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Universidade Federal de Goiás
Manuela D'Ávila

Para além da resistência: é preciso definir para o que estamos lutando

Em 15/03/19 15:47. Atualizada em 11/06/19 16:10.

Manuela D’Ávila lança livro e fala sobre ser mãe e mulher na política e a necessidade de construir um projeto para o país

Texto: Beatriz de Oliveira

Fotos: Natália Cruz

 

A longa fila no saguão do primeiro andar da Faculdade de Direito da UFG era indício da expectativa do público para o evento que ocorreria no início da noite. Manuela D’Ávila, jornalista e ex-deputada federal pelo Rio Grande do Sul, veio a Goiânia no último dia 12 de março para o lançamento de seu primeiro livro, Revolução Laura, escrito a partir de anotações feitas durante a campanha presidencial de 2018, na qual concorreu à vice-presidência. Organizado pelo Centro Acadêmico XI de Maio, o Caxim, da Faculdade de Direito (FD) da UFG, após a sessão de autógrafos Manuela participou de uma palestra com o tema  “Resistir: o desafio do Brasil”. Com mediação da Coordenadora de Comunicação do Caxim, Ludmila Melo, a mesa era também composta pela professora da FD, Adriana Andrade Miranda.

O Salão Nobre da FD, com capacidade para 220 pessoas, ficou com lotação máxima, por isso várias pessoas não puderam entrar. Sobre isso, Manuela comentou: “Quando eu cheguei, pessoas do lado de fora falaram assim: ‘Como é que tu aceita fazer atividade em um lugar tão pequeno?’ Falei: eu aceito ir onde querem que eu vá, e onde tem gente para me ouvir”. Uma particularidade da plateia do evento era a presença de crianças; um dos questionamentos que ela faz em seu livro é justamente sobre as limitações existentes no espaço público e que impedem sua ocupação eficaz pelas mulheres.

Criança e Manuela D'Ávila
As crianças foram bem-vindas no evento e tinham liberdade de transitar pelo espaço

Manuela iniciou sua fala expressando o seu relacionamento com a cidade: “Goiânia é muito especial na minha vida. Foi aqui que eu fui eleita vice-presidente da União Nacional dos Estudantes. Foi esta cidade que me ensinou muito sobre o que é o Brasil, foi aqui que eu pude entender como o Brasil é diverso, como o Brasil é grande, e que eu pude ver como existiam milhares de jovens que assim como eu acreditam e amam o Brasil de verdade”. Relembrando seu passado no movimento estudantil, ela destacou que aqueles eram momentos difíceis, mas de muita esperança. “Agora são momentos mais difíceis”, afirmou.

Sem mandato parlamentar pela primeira vez em 14 anos, ela disse estar muito feliz por estar de volta na luta pelos movimentos sociais. Manuela D’Ávila fez ponderações sobre o peso daquele 12 de março: a prisão de dois suspeitos do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco que acontecera durante a manhã, e que deixou nítido para ela o quão profundo e poderoso são o crime organizado e as milícias do país. Ela disse que era um dia também de pensar em Jean Wyllys e Márcia Tiburi, que não vivem mais no Brasil por receberam ameaças de morte.

Manuela D'Ávila mesa
Em salão lotado, o público espera ansiosamente para ouvir Manuela D'Ávila

Sobre resistência, Manuela D’Ávila pontuou que primeiro é necessário ter uma noção profunda da realidade em que vivemos, o que ainda não temos. Sua análise é geopolítica: “A nossa resistência deve se dar a partir dessa análise de conjuntura. Nós vivemos em um Brasil situado em uma crise mundial muito profunda e muito longeva. Há mais de 10 anos o capitalismo enfrenta sua crise”. Na visão de Manuela, na reorganização da nova Ordem Mundial, os países em desenvolvimento estão sendo transformados em novas colônias. O resultado das eleições de 2018 significa para ela que o Brasil fez a escolha de aceitar esse papel. Entre as decisões do novo governo que colocam em perigo a soberania nacional, ela cita o fim do investimento federal em pesquisa, e a ameaça à Amazônia.

Mas apesar da realidade dura e acachapante que ela diz estarmos inseridos, existe um caminho: “Estamos diante de um momento extraordinário para construirmos uma alternativa e um novo projeto para desenvolver o nosso país. E não existe como fazer isso sem enfrentar a desigualdade social”. Manuela tem uma interpretação interseccional dessa desigualdade no Brasil: ela é estruturada não apenas pela questão de classe, mas também pela racial e de gênero.

Por fim, Manuela fez colocações sobre o feminismo: “O que o nosso feminismo tem que estar à altura, é de responder as demandas da maior parte das mulheres brasileiras. É claro que essas demandas passam por debates sobre o nosso direito a existir no espaço público, sobre o nosso corpo, sobre nós querermos ser quem quisermos ser e nos respeitarem. Mas o nosso feminismo se basta se estiver desconectado dessa luta pela defesa da soberania do Brasil?”. Sua mensagem final foi a de quem acredita que a mudança virá: “Depois do inverno a primavera chegará. Sempre chega.”

Fonte: Secom/UFG

Categorias: Humanidades