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Universidade Federal de Goiás
Painel Econômico

PAINEL ECONÔMICO

Em 26/08/19 16:45.

Deflação registrada em Goiânia se deve a fraqueza do mercado consumidor. Com a demanda baixa, fica difícil o aumento de preços

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – Nº 112, agosto de 2019 

Dois indicadores importantes e com resultados aparentemente correlacionados foram divulgadas pelo IBGE neste mês e podem ajudar na compreensão da dinâmica da economia goiana neste momento: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA, com os dados sobre a inflação; e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD-C, que traz as informações sobre o mercado de trabalho. 

O IPCA registrou uma deflação de 0,22% em Goiânia entre o dia 16 de julho/2019 e o dia 15 de agosto/2019. Foi a menor variação entre os 16 municípios e/ou regiões metropolitanas das capitais do país pesquisados pelo IBGE e a menor variação para o período na capital do estado desde 2013. O resultado foi influenciado especialmente pela queda dos preços de itens importantes para o cálculo da inflação no município, como o tomate, o feijão, a gasolina e o etanol. Por outro lado, outros itens com peso significativo no índice também registraram aumento, tais quais o aluguel residencial e as tarifas de energia elétrica e de água e esgoto. Isso sugere que uma parte da explicação para a deflação observada em Goiânia está na fraqueza do mercado consumidor. Com a demanda baixa, fica difícil de as empresas aumentarem seus preços. Tanto é que houve redução dos preços de mais de 100 dos cerca de 460 itens pesquisados em Goiânia. 

O fato é que o crescimento da economia previsto para este ano parece que não se concretizará. O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), calculado pelo Banco Central, e que é considerado pelo mercado como uma espécie de prévia do Produto Interno Bruto elaborado pelo IBGE, caiu 0,13% no segundo trimestre deste ano e indica que o país já está em recessão técnica. Em Goiás, os setores de comércio e de serviços de Goiás registraram quedas nos três meses do 2o trimestre deste ano e a produção industrial caiu em dois, só subindo em maio/2016, na comparação com os mesmos meses de 2018. Com isso, fica difícil ocorrer uma reação mais firme do mercado de trabalho. Os resultados da PNAD-C parecem refletir esse cenário. As taxas de desocupação do município de Goiânia e do estado de Goiás registraram 7,9% e 10,5%, respectivamente. A taxa goiana ficou praticamente estável em relação à do 1º trimestre/2019 (10,7%), mas aumentou na comparação com o 1º trimestre/2018 (9,5%). Já a do município aumentou, tanto quando confrontada com a do 1º trimestre/2019 (7,2%) quanto no tocante ao 2º trimestre/2019 (7,1%). Essa dinâmica do mercado de trabalho é a causa da queda ocorrida na renda média dos trabalhadores goianos e, por conseguinte, ajuda na compreensão da queda média dos preços dos bens e serviços no estado, já que a demanda de bens e serviços fica prejudicada.

Historicamente, a taxa de desocupação do estado de Goiás é menor do que a média nacional. Atualmente, esta última está em 12,0% e a primeira em 10,5%. Porém, o que se percebe é que a diferença entre essas duas taxas tem diminuído. No 4º trimestre/2018 era de 3,4 pontos percentuais (p.p) e agora, no 2º trimestre/2018, essa diferença caiu para 1,5 p.p. É claro que a dinâmica da economia goiana depende das condições conjunturais nacionais, mas a melhora do mercado de trabalho parece estar mais lenta em Goiás do que no Brasil como um todo. A taxa composta de subutilização da força de trabalho (que reúne as pessoas desocupadas, com aquelas que estão ocupadas, mas trabalham menos do que estão dispostas a trabalhar e os desalentados) atingiu em Goiás o recorde da série histórica iniciada pelo IBGE no 1º trimestre/2012, batendo em 19,1% no 2º trimestre/2019, o que representa 749 mil pessoas. 

Uma possível explicação para esse movimento vem da crise fiscal do estado de Goiás e de seus municípios. Do total de pessoas ocupadas em Goiás (3.348 mil), 15,8% (563 mil) atuam na “Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais”. Esse grupamento só perde para o de “Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas” em termos de importância para a geração de empregos, já que conta com 20,0% do total de pessoas ocupadas no estado. 

Além de sua importância na geração direta de postos de trabalho, estados e municípios são responsáveis pela criação de muitos empregos indiretos por meio de suas aquisições e contratações de bens e serviços. Evidentemente, essa dinâmica fica comprometida por conta da crise fiscal e financeira que os atingem, sobretudo pela queda da arrecadação de tributos decorrente do baixo crescimento econômico.

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – n. 112/agosto de 2019. Equipe Responsável: Prof. Dr. Edson Roberto Vieira, Prof. Dr. Antônio Marcos de Queiroz

Fonte: FACE UFG

Categorias: colunistas