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Universidade Federal de Goiás
Tecnociência

A ambivalência da técnica

Em 18/06/19 16:42. Atualizada em 18/06/19 17:12.

Seminário discute como a tecnociência pode controlar e transformar a sociedade

Kharen Stecca

Como a técnica e a teoria podem se unir e criar cenários de mudança? Como técnica e ciência podem ser ao mesmo tempo controle e transformação? Essa é a temática do 3º Colóquio de Linguagens Midiáticas realizado na Faculdade de Educação (FE/UFG) nos dias 17 e 18 de junho pelo Grupo de Estudo Novas Tecnologias e Educação (GENTE/FE/UFG) que busca discutir a Tecnociência. A coordenadora do grupo, professora da FE, Cleide Rodrigues abriu o evento explicando que a intenção do evento é colocar no palco as discussões filosóficas junto com a discussão da tecnologia que é o objeto de estudo do grupo.

Tecnociência
 Projeto Contação de Histórias Encantadas apresentou a história "O vendedor de bonecos"(Fotos: Kharen Stecca)

 

Para fazer a discussão foram convidados dois pesquisadores: Cláudio Afonso Fleury, professor da área de Eletrônica do Instituto Federal de Goiás que apresentou um projeto de extensão realizado por ele e outros professores de ensino de robótica em escolas públicas e a professora da Faculdade de Educação, Sílvia Zanolla que trabalha com Teoria Crítica e Psicanálise e fez uma análise teórica sobre a tecnociência.

Cláudio iniciou com uma apresentação do projeto que foi aplicado no ano passado em duas escolas públicas com apoio de empresas que forneceram o material para construção dos robôs utilizados com os estudantes. Os encontros temáticos tinham a proposta de ensinar sem que os alunos percebessem que estavam aprendendo conceitos de diversas disciplinas como Geometria, Artes, Biologia e Física. Ele explica que a ideia surgiu da intenção de agir nas condições que propiciam a violência urbana. Para ele, a ociosidade de adolescentes no contraturno da escola é um dos pontos que precisam ser pensados. “Nossa intenção era oferecer no contraturno uma opção de ocupação dos estudantes com atividades construtivas, evitando que desperdicem tempo com atividades que não acrescentam para a vida dos adolescentes”. Para ele, os adolescentes estão envoltos em uma ilusão midiática de aplicativos, redes sociais e influenciadores digitais (youtubers) que fazem com que se interessem mais pelo que está longe do que pelo local onde ele vive e suas reais condições, e que o excesso de informação, provoca a falta dela.

Tecnociência
Seminário discute a tecnociência

 

O projeto, segundo ele, também ajuda a despertar o interesse de estudantes para a área tecnológica e divulgar os cursos do Instituto Federal de Goiás. “Muitos estudantes não sabem da existência dos cursos e muito menos que são gratuitos”, explica. Para ele unir educação e inovação é uma forma de buscar mudanças em nossa sociedade ou, pelo menos, uma tentativa: “Entre ficar de braços cruzados e tentar, prefiro tentar”, ressaltou ele.

A professora Sílvia Zanolla falou do ponto de vista teórico sobre a tecnociência. Para ela não é possível separar técnica e criação, pois estão alinhadas. A grande questão do desenvolvimento tecnológico para ela é que ele não acompanha o desenvolvimento humano. As redes sociais, por exemplo, refletem os mecanismos de defesa do ser humano. “A internet não materializa objetivamente as pessoas e, por isso, elas encontram nas redes sociais a coragem de se mostrar, é a desumanização frente à tecnologia”, afirma. “A tecnologia é sempre ambivalente, não é boa ou má, ela pode ser ao mesmo tempo motor de motivação e de problemas”. A professora estudou jogos eletrônicos em seu doutorado e diz que, na época não havia muitos jogos educativos, apenas jogos violentos. “Não se pode afirmar que ver jogos violentos faz com que pessoas cometam crimes”, mas explica que dependendo dos conteúdos pode influenciá-los, mas depende de uma série de fatores. “O importante é que jogos também podem ser educativos se o conteúdo for bem definido”. Para Sílvia Zanolla, a grande questão é que não devemos “tomar partido”, idealizar as coisas, tudo é ambivalente. Ela ressalta que a própria universidade peca pela falta de diálogo com outras ideias “é preciso criticar o próprio esclarecimento, superar contradições e reconhecê-las”. Também destaca que não devemos romantizar a técnica: “Nada é perfeito. Não devemos fazer adesão cega ou prejulgamento, pois isso inviabiliza o diálogo”.  O importante é lutar contra a ignorância, não idealizar controle como negativo e transformação como positivo, resistir ao mecanicismo e evitar as polarizações: “A polarização evita o pensar, basta tomar partido de um lado para silenciar o diálogo”.

Fonte: Secom UFG

Categorias: Humanidades