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Universidade Federal de Goiás
Edna Regina Pereira

Especialista fala sobre prevenção e doenças renais

Em 10/03/20 13:11. Atualizada em 10/03/20 13:17.

12 de março é dia mundial dos rins

Ascom do HC-UFG/Ebserh

Edna Regina Pereira
Nefrologista do HC, Edna Regina Pereira fala sobre cuidados com a saúde dos rins

DIA MUNDIAL DOS RINS – 12 DE MARÇO DE 2020

O Dia Mundial do Rim foi idealizado pela Sociedade Internacional de Nefrologia (ISN) com o objetivo de conscientizar as pessoas sobre a importância da saúde dos rins. No Brasil, a campanha é coordenada pela Sociedade Brasileira de Nefrologia. Comemorado na segunda quinta-feira do mês de março, o Dia Mundial do Rim será celebrado neste ano no dia 12 de março. A Campanha, realizada pela SBN, tem como tema de 2020 “Saúde dos rins para todos. Ame seus rins. Dose sua creatinina!” A nefrologista do HC-UFG, Edna Regina Pereira, fala sobre a Doença Renal Crônica (DRC), doença que acomete muitos brasileiros, podendo levar à falência progressiva da função renal. Veja como cuidar da saúde dos seus rins e saber mais sobre a DRC.

 

Qual a importância de se manter a saúde dos rins?

Edna Regina Pereira - O rim é um dos órgãos vitais do organismo, sua falência está associada ao comprometimento de função em outros órgãos e comprometimento da vida. No Brasil, cerca de 120 mil pessoas estão em terapia renal substitutiva (hemodiálise, diálise peritoneal e transplante), com alta taxa de mortalidade e custos de saúde elevados. Manter a saúde do rim está associado à maior longevidade e qualidade de vida.

 

O que é a Doença Renal Crônica e quais os principais sintomas?

Edna Regina Pereira - A doença renal crônica (DRC) está relacionada com a perda progressiva e irreversível da função renal, e tem 5 estágios na sua evolução. Os estágios iniciais 1 e 2 da doença podem passar despercebidos, a doença é silenciosa, ou seja, com poucos ou nenhum sintoma.O diagnóstico ocorre apenas por alterações nos exames de urina, sangue ou imagem quando solicitados por um médico. No estágio 3, aparecem a hipertensão arterial, anemia, alteração nos ossos, dificuldade de concentrar a urina com aumento da frequência urinária, em especial à noite. No estágio 4, os sintomas do estagio 3 se agravam e podem aparecer náuseas, vômitos, falta de apetite, insônia, irritabilidade, sonolência e dor nas pernas. No estagio 5, os sintomas do estágio anterior se agravam e pode aparecer dispnéia, sangramento digestivo, coma, inchaço na face e membros inferiores, prurido, palidez na pele, arritmia, entre outros sinais e sintomas com necessidade de iniciar a terapia renal substitutiva para manutenção da vida.

 

Quais os principais grupos de risco para o desenvolvimento da DRC?

Edna Regina Pereira -Os pacientes de maior risco para DRC são hipertensos, diabéticos, obesos, tabagistas, doenças reumatológicas, como lúpus e artrite reumatóide, portadores de vírus B, C e HIV, doenças hereditárias, como a doença renal policística, cálculos urinários, uso crônico de antiinflamatórios e protetores gástricos, como omeprazol.

 

Como se prevenir da DRC? Quais os principais exames que confirmam o diagnóstico da DRC?

Edna Regina Pereira -A prevenção está relacionada com o tratamento da doença que deu origem a DRC, ou seja, tratar a hipertensão arterial, o diabetes, a obesidade, evitar o uso indiscriminado de medicamentos ou outro distúrbio associado. Além de dosar regularmente a creatinina no sangue e a pesquisa de albumina na urina. Toda pessoa, em especial aquelas do grupo de risco, deve realizar a dosagem de creatinina e pedir ao médico (ou o laboratório) para calcular a taxa de filtração glomerular (TFG). É considerado portador de DRC aqueles com TFG menores que 60 ml/min ou a presença de albuminúria (valores > 30 mg/g).

 

Quais as formas de tratamento da Doença Renal Crônica?

Edna Regina Pereira - O tratamento conservador da DRC, em suas fases iniciais, é o da doença original como o controle rigoroso do diabetes, da hipertensão, da obesidade, da litíase, suspensão do tabagismo, tratamento das doenças reumáticas e infecciosas, suspensão de drogas nefrotóxicas. Existem também medicamentos específicos que reduzem a proteinuria e progressão da DRC. Em uma fase mais tardia, o tratamento dos sintomas e das complicações, como o uso da eritropoetina para anemia e vitamina D para os distúrbios ósseos. Na fase cinco, estão indicados os métodos dialíticos (hemodiálise e diálise peritoneal) e o transplante renal.

 

O que é a hemodiálise?

Edna Regina Pereira - Hemodiálise é um método de diálise onde o sangue é filtrado utilizando uma máquina especial, um filtro (chamado capilar ou dialisador) e uma solução de diálise (dialisato). Durante esse processo, o sangue vai sendo purificado das toxinas acumuladas. O acesso ao sangue do paciente pode ser feito em situação de urgência por meio de um cateter colocado em uma veia de grande calibre, como a jugular, ou de maneira preferencial pela realização prévia de uma fístula arterio-venosa.

