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Universidade Federal de Goiás
Rock

Tem rock na academia, baby!

Em 30/08/17 14:45. Atualizada em 30/08/17 16:10.

Pesquisadores estudam um dos estilos musicais mais universais e fascinantes das últimas décadas

Texto: Adriana Silva

Fotos: Edu Lawless e Rodrigo Gianesi

O rock é uma  paixão  mundial!  E claro, não poderia ser diferente na terra do pequi. Todos os anos, Goiânia é palco de festivais como o Grito Rock, Go Rock, Tattoo Rock Fest, Goiânia Rock Fest, entre outros eventos. O estilo também é encontrado em casas de shows e bares com uma pegada mais alternativa como Vai Tomar no Kuka Bar, Don Guina, Woodstock, República, Trip e por aí vai. Para explicar a influência do estilo  musical entre os goianos e os processos identitários do rock alternativo produzido na cidade, um estudo da Escola de Música e Artes Cênicas (Emac) da UFG foi realizado pelo músico Pedro Bernardi e orientado pela professora Magda Clímaco.

O autor  coletou dados de 2012 a 2016, das bandas goianas Black Drawing Chalks, Hellbenders e Overfuzz, reconhecidas pelo caráter alternativo e pela presença nos principais festivais do gênero. A pesquisa revelou que o som dessas bandas é essencialmente inspirado na produção internacional, principalmente dos Estados Unidos e da Inglaterra. Nas músicas analisadas, ao contrário do encadeamento de acordes recorrentes na produção  do rock nacional, a exemplo de Legião Urbana, Titãs e Nação Zumbi, são encontradas composições à base de ostinatos, popularmente conhecidos como riffs, termo referente à repetição insistente de um elemento musical rítmico ou melódico. Na análise também foram notados tonalidades menores e som mais “sujo” e “agressivo”, evidenciado especialmente nas guitarras, nas baterias e no vocal, este com gritos e “expressões pouco afáveis”.

Esses dados revelam uma das características principais do rock alternativo que é o seu distanciamento do modus operandi da indústria cultural. Segundo o autor, “muitos goianos costumam privilegiar esse tipo de produção, por não se identificarem com as representações ligadas ao campo. A música sertaneja, por sua vez, carrega justamente essas representações, e o rock, ao  se colocar como gênero ligado ao urbano e ao moderno a antagoniza”. Assim, a opção das bandas de cantar letras em inglês, não produzir baladas ou melodias “açucaradas” nem composições que remetam a valores rurais é uma forma de se oporem à produção de música de massa. Outra característica do rock alternativo é que “ele não paga suas contas”, assim, grande parte dos músicos possuem carreiras paralelas, o próprio Pedro Bernardi, além de atuar como guitarrista nas bandas Dry, Sixxen e Mazombo, trabalha como professor de inglês e alemão nas horas livres.

Rock

André Adonis à frente da Sunroad

Sensações  auditivas e conexões cerebrais

Em outro  estudo,  feito  pelo  aluno Rodrigo Invernizzi e orientado pelo professor Wolney Unes, também da Emac, foram analisadas as sensações auditivas e as conexões cerebrais causadas em quem ouve rock. Segundo a pesquisa, a intensidade do volume é uma das principais causas do efeito prazeroso que a música proporciona aos ouvintes. Partindo de uma análise psicoacústica, Rodrigo ressalta em sua pesquisa que “o rock and roll está constantemente relacionado ao volume próximo ao limiar da dor. Essa parece ser uma característica principal desse gênero musical. Dificilmente se ouvirá de um roqueiro algo como ‘abaixe o som’ ou até mesmo ‘não suporto som alto’. A marca do roqueiro continua sendo ouvir música no volume máximo”, afirma Rodrigo Invernizzi no estudo.

Ao escutar uma música, o ser humano  é   envolvido   por   sensações e experiências físicas e psicológicas, que alteram os sentidos táteis, emocionais e visuais. Na pesquisa, Rodrigo Invernizzi explica que, se ouvida em alto volume, essas sensações tendem a se intensificar e envolver todo o corpo. As ondas sonoras em níveis altos de intensidade liberam no organismo humano hormônios do prazer, como a endorfina e a dopamina, em decorrência do esforço muscular prolongado provocado pelo reflexo acústico. “Outros fatores que contribuem para essa sensação de prazer são a sociabilização, a dança, ou mesmo o prazer intelectual resultado da antecipação de ouvir uma música conhecida”, completa.

Universo do desconhecido

Goiano, apaixonado pela cidade natal e pela música de qualidade, André Adonis, 29 anos, é cantor, instrumentista e compositor de rock, atuando na banda Sunroad, além do projeto “Mal necessário”, do qual é mentor, um tributo à  banda Secos  e Molhados e ao Ney Matogrosso. Formado em Filosofia pela Fafil/ UFG, desde 2015, Adonis também trabalha como professor de Humanidades na iniciativa privada. Sua história no rock começa ainda na infância. Um dos bilhetes de entra- da para o “universo do desconhecido”,  como  ele  mesmo  define,  foi uma fita cassete do Raul Seixas  que ganhou do pai aos sete anos de idade: “Ver o cara falando do diabo era surpreendente”.

Das idas aos cultos com a família, na Igreja Pentecostal, quando criança, ele conta que observava atentamente o baterista ao tocar as músicas no momento do louvor, “foi assim que aprendi a tocar meu primeiro instrumento, era a única coisa que eu realmente gostava na igreja”, relembra o músico. Assim, o rapaz foi crescendo e se interessando pelo hard rock, heavy metal e música erudita, como Deep Purple, Johann Sebastian Bach, Ritchie Blackmore e Jon Lord. No início dos anos 2000, sem Youtube e Spotify, Adonis bus- cava nos sebos do centro de Goiânia suas principais inspirações e referências musicais: “Naquela época o vinil não valia nada, então comprei inúmeras coisas boas a um bom preço”. Aos 14 anos ganhou um violão e logo passou também a tocar guitarra elétrica, aos 18 anos participou de bandas como o Quadro Negro e Sevent, mas na época ele não tinha grandes perspectivas  no  mercado da música. “Desisti da vida musical por um longo tempo, não queria me profissionalizar, pois era difícil encontrar bons músicos e o único trabalho que consegui foi em uma banda de forró, era a única forma de ganhar uns vinténs na época”.

Hoje, André Adonis é o novo vocalista da Sunroad, considerada atualmente a melhor banda de hard rock do Centro-Oeste brasileiro. Fundada em 1996 pelos primos e músicos Danillo Vee e Fred Mika, o grupo lançou recentemente o álbum Wing Seven, nos EUA pela Roxx Record e no Brasil pela Musik Records. Adonis participou de todo o processo  de produção do trabalho que vem sendo elogiado, tanto pela crítica nacional quanto pela internacional. Para o músico, o rock pode ser definido como um “estado identitário de existência, um elo de fomento às paixões e doenças da alma e palco dos sonhos e anseios que consideramos falidos, mas que ainda acreditamos e pelo qual você expressa sua vontade de viver”. E é por essa paixão que esse estilo musical ainda fascina, influencia e move tanta gente ao redor do mundo.

Rock

Black Drawing Chalks e Hellbenders no Bananada 2017

Fonte: Ascom UFG

Categorias: Comportamento Edição 90