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Universidade Federal de Goiás
Retranca Mais Vozes pela Ciência

Mais vozes pela ciência

Em 31/10/18 12:01. Atualizada em 05/12/18 13:49.

Plataforma Ignite estimula pós-graduandos a serem divulgadores científicos

Michele Martins

Programas de TV educativos, livros e revistas sobre ciência e o estímulo à curiosidade foram alguns dos elementos que marcaram a infância de Gracielle Higino. Tanto que, desde cedo, ela quis ser cientista. Seu maior interesse sempre foi a Biologia, mas seus olhos brilhavam ao folhear as revistas de divulgação científica mais populares das bancas de jornais. Hoje ela é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da Universidade Federal de Goiás (UFG) e uma protagonista no campo da divulgação científica. Preocupada em incentivar jovens cientistas a comunicarem suas pesquisas, Gracielle Higino elaborou uma plataforma chamada Ignite voltada para a formação de divulgadores de ciência.

“Pensei em elaborar um treinamento que tivesse módulos flexíveis, que funcionaria uma vez por semana, ou por mês, ou por demanda. O único módulo obrigatório é o básico, de Comunicação, para dar o fundamento para todos os outros. Há módulos voltados para a produção de textos, podcast, vídeos, fotos, entre outros. Dependendo da comunidade que solicita o treinamento, flexibilizamos o conteúdo”, explicou Gracielle Higino.

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Gracielle Higino superou sua timidez para se tornar divulgadora da ciência (Foto: Adriano Justiniano)

Seu projeto foi tão bem sucedido que este ano foi selecionado pelo Instituto Serrapilheira, organização que financia projetos de pesquisa científica no Brasil, para participar de um desafio. O Ignite concorreu com 871 inscritos e ficou entre os 50 selecionados, em 13 Estados brasileiros, para participarem do Camp Serrapilheira.

Esse desafio é dividido em duas partes: a primeira é a reunião de comunicadores para troca de experiências em workshops, apresentações, mesas-redondas e sessões de trabalho prático, que ocorreu no Museu do Amanhã, em setembro; na segunda etapa, haverá a seleção de projetos propostos por aqueles que participaram do Camp Serrapilheira.  Os projetos selecionados na segunda fase poderão ser apoiados com até 100 mil reais.

Ferramenta de colaboração

Apesar do acanhamento de se envolver com a comunicação, Gracielle Higino, atendeu aos estímulos de seus colegas que a incentivaram a falar sobre seus estudos. De acordo com a doutoranda, a primeira experiência em divulgação foi por meio de blogs. “Depois que participei de um treinamento da Mozilla sobre liderança de projetos abertos, os quais estimulam o desenvolvimento coletivo e compartilhado de projetos de pesquisa e de divulgação, tentei colocar em prática. Montei o projeto e usei os recursos da Mozilla para tentar desenvolver o treinamento, porque ia precisar de ajuda de todo tipo de pessoas, de habilidades”. Para desenvolver esse projeto, ela teve a colaboração de Maria Letícia Bonatelli, pós-graduanda em Jornalismo Científico pelo Labjor/Unicamp e pós-doutora pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", da Universidade de São Paulo (Esalq/USP).

A experiência

O Ignite funciona desde fevereiro de 2018. A primeira edição do workshop foi realizada na Universidade Federal de Alagoas, em Maceió,  em cinco módulos, com 40 horas de treinamento. Gracielle Higino identificou que pessoas do mundo inteiro se interessaram pelo projeto e quiseram ajudar. “Então ele cresceu muito rapidamente”, disse.

A estudante de graduação em Ciências Biológicas do Centro Universitário Celso Lisboa, Rio de Janeiro, Thâmara Cunha, soube do Ignite por uma rede social e se inscreveu. “Fui achando que ia aprender alguma coisa que me ajudasse a desenvolver minhas ideias, mas foi muito mais que isso. O Ignite foi um divisor de águas na minha carreira científica” afirmou a estudante.

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Participantes constroem juntos um manual de boas práticas em comunicação oral (Foto: Divulgação)

Após o workshop, que julgou ser completo e didático, Thâmara Cunha afirmou ter criado um grupo de mulheres na sua graduação, com o objetivo de ensiná-las a escrever artigo científico e, claro, publicar. “Com o que aprendi no workshop, eu quero passar e praticar o que foi ensinado. A proposta é, além de nos fortalecer como mulheres e cientistas, publicar artigos e levar conteúdos para outras mulheres que, infelizmente, não têm o privilégio de fazer uma graduação”, declarou entusiasmada.

A todo vapor

Neste final de ano, a agenda de Gracielle Higino estará repleta de atividades pelo Ignite. Em outubro ela ofereceu o treinamento em divulgação científica como minicurso no 15 Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão (Conpeex). De acordo com a doutoranda, participaram 18 pessoas e a avaliação foi muito positiva. “Nos dois dias abordamos assuntos como empatia na divulgação científica, storytelling (contar histórias) como técnica de comunicação de fatos científicos, identificação de fontes confiáveis, relação entre cientistas e jornalistas e finalizamos com o planejamento de um projeto de divulgação científica”, relatou.

Dentro da segunda fase da chamada de apoio a projetos do Serrapilheira, foi encaminhado “um projeto ambicioso, que visa levar o treinamento para locais fora dos grandes centros de produção de divulgação científica e incentivar projetos novos e criativos”, informou. O resultado será divulgado em dezembro, devendo ser executado no primeiro trimestre de 2019.

No dia 24 de outubro, Gracielle embarca para Londres, para participar do MozFest, festival anual da Mozilla que busca reunir iniciativas abertas à colaboração coletiva em diversas áreas. “Eu vou facilitar duas sessões: a primeira será sobre acessibilidade na divulgação científica, na qual os participantes me ajudarão a pensar em formas criativas de comunicar ciência em diferentes mídias, utilizando todos os sentidos. A segunda sessão será sobre revisão de preprints (artigos registrados, mas não publicados em periódicos, sujeitos ainda à revisão); nela, Daniela Saderi e eu coordenaremos uma revisão colaborativa e on-line”, declarou. Entusiasmada, Gracielle Higino acredita que “toda a atmosfera e construção desse Festival vai me dar novas ideias para implementar nos eventos do Ignite”.

Para ter mais mais informações sobre a plataforma, CLIQUE AQUI.

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Categorias: Edição 99 Tecnologia