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Universidade Federal de Goiás
Sarah

Pesquisadoras da UFG desenvolvem partícula que reverte overdose por cocaína

Em 25/04/19 08:58. Atualizada em 10/05/19 08:44.

Formulação captura droga em circulação no organismo mesmo em quantidade letal

Luiz Felipe Fernandes

 

Sarah

Sarah Rodrigues Fernandes desenvolveu a pesquisa no Mestrado em Ciências Farmacêuticas da UFG (Foto: Pedro Gabriel)

Uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Goiás (UFG) desenvolveu uma partícula capaz de capturar a cocaína em circulação no sangue de um organismo vivo. A formulação se mostrou eficiente até mesmo em doses letais da droga, o que significa que ela consegue reverter um quadro de overdose que levaria à morte. É a primeira vez que uma partícula produzida a partir de nanotecnologia é utilizada com essa finalidade.

O trabalho foi desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da UFG pela pesquisadora Sarah Rodrigues Fernandes, sob orientação da professora Eliana Martins Lima. Elas explicam que os testes feitos em laboratório indicaram uma capacidade de captura da cocaína do organismo de cobaias de cerca de 70%, revertendo rapidamente os sintomas típicos de uma overdose, como a hipertensão arterial, que levaria à morte por insuficiência cardíaca. "A pressão arterial e os batimentos cardíacos começam a voltar ao normal cerca de dois minutos após a administração da nanopartícula que desenvolvemos", detalha Sarah.

A pesquisa, realizada com animais de laboratório, abre perspectivas de aplicação em seres humanos. "A partir de um desenho experimental detalhado, chegamos a uma partícula ideal com resultados comprovados", afirma a pesquisadora. Com a possibilidade de aplicação para outros tipos de droga, elas avaliam que, futuramente, a formulação pode servir como uma plataforma para a desintoxicação.

A formulação também foi comparada com o produto que é usado atualmente em casos de intoxicação, tendo apresentado resultado surpreendentemente superior. "Desenvolvemos uma terapia de resgate, rápida, extremamente eficaz e inédita na literatura mundial", pontua a professora Eliana. O trabalho foi realizado com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg).

 

Eliana

Professora Eliana Martins Lima, da Faculdade de Farmácia da UFG, orientou a pesquisa (Foto: Pedro Gabriel)

Nanotecnologia

A nanotecnologia é uma área da ciência que estuda e desenvolve estruturas e materiais extremamente pequenos (1 nanômetro é 1 milhão de vezes menor que o milímetro). Partículas nanométricas, obtidas a partir de lipídeos e polímeros, têm sido utilizadas para encapsular e transportar substâncias com diversas finalidades. "Nossas pesquisas buscam desenvolver medicamentos com maior eficácia e menos efeitos colaterais. Com as nanopartículas, conseguimos aumentar a quantidade da substância terapêutica que chega no alvo ou evitar que essa substância chegue em outros tecidos nos quais poderia causar efeitos adversos", exemplifica a professora Eliana.

No caso da pesquisa desenvolvida na UFG, foi utilizada uma outra particularidade das nanopartículas: a capacidade de atrair substâncias que estão dissolvidas à sua volta. Eliana conta que se aprofundou nos estudos sobre essa característica durante o período em que foi professora visitante no Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos. Na época, a partícula nanométrica foi utilizada com aplicações ambientais, o que rendeu uma publicação na Revista Nature, um dos mais importantes periódicos científicos do mundo.

"De volta ao Brasil, decidimos dar um passo ainda maior: usar essa capacidade em casos de intoxicação por drogas de abuso, que é um território ainda pouco explorado. Fizemos todo o trabalho voltado para conseguir salvar o indivíduo de uma overdose aguda", esclarece a professora. A pesquisa será apresentada em junho num dos maiores eventos internacionais de nanotecnologia do mundo, na Europa, e publicada em periódico de impacto internacional.

 

Saúde pública

Gráfico Mortes Drogas

Número de mortes globais diretamente relacionadas ao uso de drogas (Fonte: Unodc/ONU)

A produção global de cocaína atingiu seu nível mais alto em 2016, com cerca de 1,4 mil toneladas - um aumento de 25% em relação a 2015. Os dados são do Relatório Mundial sobre Drogas, do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes. O levantamento também revela que cerca de 37% das mortes relacionadas ao consumo de drogas ocorrem por overdose.

"Estamos diante de um problema social e de saúde pública que envolve o uso abusivo de drogas com função recreativa", observa a professora Eliana. Além disso, essas substâncias levam a um alto nível de tolerância, ou seja, o organismo começa a precisar de doses cada vez maiores para que sejam gerados os mesmos efeitos. "Mas para o efeito tóxico não há tolerância, por isso o risco da overdose".

O impacto social foi um dos objetivos da pesquisa. "Trabalhamos justamente para que os resultados deste trabalho possam ser aplicados na sociedade", assinala Sarah. Farmacêutica formada pela UFG e participante do Programa de Iniciação Científica na graduação, a pesquisadora pretende dar continuidade aos estudos no doutorado.

 

Viver Ciência, da TV UFG, abordou as aplicações da nanotecnologia

FarmaTec

A nanotecnologia farmacêutica é uma das frentes de atuação do Centro de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação em Fármacos, Medicamentos e Cosméticos da UFG - o FarmaTec. O laboratório também trabalha com o desenvolvimento e a caracterização de formulações farmacêuticas e a avaliação biológica de eficácia e segurança de insumos e produtos farmacêuticos.

Trata-se de um dos laboratórios mais produtivos da UFG em termos de publicações científicas de impacto internacional e na formação de mestres e doutores. Em breve, o FarmaTec ocupará um prédio no Parque Tecnológico Samambaia, no Câmpus Samambaia. "Não tenho dúvida que a UFG terá um dos melhores laboratório temáticos do país", afirma Eliana.

Categorias: destaque pesquisa Tecnologia