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Universidade Federal de Goiás
Retranca Eu faço a UFG Raclene

Inclusão de pessoas com deficiência vai além da socialização

Em 30/08/18 11:49.

Doutora em Sociologia pela UFG, Raclene Ataide de Faria pesquisou a autorrepresentação de pessoas com deficiência intelectual

Raclene Ataide de Faria*

Eu faço a UFG Raclene

A paixão pelos estudos sempre foi uma das minhas principais características. Ela impulsionou os meus sonhos referentes à graduação e à pós-graduação, todas cursadas na UFG. Apesar dela, a definição da carreira não ocorreu de modo precoce, mas na ocasião da realização do vestibular, no qual optei pelas Ciências Sociais. No curso, escolhido intuitivamente, encontrei respostas às indagações que sempre tive em relação às questões sociais e que não eram satisfeitas pelo senso comum.

Meu ingresso nessa área representou o feliz encontro entre o desejo de saber e o instrumental teórico e analítico necessário para satisfazê-lo.

Durante a graduação, por influência de uma das minhas irmãs, que é pedagoga, iniciei a carreira docente. Na junção da formação em Ciências Sociais com a prática docente encontrei a minha realização profissional, e nela os problemas que nas décadas seguintes nortearam as pesquisas que desenvolvi na pós-graduação lato e stricto sensu.

Os dilemas vividos no ambiente escolar decorrentes do processo de inclusão escolar, implementado no Brasil na segunda metade dos anos 1990, me conduziram ao estudo desse paradigma educacional. No processo de inclusão, senti a necessidade de compreendê-lo sob várias perspectivas, entre as quais a das pessoas com deficiência, mais especificamente da pessoa com deficiência intelectual. Isso por perceber divergências discursivas referentes a esse paradigma e por julgar necessário ampliar o debate a seu respeito incluindo a perspectiva das pessoas que, graças a ele, começaram a ter efetivo acesso às escolas regulares em classes comuns.

Nas pesquisas desenvolvidas sobre a autorrepresentação de pessoas com deficiência intelectual, percebi que a inclusão escolar é desdobramento de mobilizações de mães e pais de pessoas com deficiência iniciadas nos anos 1940 na Europa. Elas repercutiram mundialmente e aproximadamente 50 anos depois se efetivaram no cotidiano das escolas regulares brasileiras, alterando o padrão majoritário de escolarização de pessoas com deficiência intelectual em escolas ou classes especiais.

No âmbito escolar, essa efetivação ocorreu sem um prévio e amplo envolvimento docente, em razão da concepção docente em vigor, com exceções, de que, para as pessoas com deficiência intelectual, a inclusão escolar teria a socialização como a sua única finalidade, evidenciando o descrédito na capacidade de essas pessoas aprenderem os conteúdos escolares.

As pessoas com deficiência intelectual revelaram que para elas a socialização é algo muito importante. É o meio pelo qual elas aprendem os comportamentos sociais adequados à convivência social. Na interação aprendem tanto quanto ensinam às demais pessoas a conviver com as diferenças e a respeitá-las. Contudo, não têm a socialização como o único objetivo, elas se consideram capazes de aprender e almejam, mesmo conscientes de suas dificuldades, a superação dos seus limites e o seu desenvolvimento pessoal.

As pessoas com deficiência intelectual alcançadas pela inclusão escolar são novos sujeitos sociais. Têm uma estereotipia similar aos seus pares etários; são felizes; estão conquistando maiores níveis de autonomia; são usuários das mídias sociais; estabelecem significativas relações de amizade; vivenciam relações afetivo-sexuais com maior liberdade e naturalização que as gerações precedentes; estão mais antenadas às questões sociais; aspiram, no âmbito pessoal, ter uma vida comum, com trabalho, profissão, dinheiro, a própria casa, relacionamento afetivo-sexual com ou sem filhos e desenvolvimento do seu potencial cognitivo.

* Doutora em Sociologia pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e professora do ensino básico, técnico e tecnológico do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG).

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Fonte: Secom/UFG

Categorias: Eu faço a UFG Edição 97