Conseguiremos superar a crise climática?
Há tecnologia para resolver problemas, mas decisões econômicas e políticas ainda são obstáculos
José Alexandre Felizola Diniz Filho
Apesar dos muitos problemas geopolíticos, temos hoje uma civilização global. Pela primeira vez na nossa história, os mais de 8,5 bilhões de pessoas que habitam, nas palavras de Carl Sagan, este "pálido ponto azul", enfrentam problemas comuns em escala planetária, mas causados por nós mesmos. Talvez o mais emblemático deles seja a "crise climática" e, no ano em que o Brasil sediou, em Belém, a COP30, ouvimos falar cada vez mais desse tema.
Avaliar os efeitos da mudança climática sobre a biodiversidade tem sido, há anos, um dos principais objetivos do nosso grupo de pesquisa, desenvolvendo e aplicando metodologias inovadoras para entender como as espécies respondem a essas mudanças. De modo geral, o problema começa com a geografia das espécies. Por exemplo, as espécies mais comuns e encontradas por todo o Cerrado, como o baruzeiro e o pequizeiro, tendem a deslocar suas distribuições geográficas para sudeste. Em todo o mundo esse deslocamento geográfico de espécies importantes vem causando problemas.
Temos vetores tropicais (transmissores de doenças) avançando em direção ao hemisfério norte, causando preocupação para a saúde pública. A produtividade agrícola começa a diminuir. As mudanças na biodiversidade como um todo reforçam esses problemas, pois comprometem os chamados "serviços ecossistêmicos", inclusive a regulação do próprio clima, criando um círculo vicioso que amplifica a crise. Tivemos, ao longo da história da Terra, muitos eventos catastróficos causados por mudanças no clima que eliminaram muitas espécies. A diferença agora é que a velocidade das mudanças é muito maior e a presença humana diminui a chance de sobrevivência das outras espécies.
Entretanto, não podemos nos esquecer de que somos parte da biodiversidade e dependemos da natureza para sobreviver. Muitos culpam o tamanho da população humana, e não surpreende que Thanos queira eliminar 50% dela! É bom que ele seja mesmo o vilão dessas estórias, pois obviamente essa não é solução… Precisamos conscientizar as pessoas sobre o problema, e aí o negacionismo e as "fake news" não ajudam em nada. Precisamos cada vez mais reforçar o papel da ciência em desenvolver soluções inovadoras para superar a crise e sempre lembrar que cada pessoa que nasce não tem apenas uma boca para comer, mas tem também mãos para trabalhar e, mais importante, um cérebro para pensar!
Muitos acham, de forma romântica, que é importante conservar a natureza "por si". Isso é válido e temos realmente um imperativo moral de deixar esse legado para as próximas gerações. Mas, de fato, estamos falando da própria persistência da espécie humana e da nossa civilização! Sob uma perspectiva otimista, podemos dizer que já há tecnologia para resolver a maior parte dos problemas, mas ainda há enormes desafios no sentido de escalonar as soluções e torná-las acessíveis. O problema não está na ciência em si, mas na economia e na política que moldam nosso futuro a partir de decisões que são tomadas agora. Não temos tempo a perder!
José Alexandre Felizola Diniz Filho é professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e coordenador do INCT em Ecologia, Evolução e Conservação da Biodiversidade.
Este artigo foi originalmente publicado em O Popular.
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Fonte: ICB
Categorias: artigo Ciências Naturais ICB






