Goiânia em fotos: um olhar sensível sobre a cidade
Projeto de extensão ultrapassa os limites da Universidade e convida a comunidade a ressignificar os espaços urbanos por meio da fotografia
Aline Borges
O homem deitado, calado, invisível, cochila à luz do dia à sombra da parede meio rosa do Grande Hotel. Quase desbotada, escrita, a parede fala, fala não, grita: "sai do armário". Mas a mulher que passa não diminui o passo para enxergar o homem, para ouvir a parede, só vai, segue o passeio, afinal, a cidade pulsa, os instantes fluem e a vida não para.
A metrópole tem de andar, correr, gerar vidas ao mesmo tempo em que enterra seus mortos. Mas naquele dia, Sarah Marques, a menina de bicicleta com uma câmera na mão, fez a cidade congelar e, naquele instante parado, o homem calado, a parede que grita e a mulher passante passaram a existir juntos, fizeram-se atores de uma mesma narrativa.
A história do primeiro hotel de Goiânia, que hoje resiste em meio ao descaso público, funde-se a do homem que foi cidadão um dia e da mulher que passou e não olhou. Só foi possível reconhecer essas histórias porque Sarah parou e, mesmo sem saber exatamente o que iria encontrar quando a foto analógica fosse revelada, construiu aquele instante, resolveu contar aquele conto, sem palavras.
O fato é que “a fotografia pode atuar como uma mediadora para refletir sobre o espaço urbano. A produção fotográfica nos convoca a olhar com mais atenção o nosso entorno. Na maioria das vezes, andamos absortos no cotidiano, com suas preocupações, e não percebemos a própria cidade. A fotografia solicita esse olhar mais atento que pode se converter em reflexões sobre o nosso estar no mundo”, explica a professora da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC), Ana Rita Vidica.
Essa inquietação por descobrir novos olhares sobre Goiânia fez que, em 2014, o Goiânia em Fotos fosse criado, primeiro como um projeto de extensão da FIC que, dois anos depois, democratizou-se, virou coletivo e até hoje existe, resiste e "busca contribuir com a sensibilização e o desenvolvimento do olhar fotográfico a partir da apropriação de espaços urbanos e da troca de experiências fotográficas. A iniciativa acredita no ato fotográfico para suscitar reflexões sobre a cidade", explica a fundadora do projeto, Marina Muniz.
Marina relembra a história do Goiânia em Fotos com muito orgulho. "Em abril de 2014, no meu último ano como professora na FIC, criei, juntamente com um grupo de alunos de Publicidade e Propaganda, o projeto de cultura e extensão Goiânia em Fotos. Após encerrar meu contrato na UFG, na metade de 2014, o projeto passou a existir como coletivo. Estamos encaminhando para os cinco anos de Goiânia em Fotos e, nesse período, já realizamos uma série de atividades", explica.
Entre as ações estavam saídas fotográficas para diversos pontos da cidade, como o Câmpus Samambaia, o Setor Campinas, o Centro e o Bosque dos Buritis. Quando tirou a foto do Grande Hotel, Sarah Marques participava em um desses eventos, que teve como diferencial o fato de ter sido feito de bicicleta, a Saída de Bike. "A gente saiu da Catedral, na Rua 10, deu a volta, desceu a Goiás, subiu pela avenida Tocantins e o ponto de encontro final foi a Praça Cívica", conta a publicitária que está ativa no projeto desde a criação. Ela explica, ainda, que nas saídas fotográficas, geralmente, há um tema pré-estabelecido e um convidado especialista no assunto para relacioná-lo com a fotografia e contar mais sobre o coletivo.
Explorando o espaço urbano: entre as saídas fotográficas do grupo, uma foi realizada de bicicleta (Sarah Marques)
Hoje, o Goiânia em Fotos conta com uma equipe que atua tanto na organização dos eventos quanto com a gestão de suas redes sociais. Como a ideia é conhecer Goiânia pelas perspectivas de seus moradores, qualquer um pode contribuir com o projeto enviando suas fotos. "Basta lembrar que ele é completamente voluntário; então, as pessoas que fazem parte são pessoas que gostam de fotografia, gostam de se reunir para falar sobre fotografia e tem interesse em nos ajudar na página, fazendo posts e divulgando", afirma Sarah. "As fotos não precisam ser super detalhadas ou com equipamentos fotográficos caríssimos. O que queremos é todos os olhares possíveis de todos os lugares da cidade, não necessariamente dos bairros centrais. Queremos conhecer Goiânia dentro de vários olhares", completa.
Participe do coletivo
Gostou? Para contribuir com o coletivo basta postar sua foto marcando a #GoiâniaemFotos ou enviar diretamente para o e-mail goianiaemfotos@gmail.com.
Siga o Goiânia em Fotos nas redes sociais:
Instagram: @goianiaemfotos
Facebook: Goiânia em Fotos
Fonte: Secom/UFG
Categorias: Extensão Edição 98 Arte e Cultura