É possível prevenir o suicídio?
Segundo psicoterapeuta Célia Maria Teixeira, é preciso enfrentar uma sociedade que não aceita o fracasso
Célia Maria Ferreira da Silva Teixeira*
O suicídio, considerado como um problema de saúde pública pela Organização Mundial de Saúde (OMS), encontra-se entre as três maiores causas de morte na faixa etária de 15 a 24 anos. Resulta de uma complexa interação de fatores biológicos, genéticos, psicológicos, sociais, culturais e ambientais, exigindo uma interface de conhecimentos, de forma a evitar uma visão unilateral do problema.
Cada vez mais, a sociedade vem assistindo ao desfecho drástico de muitas histórias de jovens que, num determinado momento, escolheram retirar-se da vida como solução para seus problemas. O suicídio parece indicar um modo específico do adolescente/jovem lidar com seus sentimentos, fazendo emergir a violência contra seu próprio corpo.
A tentativa de suicídio em jovens ganha dimensões importantes à medida que significa um pedido de ajuda de alguém que emocionalmente sofre e, necessita de uma avaliação cuidadosa de especialistas. Ajunta-se, também, a importância das pessoas de seu contexto de relação conseguirem identificar os sinais de alerta (avisos) de risco de suicídio. O suicídio e a tentativa de suicídio são questões sociais e comunitárias, tendo em vista afetarem o modo como se planeja e se leva à cabo os esforços para oferecer ajuda, tanto dos profissionais da área de saúde quanto da família, dos amigos, dos colegas da escola ou da universidade.
Não obstante saibamos que a presença de impulsividade aumenta o risco de uma pessoa tirar a própria vida, devemos considerar o suicídio como uma morte evitável. Para isso, faz-se necessário que as pessoas saibam mais sobre o fenômeno do suicídio e conheçam os fatores/situações que funcionam como barreiras/proteção ao suicídio. Para os jovens, o sentimento de pertença, a capacidade de pedir ajuda, a habilidade em comunicar-se e o apoio da família, dos professores e dos amigos podem significar pontes para a vida.
Vivemos em uma sociedade exigente. Espera-se desempenho satisfatório nos diversos papéis que se desempenha na vida, acompanhados de boa dose de sucesso. Não há espaço para se falar de medos e angústias diante das incertezas do existir.
É preciso, pois, criar condições para que a experiência de cada um na vida se desenvolva de forma saudável, sem pressões e opressões que venham impedir jovens de pensarem e sentirem sua existência. Criar condições para que os jovens percebam essa fase da vida como um tempo para viver grandes descobertas sobre si próprio e sobre o mundo, sempre ancorados na esperança, encontrando, a cada dia, razões para viver.
* Psicoterapeuta e professora da Faculdade de Medicina (FM) da UFG.
Fonte: Secom/UFG
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