Pesquisa constata precariedade dos pontos de ônibus de Goiânia
Etnografia realizada em principais eixos do transporte coletivo revela abrigos pouco eficientes e malconservados
Luiz Felipe Fernandes
Cobertura pouco eficiente contra o sol e a chuva, calçamento irregular e falta de iluminação e sinalização adequadas. Essas características, bem conhecidas por quem utiliza o transporte coletivo em Goiânia, são apenas algumas das constatações de uma pesquisa que analisa a situação dos pontos de ônibus da capital. A pesquisa foi realizada pelo desenhista industrial Rodrigo Balestra Ferreira de Paiva, no mestrado em Projeto e Cidade, da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Munido de câmera fotográfica e caderno de anotações, Rodrigo percorreu regiões de Goiânia que possuem eixos estruturantes do transporte coletivo, como os Setores Universitário, Bueno e Central, além do Jardim Guanabara, na região Norte. Utilizando-se da etnografia – uma metodologia em que o pesquisador se insere no contexto pesquisado para observar e compreender determinada realidade –, ele foi capaz de constatar as limitações e deficiências dos abrigos, tecnicamente chamados de Pontos de Embarque e Desembarque (PED).
Em termos técnicos, os pontos de ônibus são pouco acessíveis e faltam espaços para cadeirantes e assentos em número e dimensão razoável para a maioria dos usuários. A manutenção desses abrigos também se mostrou deficiente, com estruturas pouco atraentes, escuras, sujas, com mau odor e perigosas, com pontos de ferrugem e ausência de informações básicas.
"Percebe-se que o acesso ao PED ainda é precário em praticamente todas as regiões da cidade, com calçadas pouco convidativas, sem rampas de acesso, construídas com material inadequado, sem sinalização, além de estruturas empenadas e localizadas em espaços pequenos que dificultam a passagem de cadeirantes, idosos ou crianças em carrinhos de bebê", destaca Rodrigo. Outro aspecto negativo é o excesso de cartazes e pichações em alguns pontos.
Usuários do transporte coletivo aguardam no ponto de ônibus: falta conforto para a espera (Rodrigo Balestra)
Experiência do usuário
A pesquisa também revela que a falta de manutenção dos pontos de ônibus interfere na relação das pessoas com a cidade. Rodrigo explica que um PED perde sua função quando deixa de oferecer aos usuários a orientação quanto ao seu destino, informações sobre linhas e itinerários e proteção contra as intempéries com relativo conforto.
"Sob a ótica da experiência do usuário, a sensação de abandono e insegurança pode se concretizar quando essa interação se torna frágil, pois cria uma noção de que o sistema de transporte público disponível poderia ser mais eficiente, organizado e capaz de compreender as verdadeiras necessidades dos passageiros", pontua o pesquisador.
A consequência, segundo Rodrigo, é que os PED ainda não participam de maneira positiva no dia a dia dos usuários do transporte público de Goiânia, que ainda demonstram pouco afeto e respeito pelo produto e que evitam usá-los além do tempo estritamente necessário.
Espaços dos abrigos poderiam ser melhor utilizados com finalidades informativas ou de marketing (Rodrigo Balestra)
Design e identidade
O pesquisador acrescenta que o mobiliário urbano compõe uma das várias identidades de uma cidade, por isso a importância do design dessas estruturas. "O sistema de informação em tempo real da RMTC, por exemplo, funciona muito bem e ajuda bastante os passageiros, além de tocar no ponto central da pesquisa: a relação do Design dos PED e sua implantação no espaço urbano como vetor de valorização da cidade, da autoestima dos habitantes e do cuidado com o mobiliário urbano", explica.
Nesse sentido, as cores, os materiais, as formas e as soluções diferenciam essas estruturas e podem torná-las identitárias, ou seja, reconhecidas tanto pela população da cidade quanto por visitantes ou usuários esporádicos. Rodrigo acrescenta que o fato de se tornarem úteis e admirados facilita o intercâmbio com outros segmentos de mercado, com a publicidade e o marketing, gerando retorno financeiro para a cidade e tornando a rotina dos usuários menos dura e fatigante.
Fonte: Secom/UFG
Categorias: pesquisa Edição 96 Humanidades