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Universidade Federal de Goiás
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Caos no trânsito e busca do prazer: como o consumo age na sociedade

Em 13/07/10 08:46. Atualizada em 21/08/14 11:45.
Veja novos trechos da mesa-redonda que discutiu o consumo e sua relação com o desenvolvimento econômico e com problemas sociais da atualidade

Assuntos como a relação entre consumo e felicidade e a opção por um modelo de desevolvimento dependente do transporte automobilístico também tiveram destaque na mesa-redonda da edição número 37, junho de 2010 do Jornal UFG. Veja trechos da conversa com as professoras Sílvia Rosa da Silva Zanolla, da Faculdade de Educação, que atua na área de psicologia social, Maria Luíza Martins de Mendonça, do curso de Publicidade e Propaganda, da Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia, e Paula Andréa Marques do Valle, do curso de Economia, da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas da UFG.

 

 

Existe relação entre consumo e felicidade?

 

Sílvia Zanolla – Freud fala sobre a felicidade. Ele diz que o sujeito já nasce incompleto, buscando ser aceito. Diz também que não existe felicidade, apenas momentos felizes. Mas o sujeito quer se satisfazer de algum modo. Então a felicidade seriam momentos de satisfação do ego. O consumismo acaba transformando essa felicidade em uma ilusão. A satisfação imediata acaba sendo vista como satisfação plena. O sujeito projeta no produto uma felicidade que não existe. Passado o momento de felicidade por ter aquele produto, já quer outro. Há a confusão de necessidade com desejo, felicidade com realização plena. A mídia incentiva um comportamento sadomasoquista. Quanto menos eu tenho, mais eu quero e quanto mais eu quero, menos eu tenho. É a lógica da publicidade para vender. O sujeito não pode se satisfazer plenamente, ele tem de estar sempre buscando uma satisfação ilusória.

 

A atuação da indústria automobilística é um exemplo clássico do que a aposta no desenvolvimento econômico por meio do consumo pode provocar: aquecimento das economias e ao mesmo tempo, vários problemas, como o caos no trânsito e a poluição. É possível pensar soluções para a lógica da prioridade do automóvel?

 

Maria Luiza – Há muitas soluções apontadas como técnicas e que, na verdade, são políticas. Por exemplo, a tecnologia do trânsito. Trânsito é levar pessoas de um lugar para outro. Você poderia muito bem incentivar o transporte coletivo, como já foi feito em outros locais do mundo. Ainda assim, esses locais têm problemas de trânsito, pois as cidades crescem mais do que os urbanistas prevêem. Temos de prestar atenção nas questões técnicas e políticas. Porque ampliar uma avenida é uma decisão aparentemente técnica, mas esconde o não desejo de investir no transporte coletivo. E essa política de desenvolvimento pela indústria automobilística foi uma decisão tomada na década de 1960. Isso se reflete tanto, que até no Câmpus Samambaia já não temos mais lugar para estacionar os carros e ao mesmo tempo não há transporte coletivo de qualidade para nos levar.

 

Paula Andréa – É preciso lembrar que o Brasil fez uma opção de desenvolvimento por rodovias, justamente pela pressão da indústria automobilística. Até hoje temos um problema com a questão de transporte, porque não temos transportes alternativos, como os metrôs e ferrovias. Por isso mesmo, neste momento de crise mundial, o Brasil acabou sendo espaço para consumo de bens que não tinham espaço em outros países, como os automóveis. Mas é um problema cultural também, assim como um problema político. As pessoas vão para o mesmo lugar e não se propõem a ir juntas. Também é uma questão de trabalhar culturalmente esses fenômenos.

 

Sílvia Zanolla – Também precisamos pensar o automóvel do ponto de vista da cultura e na representação que tem o automóvel. A gente se preocupa com o trânsito, com o comportamento do motorista. Mas vamos pensar na representação do automóvel. A questão do poder, da relação do sujeito e do carro. Que significado o veículo tem para ele a ponto de atropelar alguém na faixa de pedestres? É uma questão que perpassa a educação.

 

Falando de decisões políticas no contexto capitalista, o que as motiva e que valores são esses que faltam a essas decisões?

 

Maria Luiza – Acho que falta pressão popular, organização popular. Porque o setor produtivo é extremamente organizado, embora não pareça.

 

Paula Andréa – O sistema capitalista funciona pelo lobby, a influência de determinados grupos sobre o governo. Quanto mais organizados os grupos, maiores pressões exercerão sobre o governo. Se a sociedade se organizar e fizer seu lobby, ela também terá sua participação na arena pública.

 

Sílvia Zanolla – Eu não penso que não haja solução para essas questões. O prognóstico não é tão ruim. Mas eu gostaria de afirmar que esse é um problema referente ao sistema educacional e cultural. O fenômeno do lobby, da organização coletiva, parte de uma educação ampla. Quando falamos de consumismo, de valores, estamos falando de formação, desde a escolha de uma boneca que vou dar para a minha filha, até o fato de eu me organizar em um sindicato. A educação é fundamental. Na educação estaremos discutindo representações, preconceitos. A formação de valores passa pela educação. Nesse sentido, é importante ressaltar a relevância do pensamento crítico, da qualificação das pessoas que estão na área da comunicação. De espaços como este para discussão,

pois isso possibilita a educação e a reflexão. A educação não é apenas escolar, mas cultural.

Veja o conteúdo impresso no Jornal UFG, aqui.

 

Fonte: Ascom/UFG