Raciocinar de maneira matemática? É moleza!
Projeto do mestrando Greiton Toledo mostra às crianças que isto é possível. A iniciativa foi reconhecida pelo Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita
Caroline Pires
Junte uma escola pública em Senador Canedo, seis computadores emprestados, pais fazendo sanduíches para o lanche e um professor inovador. O resultado é uma mistura única que conseguiu mudar o rumo do aprendizado em Matemática de alunos do ensino fundamental. Com a implementação do projeto Mattics, o mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática da UFG, Greiton Toledo de Azevedo, teve seu esforço e trabalho reconhecidos ao ser escolhido como um dos ganhadores do Prêmio Educador Nota 10, concedido pela Fundação Victor Civita em parceria com a Fundação Roberto Marinho. O professor apresentou o trabalho Matemática e games? Eis a questão!, que foi desenvolvido na Escola Municipal Irmã Catarina Jardim Miranda.
Jogo desenvolvido pelos alunos une Matemática e preservação ambiental
Apaixonado desde a graduação pela educação básica, Greiton Toledo lembra que toda a sua trajetória acadêmica foi baseada em pensar maneiras de modificar o ensino da Matemática, que geralmente parte de conceitos e fórmulas apresentadas de maneira direta, sem permitir que o estudante possa aprender a raciocinar de forma lógica. Foi a partir desta inquietação que o mestrando começou a pensar formas de desafiar seus alunos, de 10 a 12 anos, a estabelecer temáticas que se relacionassem com o cotidiano para desenvolverem jogos digitais utilizando a linguagem do programa Scratch. Assim nasceu o projeto Mattics, que se transformou em seu objeto de estudo no mestrado.
Todo o processo começou com a reflexão sobre problemas cotidianos, como a conservação do meio ambiente. A partir daí, os estudantes esboçaram em folhas de papel o esqueleto dos jogos que, em seguida, foram transpostos para o computador. Greiton Toledo, com a ajuda de professores voluntários, desafiou os alunos a usarem linguagem computacional para construir seus jogos digitais. Aos poucos e sem se darem conta, os estudantes se depararam, durante esse processo, com situações matemáticas a serem solucionadas.
O resultado é que durante a apresentação dos seus projetos, os alunos se percebiam usando e explicando aos colegas conceitos como planos cartesianos, números negativos e funções. Isto sem nunca terem tido uma aula sobre esses conteúdos! Era neste momento que Greiton Toledo intervinha ativamente e dava nome para o raciocínio feito pelo aluno. Essa didática lúdica e construcionista é a norteadora de todas as ações do professor em sala de aula. “É motivador ver como a Matemática vai aos poucos se fazendo presente como forma de pensamento, pela construção ativa do conhecimento e do desenvolvimento do raciocínio lógico”, comemora o professor.
O impacto do projeto não ficou restrito aos muros da escola. As crianças também apresentaram os jogos digitais produzidos por eles, com suas estruturas matemáticas, para funcionários do colégio, pais e comunidade local. Essa interação ampliou as temáticas discutidas em sala de aula e promoveu a reflexão sobre temas como poluição sonora, desperdício de água e tratamento de resíduos sólidos.
Greiton Toledo continuará a desenvolver e implementar o Projeto Mattics com alunos da rede pública de ensino
Para encerrar o projeto com chave de ouro, os alunos participantes recebiam ainda cadernos de memórias. Diariamente eles eram desafiados a escrever não só seus raciocínios ou impasses matemáticos, mas a maneira como se sentiam e como lidavam com os problemas que iam aparecendo ao longo do projeto. A utilização desse artifício tornou a experiência ainda mais completa para os estudantes. “É desafiador! É legal aprender. Temos que pensar, analisar e discutir para construir! Sempre gostei muito de Matemática, mas, agora, com o projeto Mattics, está mais legal!”, destaca o estudante João Pedro Santana. Já a aluna Sara Castro Coelho está contente com a sua superação: “Muito bom ser capaz de fazer um jogo. No início não acreditava que eu iria conseguir”.
Como reconhecimento pelo seu projeto o professor recebeu do prêmio Educador Nota 10 o valor de R$ 15 mil como incentivo. A cerimônia de premiação será no dia 17 de outubro, em São Paulo.
Fonte: Ascom/UFG