
Tem gente nova na escola
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência aproxima acadêmicos de licenciatura à realidade da educação básica
Quatro acões são desenvolvidas no Colégio Colemar Natal e Silva
Texto: Carolina Melo | Fotos: Adriana Silva
Toda terça-feira a rotina do Colégio Estadual Colemar Natal e Silva é transformada pela presença de cinco acadêmicos do curso de Letras Libras, dispostos a entrar em sala de aula para contar histórias de um jeito diferente. Com gestos que comunicam a narrativa lida em voz alta, os estudantes entram nas salas do 3º ao 5º ano para ler contos dos Irmãos Grimm em Libras. Parte do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), o projeto aproxima universitários do curso de licenciatura da realidade escolar ao mesmo tempo em que contribui para diminuir o distanciamento comunicativo entre alunos ouvintes, surdos e professores.
Iniciado em 2009, o Pibid na UFG busca incentivar a formação docente em nível superior para a educação básica, promovendo a integração supervisionada dos bolsistas no espaço escolar. No Colégio Colemar Natal e Silva, desde 2014, quatro ações são desenvolvidas: A Hora do Conto, Aula de Libras em Sala de Aula, Aula de Libras para a Comunidade e O Ensino de Elis, a Língua de Sinais. Os 27 bolsistas de Letras Libras a cada seis meses passam por uma das atividades.
Em frente à lousa, Pollyana Dias, de 23 anos, faz a leitura em voz alta da história de ficção e Vinícius Afonso de Camargo, de 28 anos, interpreta a narrativa em Libras. Do outro lado, os alunos escutam atentos enquanto tentam imitar os gestos que iluminam o conto na língua dos sinais. Orgulhosa da vivência, a professora de Literatura da UFG, Sueli Regino, uma das coordenadoras do subprojeto do Pibid, observa cada detalhe. “Percebemos um salto de desenvolvimento tanto dos acadêmicos surdos quanto dos ouvintes que participam do Programa. Aprimoram a leitura, a linguagem e a interpretação. Ensinar é prazeroso e eles têm acesso a isso. O contato com os alunos ajuda a formar o professor”, afirma a docente. Além de promover a prática de ensino-aprendizagem dos universitários, o projeto contribui para a melhoria na comunicação entre os alunos. “Foi surpreendente perceber que as crianças ouvintes iam reproduzindo os gestos e aprendendo Libras. Com isso, a inclusão é realizada de forma entrelaçada entre crianças ouvintes e surdas, de forma natural”, observa.
O Pibid também estimula a criação de experiências metodológicas, tecnológicas e práticas como contribuição acadêmica à escola. O subprojeto do curso de Letras Libras proporciona aos alunos surdos e ouvintes do colégio estadual o suporte da biblioteca virtual de livros audiovisuais em Libras, Bibliolibras, idealizada pela professora da UFG, Sueli Regino, e também o acesso à Elis, escrita da língua de sinais criada pela professora da UFG, Mariângela Estelita Barros. “Alunos surdos têm dificuldade em aprender a escrita do português, pois não escutam a fonética da língua. A Elis é uma grande contribuição”, observa a professora do Colégio Estadual Colemar Natal e Silva e supervisora do Pibid, Rosilda Silva Ferreira Soares.
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Da academia para a sala de aula
Um dos questionamentos sobre a efetividade do Pibid diz respeito ao futuro do discente, ou seja, sobre o ingresso do acadêmico no ensino público enquanto professor. Entre os objetivos do Programa está a melhor formação dos alunos das licenciaturas para a atuação na educação básica. Segundo a coordenadora institucional do Pibid/UFG, Janice Lopes, ainda não se tem uma base de dados sobre esse acompanhamento. “É preciso considerar que mesmo tendo vontade de seguir a carreira docente, há os que acabam fazendo outras opções por razões diversas, como a falta de concursos e baixa expectativa de valorização da categoria”. Mas, segundo Janice, não são poucos os relatos de ex-pibidianos em regências nas escolas públicas do Estado.
O professor de Matemática da rede municipal de Senador Canedo, Greiton Toledo, por exemplo, participou do Pibid nos dois últimos anos da licenciatura, em 2011 e 2012, e acredita que o Programa é um campo fértil de aprendizado, de discussão e aprimoramento da prática docente. “Foi a base e o alicerce para a formação do professor que sou”. Atuando na Escola Municipal Irmã Catarina Jardim Miranda, Greiton desenvolveu em 2015 o projeto Mattics, “Matemática e games? Eis a questão!”, que uniu o ensino à linguagem de programação. “Na construção dos jogos digitais, os alunos aprendem matemática brincando”. O projeto lhe rendeu em 2016 o Prêmio Educador Nota 10, concedido pela Fundação Victor Civita em parceria com a Fundação Roberto Marinho. “Sempre fui muito crítico em relação ao ensino engessado da Matemática e o Pibid me abriu as portas para fazer essa reflexão de forma mais aprofundada e experimentar outras práticas de ensino junto aos alunos”, afirma.
Segundo o professor de Matemática, o Programa permitiu que, ainda enquanto estudante, adentrasse ao universo da educação básica, planejando aulas, atuando e avaliando os resultados propostos. “Ele me abriu as portas para o universo da pesquisa científica aliada à prática pedagógica. Pude ter o contato direto com professores que já atuavam no ensino básico e repensar as práticas de ensino, antecipar a reflexão e criticidade sobre a prática de ser professor de Matemática”, analisa Greiton Toledo.
Durante sua participação no Pibid, a partir da experiência em sala de aula junto com os professores da escola, eram realizados semanalmente encontros com a coordenadora e a supervisora do subprojeto Pibid/Matemática para discussões críticas, reflexivas e fundamentadas em busca de atividades pedagógicas lúdicas. O caminho iniciado pelo egresso da UFG continua rendendo frutos. Esse ano, o projeto desenvolvido pelo professor Greiton foi selecionado pelo Desafio Aprendizagem Criativa Brasil, da Fundação Lemann e MIT Media Lab, para receber uma Creative Learning Fellowship, que ajudará a implementar o trabalho.
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