Nem tudo vai para o lixo
Cascas e sementes do tomate podem virar cápsulas de nutracêuticos, veículos para fármacos, suplementos alimentares, barras de cereais e madeira
Angélica Queiroz – Fotos: Tv UFG e Ana Fortunato
Assim como em nossas casas, as indústrias também geram lixo, mas em grande escala. Esses resíduos exigem tratamento especial para não provocarem danos ao meio ambiente. Uma alternativa é a inserção dessas sobras no processo produtivo ou utilização para outras finalidades. Na fabricação de atomatados, por exemplo, sobram, ao final do processo, casca e semente. Mas pesquisadores do Laboratório de Métodos de Extração e Separação (Lames), do Instituto de Química da UFG, encontraram uma forma de aproveitar o que sobra e estão utilizando a casca e a semente do tomate para produzir cápsulas de nutracêuticos, veículos para fármacos, suplementos alimentares, barras de cereais e madeira.
Os restos de atomatados são normalmente utilizados para alimentar bovinos, com alto custo de transporte para a indústria. Os novos produtos desenvolvidos dão às cascas e sementes do tomate uma destinação mais adequada, diminuindo os gastos da empresa, e sendo uma opção mais sustentável. A pesquisa executada pelo doutorando em Química, Lucas Oliveira Gomes, e coordenada pelo professor do Instituto de Química, Nelson Antoniosi, visa reaproveitar resíduos de atomatados de uma grande indústria alimentícia. O trabalho foi considerado o segundo melhor das Américas pelo Prêmio Novos Talentos para o Alimento Sustentável, iniciativa do Fórum do Futuro.
Como?
No laboratório, os resíduos da fábrica de atomatados chegam em forma pastosa e passam por um processo que separa a casca da semente. “Esse material passa por um processo de centrifugação e peneiramento. A pele do tomate fica retida nas peneiras e a semente passa para a parte inferior do recipiente. A partir desse processo, os dois materiais vão para uma estufa de secagem com circulação de ar forçada”, detalha Lucas Oliveira Gomes.
Da casca se extrai o licopeno, pigmento antioxidante que dá a cor avermelhada ao tomate e que tem papel fundamental na prevenção do câncer. Tal extrato é utilizado para a produção de cápsulas de nutracêuticos, pois o licopeno tem ação na prevenção do câncer de próstata, além de poder ser empregado como veículo para medicamentos lipossolúveis. Da semente se extrai um óleo bastante requisitado pela indústria de cosméticos para a fabricação de hidratantes. Após esse processo de extração, os pesquisadores da UFG descobriram um novo destino para os restos de casca isenta de pigmento e para os restos de sementes isentas de óleo: suplementos alimentares, barras de cereais e madeira.
Tanto a semente, isenta de óleo e rica em proteínas, quanto a casca do tomate, isenta de pigmentos, estão sendo utilizadas no Lames para a produção da barra de cereais. A casca não apresenta odor e é rica em fibras, sendo utilizada em substituição à aveia que, além de ser de alto custo, contém traços de glúten, para o qual algumas pessoas são alérgicas. Segundo Nelson Antoniosi, a barra de cereal feita dos resíduos tem grande apelo pelo mercado de suplementos alimentares: “A barra não tem gosto de tomate, pode ser consumida por aqueles que são alérgicos ao glúten, além de ser um produto de grande apelo para a área fitness, já que é bastante enriquecida em fibras e proteínas”. O produto já foi submetido a testes de degustação e aprovado pelos participantes.
A mesma casca de tomate que dá origem à barra de cereais, quando misturada às resinas e submetida a compactação, também produz madeira, dos tipos MDP (madeira de média densidade particulada) ou MDF (madeira de média densidade com fibras), que pode ser utilizada na indústria moveleira e de construção civil. Segundo os pesquisadores, essa madeira tem resistência maior que o compensado comum porque a fibra do tomate faz com que a resina se molde bem, não deixando espaços para penetração de ar e água. “Além de ser muito mais resistente que o compensado comum, a alternativa evita a derrubada de árvores para produção de madeiras não tão nobres”, ressalta Nelson Antoniosi.
Pesquisadores da UFG produzem suplementos alimentares, barras de cereais e madeira a partir de restos do tomate
Produção
Além de poupar o meio ambiente do descarte indevido, as alternativas encontradas pelo Lames também atribuem valor comercial àquilo que até então era tratado como lixo. Os produtos já foram patenteados. Junto com a empresa que produz os atomatados, o Lames submeteu o projeto a um programa da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES). O projeto foi aprovado entre os dez melhores em mais de 450 inscritos e contemplado com R$10 milhões, que devem ser destinados para a abertura de uma empresa para produzir os produtos patenteados. Segundo Nelson Antoniosi, os produtos devem chegar ao mercado em breve, estampando em suas embalagens os logotipos da UFG, da Finep e do BNDES.
Fonte: Ascom UFG
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