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Universidade Federal de Goiás
Artigo Dr. Everaldo

Servidores da UFG homenageiam procurador Everaldo Rocha

Em 28/06/18 11:26. Atualizada em 29/06/18 11:09.

Reitor Edward Madureira e servidores do gabinete assinam artigos de homenagem a procurador-chefe da UFG

Edward Madureira Brasil*

Conheci o Everaldo, ou melhor, o Dr. Everaldo, como quase todos o chamavam – e não tenho dúvidas de que o tratamento mais adequado a essa pessoa iluminada seja esse, tamanha a sua erudição e competência – por volta do ano 2000, quando eu era diretor da Escola de Agronomia e ele era chefe de gabinete da Reitoria, na gestão da professora Milca Severino Pereira.

Muito provavelmente ele não se lembrava mais dessa passagem e nunca tive a oportunidade de voltar a falar com ele sobre esse episódio. Estava eu às voltas com um problema de revisão de nota de um estudante e acabei procurando-o no gabinete da Reitoria para interpretar o que estava escrito no Estatuto da UFG sobre a matéria. Recebi, naquele momento, uma verdadeira aula de um rapaz de 20 e tantos anos, mas de uma elegância, segurança, lucidez e sensatez que poucas vezes eu tinha me deparado em toda a minha existência. Começou ali uma admiração que só cresceu ao longo dos anos.

Alguns anos depois, entre o final de 2005 e início de 2006, eu já estava eleito reitor e quase empossado, envolvido com a formação da equipe. Por sugestão do então vice-reitor, professor Benedito Ferreira Marques, e em conjunto com ele, resolvemos convidar o Dr. Everaldo para assumir a chefia da Procuradoria Federal da Advocacia Geral da União, junto à UFG. Como era característica dele, não aceitou de pronto, argumentou que havia procuradores mais experientes e mais preparados para a missão, mas, diante de nossa insistência, pediu um tempo para refletir antes de dar uma resposta. Para nossa felicidade, ele terminou por atender ao nosso convite e, a partir de então, tornou-se uma grande referência jurídica, não só para a UFG, mas perante a Procuradoria Federal em Goiás e no Colégio de Procuradores Federais das Instituições Federais de Ensino Superior.

Tentarei e, de antemão, afirmo que não serei capaz de fazer referência a algumas de suas inúmeras virtudes. Ressalto a inteligência rara de que era dotado como a primeira característica desse ser humano que era capaz de, mesmo diante de assuntos absolutamente novos no âmbito do trabalho, emitir opiniões precisas e perfeitamente aderentes ao tema. Competente como poucos em sua profissão, Everaldo orientava, emitia pareceres, elaborava peças de defesa e defendia a instituição com legitimidade e segurança incomuns. Era extremamente dedicado e estudioso. Não raras vezes, a luz do andar superior da lateral direita do prédio da Reitoria acendia-se ainda na madrugada, quando se debruçava sobre as questões mais complexas para lograr êxito na defesa institucional.

Responsável ao extremo, não perdia um prazo sequer, mesmo que isso lhe custasse assumir tarefas de outros, com consequentes prejuízos pessoais e à família. Somam-se a isso duas qualidades pessoais raras nos tempos atuais, em que os interesses pessoais sobrepujam os coletivos: refiro-me à sua ética e coerência incomuns, que lhe permitiam tratar questões extremamente complexas que envolviam interesses de indivíduos, instituições, organizações empresariais, corporações e outros com a isenção e a firmeza exigidas pela boa e justa advocacia.

Sua capacidade de argumentação oral e escrita era invejável e não raras vezes fui convencido por ele a adotar caminhos completamente distintos dos que minha razão indicava, e, invariavelmente, as alternativas sugeridas por ele se mostravam eficazes. A sua infalibilidade apresentava-se da mesma forma no contencioso. Não me lembro da última vez em que não fomos vitoriosos em ações contrárias à universidade, tanto nas atividades-meio como nas finalísticas.

Compreendia como poucos o significado de autonomia universitária e fazia disso um sacerdócio, fazendo valer aquilo que prescreve o artigo 207 de nossa Carta Magna nas diferentes instâncias do Judiciário e nas diferentes esferas do serviço público. Foi de fato um grande inovador no campo do Direito no que concerne ao nosso maior valor, que é a autonomia universitária, viabilizando alternativas para que nossa instituição se tornasse referência em eficiência administrativa, inovação tecnológica, ações afirmativas, direitos humanos e em tantos outros aspectos institucionais.

Extrapolou infinitamente as suas funções de assessoria ao gabinete do Reitor e tornou-se o grande porto seguro de todos os gestores da UFG, tanto dos coordenadores das áreas finalísticas da instituição ⎼ ensino, pesquisa, extensão, cultura e inovação ⎼ quanto dos responsáveis pelas áreas-meio, como administração, planejamento, gestão de pessoas e outras. Da mesma forma, os diretores de órgãos e de unidades recorriam a ele diuturnamente para buscar respaldo em questões diversas. Atendia a todos indiscriminadamente, sempre com paciência, serenidade e gentileza, nunca deixando quem quer que fosse sem a devida resposta e a orientação segura.

