata. Os resultados iniciais, portanto, sugerem que este herbicida pode realmente afetar o sistema reprodutivo em doses altas.

Uso correto
Os pesquisadores ressaltam a necessidade de estudos mais amplos, incluindo a investigação dos princípios ativos de forma isolada. "As doses utilizadas no estudo, embora muito superiores à dose diária de ingestão recomendada para consumidores, são relevantes para cenários de contato mais frequente ou ocupacional (como produtores e trabalhadores) ou para casos de mau uso do produto, nos quais volumes maiores do que o recomendado são aplicados", explica a pesquisadora.
Assim, os achados reforçam a importância da prudência e da aplicação consciente, bem como a continuidade das investigações científicas para garantir a segurança reprodutiva para o uso desses produtos.
Financiamento
O estudo faz parte de um projeto maior, realizado em parceria com a Universidade Estadual de Goiás (UEG), coordenado pela professora Luciane Madureira Almeida e com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa de Goiás (Fapeg). Além disso, a pesquisadora foi contemplada com uma bolsa de pós-doutorado júnior do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O projeto possui diversas ramificações, abrangendo desde estudos sobre os efeitos neurotóxicos até questões ambientais relacionadas ao impacto do solo. O trabalho específico de Renata Karine, sob a supervisão da professora Renata Mazaro (ICB), está inserido na área de toxicologia da reprodução.
Metodologia

A metodologia do estudo envolveu experimentos conduzidos no Laboratório de Fisiologia e Farmacologia da Reprodução (LFFR) da UFG, utilizando ratos como modelo animal. Os efeitos foram avaliados tanto no sistema reprodutor feminino quanto no masculino, mas o foco principal da pesquisa de Renata Karine foi nos efeitos masculinos.
Os animais foram distribuídos em quatro grupos, cada um com 12 indivíduos, e tratados oralmente por 28 dias consecutivos. O tratamento foi realizado na UEG. O grupo controle recebeu apenas óleo de milho, o solvente utilizado na dissolução do herbicida, enquanto os outros três grupos receberam o agrotóxico em doses de 250 mg/kg, 500 mg/kg e 1.000 mg/kg.
Após o tratamento, foram coletados sangue, tecidos reprodutivos e espermatozoides dos animais. Os espermatozoides foram processados para avaliação imediata de motilidade e viabilidade e também para análises posteriores de estresse oxidativo, acrossoma, morfologia e integridade do DNA.
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Fonte: Secom UFG
Categorias: Agrotóxicos Ciências Naturais ICB Destaque Notícia 1