 

Qual é a diferença entre a hemodiálise e a diálise peritoneal?

Edna Regina Pereira - Na hemodiálise, a filtração do sangue ocorre por meio de uma membrana artificial externa (capilar ou dialisador) e necessita do cateter em veia central ou a fistula arterio-venosa. Na diálise peritoneal, o filtro é a própria membrana que reveste o abdômen, denominada peritôneo, há necessidade da passagem de um cateter denominado Tenckhoff e a infusão de líquido na cavidade peritoneal. A cada drenagem do líquido, as impurezas do sangue são eliminadas.

 

Em quais casos a hemodiálise deve ser indicada?

Edna Regina Pereira - A hemodiálise e diálise peritoneal são indicadas em pacientes com DRC no estágio 5 (TFG < 15 ml/min) e com sintomas. Os benefícios estão relacionados com a retirada das toxinas do organismo, melhora dos sintomas, da qualidade de vida e a própria sobrevivência. Se o paciente não realizar o procedimento, em algum tempo a doença será fatal. Os efeitos colaterais mais comuns da hemodiálise são hipotensão, cefaleia, câimbras durante a sessão, que podem ser minimizados com um ganho de peso mais controlado entre as sessões.

 

Qual o tempo de duração de uma sessão de hemodiálise e a quantas sessões, por semana, o paciente deve se submeter?

Edna Regina Pereira - Pode haver variações, mas a maioria realiza a hemodiálise intermitente 3 vezes na semana, com uma duração de 3,5 a 4 horas cada sessão.

 

Até que ponto uma pessoa que se submete a hemodiálise pode ter uma vida normal?

Edna Regina Pereira -Como todo procedimento, o paciente precisa adequar seus horários para ir na clínica três vezes na semana. Pode continuar a trabalhar, dirigir, estudar e até viajar, desde que os horários sejam ajustados à sua rotina.

A alimentação é mais liberada quanto à ingestão de proteína, a quantidade de água vai depender de quanto é a sua diurese. Por exemplo, se o paciente urina 300 ml por dia, pode acrescentar mais 500 ml de líquido, em um total de 800 ml por dia e assim prevenir um ganho excessivo de peso.

Quanto às viagens, podem ser realizadas desde que seja garantida a continuidade do tratamento. O paciente solicita a um centro de diálise a “hemodiálise em trânsito” na cidade pra onde deseja viajar. O procedimento é garantido pelo SUS, tanto a hemodiálise normal como a hemodiálise em trânsito.

 

Quais os avanços em hemodiálise nos últimos anos?

Edna Regina Pereira - As máquinas de hemodiálise são mais seguras, com um melhor controle da retirada de líquido e toxinas e menos sintomas durante as sessões. Outros avanços são equipamentos que proporcionam uma maior pureza da água (como a osmose duplo passo), filtros adicionais nas máquinas para controle bacteriano. Medicamentos mais eficientes para a anemia e doença óssea como o cinacalcete. Maior individualização das sessões. Como a hemodiálise incremental (menos tempo), a hemodiálise diária ou em casa (home dialysis).

 

Como funciona o Serviço de Hemodiálise do HC-UFG?

Edna Regina Pereira - Hoje temos 10 máquinas de hemodiálise em funcionamento com capacidade para atender 60 pacientes. O HC é especializado em hemodiálise pediátrica, atendendo atualmente nove crianças. Também é referência em Diálise Peritoneal, com 45 pacientes nesta modalidade.

Uma das características de alta relevância para saúde publica é a elevada rotatividade do serviço. A maioria dos pacientes da hemodiálise do HC vem como urgência pelo pronto socorro e unidade de terapia intensiva.Assim que estabilizam, são referenciados para a rede de atenção à saúde para que novos pacientes sejam atendidos.

 

Quando o transplante renal é indicado?

Edna Regina Pereira - A indicação para o transplante renal é a mesma da hemodiálise ou seja, TFG < 15 ml/min. O que diferencia são as contraindicações para o transplante, como muito idosos, com co-morbidades, doença cardiovascular avançada, demência, ou infecções ou neoplasias em tratamento.

Uma pessoa que realiza transplante renal pode levar uma vida normal ou terá que continuar fazendo tratamento renal?
O transplante renal oferece uma melhor sobrevida e qualidade de vida aos pacientes sem contraindicações ao procedimento. Após o transplante, o paciente vai precisar do uso contínuo de medicamentos que inibem a resposta imune (os imunossupressores). Precisará de acompanhamento especializado por toda a vida. Pode perder a função renal novamente e retornar para a hemodiálise, diálise peritoneal ou transplantar novamente.

 

Quais hospitais de Goiânia realizam transplante de rins?

Edna Regina Pereira - Atualmente o Hospital Geral de Goiânia (HGG) realiza o maior número de transplantes. Também é realizado na Santa Casa de Goiânia. No momento, o HC está aguardando a Habilitação pelo Sistema Nacional de Transplante Renal para realizar o procedimento. Esperamos voltar a realizar Transplante Renal no HC-UFG/EBSERH em 2020.

Edna Regina Silva Pereira é Doutora em Nefrologia pela Universidade de São Paulo (USP), professora Titular do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFG, nefrologista do HC-UFG/Ebserh e chefe da Gestão de Cuidados do HC-UFG/Ebserh.

 

Fonte: Ascom do HC-UFG/Ebserh

Categorias: Saúde