Apesar de toda a competência, mostrava-se humilde quando se deparava com temas desconhecidos, propunha-se a estudar e no dia seguinte a solução estava pronta antes do amanhecer. Discreto, passava longe de fotos, microfones, holofotes, bajulações, pois era desprovido de vaidade, arrogância e presunção. Modesto, dividia com sua equipe e conosco os seus feitos, com a simplicidade dos grandes seres humanos. Amava essa instituição como poucos, mesmo que há quase vinte anos já não fizesse parte de seu quadro de servidores, servia a ela como ninguém e materializava o verdadeiro espírito do servidor público na completa acepção desse termo.

Desfrutei de sua amizade e nesses últimos dias deparei-me com tantos que o admiravam, como eu, pela sua simplicidade, sabedoria, gosto pelas artes, especialmente pelo cinema, e que entre uma e outra conversa formal puderam conhecer um pouco melhor o exemplo de ser humano que existia por detrás do procurador correto, justo, perspicaz e afável.

Em família não era diferente, falava com orgulho dos filhos Lucas e Lígia, aos quais se dedicava e acompanhava todos os passos. Seu amor e companheirismo com o seu pai, Clidenor, e com a sua mãe, Aparecida, materializavam-se no convívio, nas viagens para o Tocantins, no respeito e na admiração. Encontrou na universidade a professora Aline, grande paixão de sua vida, e com ela viveu um grande amor nos seus últimos oito anos de vida.

Seu irmão gêmeo Luciano, advogado competente, era seu conselheiro e maior amigo, assim como suas irmãs Ana Laura e Milena. O exemplo de grandeza e força que essa família nos deu nos últimos dias pode ser traduzido pelos pronunciamentos de seu irmão, quando em inúmeras situações desses dias tão dolorosos para todos nós, que buscávamos desesperados e desolados uma explicação pela ausência do Dr. Everaldo, ele nos confortou, quando o contrário deveria acontecer.

Certamente estamos todos menos protegidos, pois o nosso anjo da guarda na terra, como eu costumava brincar com ele, se foi, mas o exemplo de ser humano fica para ser seguido por aqueles que acreditam que é possível construir um mundo melhor.

Para terminar, recorro a Fernando Pessoa (heterônimo Ricardo Reis), que em um de seus poemas, traz luz à conduta que deveríamos ter, e que – como ninguém – o nosso querido Dr. Everaldo traduziu e expressou nesse breve tempo em que compartilhou sua existência conosco:

"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive".

Everaldo, hoje você brilha no céu e certamente seu brilho jogará luz em nossos caminhos. Descanse em paz, meu irmão!

* Reitor da UFG.

 

Dr. Everaldo

Dr. Everaldo Rocha Bezerra Costa, procurador-chefe junto à Universidade Federal de Goiás (Carlos Siqueira)

Dos servidores do Gabinete

Instituições, empresas ou gestões são formadas por bens materiais, ideais e valores. Todavia, instituições são formadas, sobretudo, por pessoas. Por isso, agradecemos a Vossa Excelência pelo seu esforço contínuo e sua dedicação inabalável, desde o primeiro até o último dia nesta Universidade. Infelizmente, trata-se de uma despedida e, aqui, meu caro, as palavras devem fazer reverência à saudade e à gratidão. Saudades provocam choro, que vem exatamente porque lhe somos gratos, Everaldo.

As lágrimas serão nossa assinatura neste contrato de emoções, que desta vez não irá se restringir a aspectos jurídicos e formais. Nossa gratidão não se limita a isso, vai além, imanta cada lição e aprendizado que Vossa Excelência humildemente compartilhou com os servidores desta Instituição.

Servidor exemplar, de conduta irrepreensível, cumpriu seu mister com dedicação ímpar e nos inspirará agora e sempre. Justo, cumpriu não só a lei dos homens, mas também fez cumprir a lei divina, pois: "A execução da justiça é motivo de alegria para o justo; mas é espanto para os que praticam a iniquidade" (Provérbios 21:15), e assim o fez, com alegria, todos os dias, nesta Universidade.

A vida é efêmera, passa muito depressa diante de nós, sem que, por vezes, percebamos enormes conquistas e grandes talentos, sem que vejamos o real tamanho de gigantes. Sem dúvida, este não foi o seu caso, Everaldo, todos sabiam do seu trabalho e empenho em prol da Universidade Federal de Goiás. A origem do seu nome, Everaldo, significa força, e é isso que desejamos a todos os amigos e familiares, neste momento de profundo pesar.

Hoje é o último expediente, mas nem todo fim precisa ser triste. Pessoas como nosso excelentíssimo Everaldo não passam e nem morrem, elas frutificam e proliferam-se, deixando como legado filhos de sangue ou do coração, e, como herança, ideais, princípios e valores éticos que nos guiarão para sempre em nossa carreira. Queríamos ter um dos seus sábios pareceres para sabermos o que fazer num momento como este, nobre amigo, mas desta vez teremos de acatar a saudade e o eterno sentimento de agradecimento por tudo que Vossa Excelência fez por esta casa.

Dos amigos servidores do Gabinete do Reitor
Anderson, Célia, Cíntia, Cristina, Denise, Edriene, Edward, Eriberto, Érica, Fernanda, Jailton, Joselita, Juliana, Kênia, Leandro Pinho, Leandro Luis, Leonardo, Lílian, Madilaine, Manoel, Marcelo, Matheus, Nelson, Renata, Ricardo, Rita, Roseane, Sandramara, Silvana, Tasso, Tuanni, Vicente, Vinícius, Yasmyne.

Rodapé

Fonte: Secom/UFG

Categorias: Artigo Edição 96