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Universidade Federal de Goiás
Papo Musical

PAPO MUSICAL

Em 16/05/22 11:23. Atualizada em 21/06/22 16:42.

Casamentos no mês de maio: e a curiosa história da "Marcha Nupcial" de Carlos Gomes

Gyovana Carneiro*

Foto oficial da família real britânica, depois do casamento de Harry e Meghan Markle , em 19 de maio de 2018
Foto: Reprodução

Maio é conhecido como o “mês das noivas” existindo algumas possibilidades para essa escolha.

Entre as possíveis explicações estão: ser essa a época das flores no hemisfério norte; a ligação com a consagração de Maria, mãe de Jesus; e forte influência do Dia das Mães em alguns países incluído o Brasil.

 Dessa forma, o mês, é um dos preferidos, pelos casais, para a celebração de casamento.

Dentre as tantas preocupações com a cerimonia, à escolha da música para a entrada triunfal é fundamental. As Marchas Nupciais são as mais utilizadas dentre as escolhas de noivos.

As marchas nupciais mais conhecidas e tocadas em casamentos até os dias de hoje, são as dos compositores alemães Wilhelm Richard Wagner (1813 – 1883) e Felix Mendelssohn (1809 – 1847). 

A Marcha Nupcial de Richard Wagner foi composta em 1850 para a Ópera Lohengrin. Escrita para Coral e Orquestra, é conhecida também como “Coro Nupcial” e é uma parte do terceiro ato da referida Ópera.

 

Wilhelm Richard Wagner (1813 – 1883)

Já a Marcha Nupcial de Felix Mendelssohn foi composta em 1842 para musicar a peça de teatro de Shakespeare – Sonho de Uma Noite de Verão. Originalmente a peça é instrumental,  tendo sido apresentada em casamentos na versão com coro e orquestra.

Felix Mendelssohn (1809 – 1847)

As afamadas Marchas de Wagner e Mendelssohn começaram a ser difundidas e utilizadas em casamentos a partir do casamento real de Vitoria e Frederico, realizado na Capela Real do Palácio de St. James em Londres em 25 de janeiro de 1858, no qual eles utilizaram as duas marchas nupciais.

Cerimônia de casamento da Princesa Vitória– Capela Real do Palácio de St. James em Londres em 25 de janeiro de 1858

A Princesa Vitória escolheu a Marcha Nupcial de Wagner, que já havia sido tocada em um casamento real em 1842 para sua entrada na igreja e a Marcha Nupcial de Mendelssohn, tocada pela primeira vez em um casamento, para a saída do casal real.

A verdade é que a moda pegou. E mesmo depois de tantos anos, essas ainda são as Marchar Nupciais mais tocadas em casamentos até os dias de hoje, inclusive em casamentos no Brasil.

 Existe, no entanto, uma história curiosa por traz de uma Marcha Nupcial composta pelo brasileiro Antônio Carlos Gomes (1836-1896).

Antônio Carlos Gomes (1836-1896)

Carlos Gomes passou para história como grande operista: a ópera Il Guarany, escrita na língua italiana e baseada no romance homônimo do brasileiro José de Alencar (1829 – 1877) teve muito sucesso já em sua estreia, no famoso Teatro Scala de Milão, tornando-se, assim, o primeiro compositor brasileiro a alcançar sucesso na Europa, como destaca o musicólogo Bruno Kiefer:

“Numa época em que ainda se media a grandeza de uma nação pelos feitos de seus pensadores, cientistas, inventores, artistas e escritores, o êxito de Carlos Gomes era muito mais do que um sucesso individual: era a exaltação de um país recém-emancipado, preocupado em desenvolver as suas próprias potencialidades, em se afirmar perante as demais nações”. (KIEFER 1977, p. 83)

Mas a obra de Carlos Gomes vai muito além da famosa ópera. Dentre muitas peças significativas, ele deixou uma Marcha Nupcial para piano a quatro mãos.

 

Dedicatória na versão original da Marcha Nupcial de Carlos Gomes Acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
Pasta M7862 –  G I 2

Composta no Rio de Janeiro em fevereiro de 1896, o ano de sua morte, a Marcha Nupcial, apresenta uma dedicatória assinada de próprio punho:

“Expressamente escrypta para solemnisar o feliz consórcio de d. Maria Dolores de Albuquerque Mello por Carlos Gomes. Rio de Janeiro”.

Segundo o historiador Vicente Salles, a Marcha Nupcial, foi escrita por encomenda do jornalista paraense Dr. Miguel Lúcio de Albuquerque Melo, amigo de Carlos Gomes, para o casamento de sua filha – certamente um dos últimos trabalhos do compositor. A peça não consta de seus catálogos conhecidos e foi editado por iniciativa do próprio Sr. Miguel Lúcio, como foi noticiado na imprensa na ocasião:

“O Paizdiz que a brilhante peça musical foi ‘primorosamente executada no dia do casamento da distintíssima senhora a quem era oferecida e distribuída aos convidados em rica edição expressamente feita pela família da noiva’”.

Além dessa inusitada edição, também existe uma partitura da Marcha Nupcial de Carlos Gomes editada pela Buschmann & Guimarães, e um dos exemplares encontra-se nos arquivos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, disponível para algum casal que queira inovar na tradição e experimentar uma marcha nupcial brasileira.

Ouviremos a Marcha Nupcial de Carlos Gomes para piano a quatro mãos interpretada pelo DUO MALTESE, mãe e filha: Ida Baianconi Maltese e Sylvia Maltese Moysés.

Observe como essa Marcha Nupcial é bem construída musicalmente, no entanto, permanece esquecida nas prateleiras da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

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*Gyovana Carneiro é professora da Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás

O Jornal UFG não endossa as opiniões dos artigos e colunas, de inteira responsabilidade de seus autores.

Fonte: Secom UFG

Categorias: colunistas Papo Musical Emac