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Universidade Federal de Goiás
TEC

Os desafios da escola na era tecnológica

Em 29/07/16 15:47. Atualizada em 02/08/16 14:59.

A utilização de mídias digitais na educação brasileira ainda é um desafio e enfrenta deficiências da infraestrutura nas escolas e na formação dos professores

Camila Godoy

 

Que as mídias digitais chegaram para ficar todos já perceberam. O que muitos ainda não compreendem é que elas podem ser grandes aliadas do ensino. A forma como essa junção pode ocorrer, no entanto, ainda é uma incógnita, visto que o modelo de escola adotado pelo Brasil se atualiza em um ritmo muito inferior às aceleradas mudanças tecnológicas de informação e comunicação ocorridas nas últimas décadas e que transformaram a relação das pessoas com o aprendizado. Um verdadeiro desafio para as escolas, universidades e docentes.

Um estudo promovido pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil em 2013, revelou que 99% das escolas públicas brasileiras possuem computadores e que 76% delas disponibilizam os equipamentos para o uso com alunos. No entanto, de acordo com o professor da Faculdade de Educação da UFG, Frederico Ramos Oliveira, esse dado, apesar de bastante satisfatório, não significa inclusão digital. “A simples compra de equipamentos não resolve, depende do nível de fluência na linguagem midiática de quem as utiliza, da compreensão dos impactos sociais de tais usos, das características intrínsecas de cada meio e das possibilidades efetivas de utilização”, afirma.

Segundo o professor, o país enfrenta dificuldades estruturais nas escolas, que não comportam condições de uso dos equipamentos, além da deficiência na formação dos professores, que muitas vezes não são preparados para utilizar tais recursos. “Existem muitos formandos em algumas licenciaturas da UFG que não sabem utilizar um computador. Como esse profissional poderá fazer uso dessa mídia em sala de aula?”, questiona.

 

Jovens que usam tecnologia

 

Iniciativa da UFG

Foi diante dessa constatação que as professoras da UFG, Cleide Rodrigues e Maria de Fátima Barreto, criaram, há três anos, o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Educação, Inclusão e Novas Tecnologias (LabIN), vinculado à Faculdade de Educação. Desde então, nesse espaço são promovidas atividades de extensão para aproximar alunos e professores, inclusive de outras instituições de ensino, aos aparatos tecnológicos e para promover uma reflexão crítica sobre o uso das tecnologias.

“O LabIN oferece cursos de diversas natureza: há formação para pessoal em fase bem inicial com tecnologias, que apresentam dificuldades em ligar a máquina, digitar e formatar  textos; há cursos nos quais as pessoas aprendem a lidar com ferramentas para criar seus materiais pedagógicos; outros para compartilhar levantamento de vídeos e softwares pedagógicos e pensar possibilidades de uso para a aprendizagem de conceitos próprios do currículo escolar”, explica a professora Maria de Fátima Barreto.

Segundo a docente, os professores que participam das atividades se entusiasmam com a possibilidade de usar tecnologias para ampliar capacidades de aprendizagem, no entanto, ela destaca que é bastante comum que eles não consigam aplicar esse conhecimento em seu ambiente de trabalho. “Não há infraestrutura, nem abertura na proposta pedagógica e na rotina da escola para que as tecnologias  façam parte da vivência da sala de aula”, afirma.  

 

Experiência nas salas de aula

 

Experiência nas salas de aula

Adepta às novas tecnologias, a professora da rede municipal de Aparecida de Goiânia, Grasiela Mariano Silva, utiliza as mídias digitais nas suas aulas sempre que pode. Ela acredita que assim pode aumentar o interesse, envolvimento, participação e produtividade dos estudantes. “Os alunos de hoje são muito visuais. É quase impossível explorar de maneira significativa conteúdos de ciências somente em imagens de livros. Meu sonho é ter datashow e internet em período integral para explorar situações reais e dados recentes. As salas de aula devem funcionar como laboratórios de pesquisa e não como reprodutoras de conhecimentos”.

Em um caminho contrário está a professora Sueines Porto, que não utiliza praticamente nenhum recurso midiático em suas aulas. Ela não sabe manusear essas tecnologias e acredita que as aulas tradicionais podem suprir o aprendizado dos alunos. “Eles já ficam o dia todo com aparelhos eletrônicos e nas quatro horas que passam conosco é preciso priorizar outras formas de socialização. As mídias digitais são apenas um meio. O fim é o que importa. Até hoje não tive nenhuma reclamação. O desempenho dos meus alunos é bastante satisfatório”, defende.

 

Fim da linha para as escolas tradicionais?

Os erros e acertos na tentativa de atualizar a linguagem e a educação brasileira são discutidos por diversos educadores. No livro Educando para Inovação, o professor emérito da Universidade Federal de Santa Maria, Ronaldo Mota, em co-autoria de David Scott, defende que o modelo de escola atual será completamente extinto. Para ele, a figura clássica do professor que entra na sala de aula e apresenta o conteúdo para os alunos como se eles não soubessem nada é uma instituição falida, visto que não percebeu o fato de que os alunos já podem estudar em casa da forma e no momento que quiserem.

O professor da Faculdade de Educação da UFG, Frederico Ramos Oliveira, também questiona uma educação meramente instrucional: “Se queremos meramente compreender o funcionamento de algo, basta acessar o YouTube, assistir um vídeo ‘faça você mesmo’ e pronto. O que é essencial, no entanto, é desenvolver a capacidade de compreender que tipo de informação é necessária, onde encontrá-la, avaliá-la reflexivamente, bem como utilizá-la de forma ética e efetiva”. Este processo, segundo ele, compreendido como letramento informacional, deve ser desenvolvido principalmente na escola, tornando assim, papel do docente estimular tais habilidades.

 

 

Categorias: pesquisa Edição 81