Queimadas deixam a lua vermelha na região amazônica
Efeito resultante do acúmulo de gases na atmosfera foi registrado pelo Clube de Astronomia Cecilia Payne, da UFG
Luiz Felipe Fernandes
A fumaça gerada pelas queimadas na região amazônica nas últimas semanas ocasionou um efeito visual impressionante. Uma fotografia feita por um integrante do Clube de Astronomia Cecilia Payne (CACP), da Universidade Federal de Goiás (UFG), mostra a lua com a cor avermelhada, resultado do acúmulo de gases na atmosfera. A foto, de autoria de Jhony de Barros, foi tirada no última dia 21 de agosto, logo após o nascer da lua, na cidade de Alta Floresta (RO).
“Quando vemos a lua ou o sol nessa posição, temos um retrato falado ou mesmo uma assinatura química mais rica da saúde e da composição do ar que respiramos. Pode até parecer um eclipse ou um filtro avermelhado, mas é um retrato da atmosfera”, explica o professor da UFG e coordenador do CACP, Norton de Almeida, que reitera que a imagem não passou por nenhum processo de edição.
Juliane Vieira, integrante do Clube, ressalta que o efeito ótico pode ser explicado pela dispersão de gases ricos em carbono e compostos de materiais mais pesados, que deixam a atmosfera ainda mais densa. Efeito disso é a difração e a absorção ainda maior de comprimentos de onda mais energéticos da luz, ou seja, na região do azul, deixando apenas a luz avermelhada passar.
Fenômeno em Goiás
Lucas Vieira, também membro do Clube, acrescenta que um fenômeno semelhante pode ser observado em Goiás, na região do rio Araguaia. “A famosa ‘Lua do Araguaia’ é sempre vista na alta temporada de turismo no maior rio de Goiás, nascendo logo após o pôr do sol, bem alaranjada. O fenômeno é sempre visto em meados de julho, nosso inverno quente e seco. Durante o inverno, a região do Cerrado é mais propensa a queimadas, e a pouca chuva contribui também para a grande quantidade de poeira e vento, que adicionam ainda mais partículas na atmosfera”.
A diferença é que na região amazônica esse fenômeno é incomum, já que, mesmo na estiagem, a umidade do ar é muito mais elevada que no Cerrado. “As chuvas e a densa vegetação evitam a dispersão da poeira e o risco de queimadas. Isso mostra a improbabilidade atmosférica de encontrarmos o mesmo efeito de ‘Lua do Araguaia’ na região amazônica. Se vemos esse efeito atmosférico nessa região em tais proporções, percebemos que o efeito não é natural”, alerta o Clube.
Clube de Astronomia
O Clube de Astronomia Cecília Payne da UFG funciona na sala 214 do Instituto de Física I, no Câmpus Samambaia, e é aberto a toda a comunidade. Escolas e instituições interessadas em parceria e divulgação científica podem agendar visitas pelo Facebook ou Whatsapp: (62) 98202-7766.
Fonte: Secom UFG
Categorias: Ciências Naturais Destaque