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Universidade Federal de Goiás
PORQUE O ESTADO IMPORTA

PORQUE O ESTADO IMPORTA

Em 01/06/22 09:32. Atualizada em 01/06/22 09:33.

A BNCC e o novo ensino médio diminuem a necessidade de professores na rede pública?

Gabriel Vilela*

Não!

O estado tem afirmado que o Novo Ensino Médio e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) diminuem a necessidade de professores de área (química, física, biologia, história, geografia, sociologia...) nas escolas. Contudo, essa afirmação desconsidera que essas novas políticas educacionais visam o aumento da carga horária da escola que antes era de 2400 (duas mil e quatrocentas) horas para 3000 (três mil) horas. Esse aumento de carga horária contempla tanto as aprendizagens obrigatórias pela BNCC quanto os novos e polêmicos itinerários formativos. O aumento de disciplinas resulta no aumento de carga horária e extrapola a carga horária máxima de um professor. Na verdade, o novo itinerário exige mais horas de estudo, planejamento e formação do professor, uma vez que são mesmos professores de área que ministram essas novas disciplinas. Nesse sentido, o novo ensino médio e a BNCC, na verdade, exigem a contratação de mais professores do que as antigas políticas educacionais previam.

Para melhor ilustrar esse cenário podemos analisar os exemplos dos Colégios de Ensino em Período Integral (CEPI’s). Os alunos dos CEPI’s possuem 9 (nove) aulas diárias que totalizam 45 aulas semanais. Aulas essas distribuídas entre as disciplinas tradicionais (química, física, biologia, geografia, português, inglês...) e as disciplinas do “núcleo diversificado” (projeto de vida, eletivas, estudo orientado, tutoria...). Quais são os professores que ministram as aulas do núcleo diversificado? Os mesmos que ministram as disciplinas tradicionais! O professor de um CEPI chega a possuir carga horária de 34 (trinta e quatro) aulas semanais e apenas 11 (onze) aulas de estudo são distribuídas entre tutoria, orientação de projeto, reunião de formação geral, planejamentos com coordenadores etc. Em vez de se contratar mais professores para melhor distribuir essa carga horária, esse exemplo mostra que a implementação dessas políticas educacionais diminuem a razão “aula/planejamento”, precarizando ainda mais o trabalho do servidor público da educação.

Para além das novas políticas educacionais, vale mencionar que o Plano Estadual de Educação (PEE) do estado de Goiás (instituído por meio da Lei nº 18.969/2015) tem como meta 3 “ampliar a oferta da educação em tempo integral em 50% (cinquenta por cento) das escolas da rede pública, atendendo, de forma gradativa, a 25% (vinte e cinco por cento) das matrículas” até 2025.

Sobre essa meta vale fazer duas pontuações:

1) Transformar uma escola parcial em escola de período integral diminui a quantidade de vagas disponíveis para estudantes. Se uma escola parcial atende 1000 estudantes em 3 turnos, a escola integral atende apenas 400. Dessa forma, não basta apenas se transforme as escolas parciais em escolas de período integral. É necessário a construção de novas escolas (tanto parciais quanto integrais). E isso exige a contratação de mais professores.

2) As escolas de período integral não são tão afetadas pelo novo ensino médio. Isso porque a carga horária dela já é superior à que é proposta. Esse fato não diminui a importância de novas contratações, muito pelo contrário. Como argumentamos no início desse texto, é necessário a ampliação da carga horária do professor que atua na escola integral, e com isso, é necessário também a contratação de novos professores.

Vale ressaltar que essa explicação visa apenas refutar o discurso das entidades que defendem que haverá uma redução na demanda por professores na rede pública de ensino. Esse discurso não encara a realidade de dentro da escola e muito menos a demanda dos professores por condições melhores de trabalho.

Nossos apontamentos não contemplam nossa opinião as contrarreformas que essas novas políticas educacionais representam. Defendemos uma educação pública de qualidade, gratuita, socialmente referenciada, politécnica e unitária, que visa a formação integral de um sujeito crítico, consciente, emancipado e com todas as suas potencialidades desenvolvidas. Em poucas palavras, uma educação que não está contempladas pelo retrocesso dessas políticas educacionais.

* Gabriel Vilela é licenciado em Química pela UFG, professor e coordenador no CP Comunidade FazArte, professor contratado no Estado de Goiás. A coluna Porque o Estado Importa é do Observatório do Estado Social Brasileiro (IESA).

O Jornal UFG não endossa as opiniões dos artigos e colunas, de inteira responsabilidade de seus autores.

Fonte: Secom UFG

Categorias: colunistas Porque o Estado Importa IESA