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Universidade Federal de Goiás
Artigo EVZ

Deixem o nosso bacon no suíno, por favor!

Em 09/10/19 15:16. Atualizada em 11/10/19 09:55.

Artigo discute a criação e produção de carne sintética para substituir carne suína

Isabela Almeida Campos, Amoracyr José Costa Nuñez, João Restle e Vivian Vezzoni de Almeida*

Artigo EVZ

Como amantes de um bom bacon, imaginem nossa surpresa, ou tristeza, ao descobrirmos que, algum dia, ao morder um suculento sanduíche, poderemos não sentir o verdadeiro sabor defumado e a textura crocante do nosso bacon. Você não entendeu? Então prepare-se para conhecer o mais novo “alimento” que está sendo cultivado em placas de Petri. Os nomes variam: carne de laboratório, sintética, artificial, cultivada, in vitro, ou ainda “carne limpa”. Após o primeiro hambúrguer bovino cultivado em laboratório ter sido apresentado ao mundo em 2013, agora é a vez da carne suína. Pesquisa britânica da Universidade de Bath tenta desenvolver o “bacon” de laboratório a partir de um grupo de células extraídas de suínos sem a necessidade de abater o animal. Porém, já adiantamos que reproduzir o sabor e a textura idênticos ao bacon original não será uma tarefa fácil. 

Há quem torça o nariz e insista que carne cultivada em laboratório não é carne de verdade e, portanto, opõe-se ao uso do termo “carne” na rotulação desse produto. Se querem cultivar células animais artificialmente para criar pedaços de algo que imita a carne, tudo bem, só não queremos comprar bacon de mentirinha achando que é bacon de verdade. E a discussão não para por aí! Sob o ponto de vista dos ativistas pelos direitos dos animais, os métodos empregados na cadeia produtiva da carne geram crueldade e maus-tratos aos animais. Logicamente, a tecnificação dos sistemas produtivos tornou-os mais rentáveis e competitivos, mas também mais conscientes para o atendimento das necessidades básicas dos animais – que vão muito além de comida, água e abrigo. Podemos dizer que hoje existe uma estreita conexão entre o bem-estar animal e a qualidade final do produto: a carne. Isto é, o estresse sofrido pelo animal mal manejado pode resultar em uma carne com características pouco atrativas ao consumidor. 

Deixando de lado esse caloroso debate, destacamos que uma das maiores promessas dos fabricantes de “carne limpa” é que a tecnologia de cultura celular animal reduz os impactos negativos ao meio ambiente causados pelos gases do efeito estufa, dentre eles o metano e o dióxido de carbono. A bem da verdade, estimativas da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) apontam que o setor pecuário responde por cerca de 15% das emissões totais de gases do efeito estufa, principalmente metano, que possui potencial de aquecimento 28 vezes maior que o dióxido de carbono – mas não se deixe enganar! Embora as emissões da carne cultivada em laboratório sejam essencialmente dióxido de carbono, seu legado de aquecimento tem grandes chances de persistir a longo prazo. Isso porque o metano leva aproximadamente 12 anos para desaparecer da atmosfera, enquanto o dióxido de carbono ali persiste por milhares de anos. No fim das contas, o cultivo celular em larga escala para fins comerciais pode não ser tão sustentável como se anda prometendo. 

Se você já se cansou disso tudo, você não está sozinho. É de senso comum que a “carne” cultivada em laboratório tem apelo para um público que carrega inúmeros pontos de vista éticos que vão do ambientalismo às preocupações com o bem-estar animal, e não há problema algum nisso. No entanto, é nosso direito consumir aquilo que acreditamos estar consumindo, de modo que rótulos que expliquem que o produto não é feito do jeito que os consumidores estão acostumados são essenciais para o processo de decisão de compra. Mas, sejamos sinceros: trocar o bacon suíno pela versão sintética não nos parece um bom negócio. Gostamos do que é real e, particularmente, esperamos que deixem o nosso bacon no suíno.

Isabela Almeida Campos é graduanda do curso de Zootecnia da Escola de Veterinária e Zootecnia (EVZ/UFG), Amoracyr José Costa Nuñez é pós-doutorando do Programa de Pós-graduação em Zootecnia (PPGZ/EVZ/UFG), João Restle é professor do PPGZ/EVZ/UFG e Vivian Vezzoni de Almeida é professora de Produção de Suínos (EVZ/UFG).

Fonte: Secom UFG

Categorias: artigo