Icone Instagram
Icone Linkedin
Icone YouTube
Universidade Federal de Goiás
Professor Rildo Bento

Lena Castello Branco, a história da saúde e a defesa da liberdade

Em 27/12/18 12:18.

Professor Rildo Bento, coordenador do curso de Museologia, homenageia a professora pioneira no estudo da História da Saúde em Goiás

A historiadora Lena Castello Branco Ferreira Freitas foi uma das pioneiras em desbravar em Goiás o vasto terreno da História da Saúde e das Doenças. Como historiadora, em 1999, há quase duas décadas, publicou o há muito já esgotado livro “Saúde e Doenças em Goiás: a medicina possível”, pela Editora UFG. A obra reuniu excelentes pesquisadores: Mary Karasch, que escreveu sobre os cuidados médicos na capitania de Goiás; Gilka Vasconcelos Ferreira de Salles, sobre as doenças em Goiás entre 1826 a 1930; Cristina de Cássia Pereira Moraes, que publicou parte de sua dissertação de mestrado sobre o Hospital de Caridade São Pedro de Alcântara na Cidade de Goiás, que foi o primeiro trabalho sobre história da saúde defendido no Programa de Pós-Graduação em História da UFG; Nancy Ribeiro de Araújo e Silva, que relacionou a questão da Educação e Saúde entre 1900 a 1940; Francisco Itami Campos, que analisou os serviços de higiene entre 1926 a 1938; a própria organizadora da obra, Lena Castello Branco Ferreira de Freitas, que produziu um estudo brilhante sobre Goiânia sob a perspectiva da saúde; e, por fim, Dalísia Elisabeth Martins Doles, que analisou a Santa Casa de Misericórdia e os hospitais pioneiros da jovem capital.  

Quase duas décadas se passaram, a obra esgotou-se, tornou-se clássica, e rompeu fronteiras, já que é um livro basilar nos estudos sobre história da saúde e das doenças no Brasil. Considero importante a UFG publicar a segunda edição desse grande marco da historiografia goiana, o primeiro a desbravar e apontar diversos caminhos de pesquisa, que estamos trilhando até hoje.

Para, além disso, a efeméride dos cinquenta anos de existência da Faculdade de História em 2018, criou-se um clima ainda mais simbólico na homenagem a trajetória acadêmica da professora Lena. Uma trajetória de muitos frutos, onde destaco dois: a criação do Museu Antropológico da UFG, um dos mais importantes museus universitários do Brasil, e a sua atuação como escritora de contos e crônicas que encantam os leitores.  

Na sessão solene de comemoração aos 50 anos da Faculdade de História, a professora Lena ressaltou, no seu discurso, a importância de se lutar pela liberdade acadêmica, de cátedra, pela autonomia universitária, pela pluralidade e pelo debate de ideias. Esses são, sem dúvida, os principais objetivos que norteiam a existência da própria instituição universidade. E sempre temos que afirmar e reafirmar que temos, aqui na UFG, uma universidade pública, gratuita, laica e de qualidade. Uma instituição mantida pelo erário, e que devolve para a sociedade profissionais de alta qualidade.

Reconhecer a trajetória de pessoas como a professora Lena, que viu essa universidade nascer, fortalecer, mudar, sem nunca perder os seus objetivos, é não somente olhar para o passado com ar contemplativo, mas buscar subsídios para que possamos nos fortalecer para o que nos aguarda no futuro.

Se quiserem transformar essa universidade ao que ela era até o início dos anos 2000, para poucos, e abastados, nós resistiremos. Se quiserem excluir negros, pobres, indígenas, quilombolas, nós resistiremos. Se quiserem nos proibir de ler Marx, Paulo Freire, ou qualquer outro livro, nós resistiremos. Resistiremos, porque lá no passado, pessoas como a professora Lena resistiram.

Resistiram ao arbítrio, resistiram à pressão, resistiram ao sucateamento da universidade. Sucateamento que voltou a ser projeto de governo nos últimos dois anos. No seu depoimento, no documentário sobre os 50 anos da Faculdade de História, a professora Lena nos contou sobre sua participação para tentar resolver o problema de uma aluna que fora presa pela ditadura. Essa atuação da professora Lena, naquele depoimento, mostra que para além de discussões partidárias tolas, todos nós defendemos o mesmo lado: o da liberdade!  

* Rildo Bento de Souza é professor da UFG e coordenador do curso de Museologia.

Categorias: Artigo