PAINEL ECONÔMICO
Com Coronavírus, ação do Governo Federal na economia será fundamental para conter catástrofe na economia
Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – No 119, março de 2020
O IPCA-14 do município de Goiânia bateu em -0,50% em março/2020, o que foi o menor resultado para o mês de março desde 2006, quando registrou -0,78%. Em nível nacional, o índice foi o menor para o mês desde o Plano Real. Para ambos os índices, o grupo de Transportes foi o que registrou a maior queda (de 0,8% no Brasil e de 1,63% em Goiânia), sendo predominante para explicar o índice divulgado pelo IBGE neste mês.
Desde janeiro/2020, o grupo de Transportes é o que mais pesa no cálculo da inflação medida pelo IPCA, que passou a utilizar os dados da nova Pesquisa de Orçamentos Familiares realizada pelo IBGE em 2017/2018. Em março, o peso desse grupo para o IPCA-15 do município de Goiânia foi de 24,41%, seguido pelo grupo de Alimentação e bebidas e pelo Grupo Habitação, responsáveis, respectivamente por 18,32% e 13,93%.Esses três grupos tiveram quedas de preços de itens com peso significativo no IPCA-15 goianiense.
No tocante ao grupo Habitação, a queda de 1,03% dos preços em Goiânia é explicada especialmente pela redução dos preços da energia elétrica, que ainda são impactados pela entrada em vigor da bandeira tarifária verde (em que não há cobrança adicional nas tarifas), em razão das previsões mais positivas de chuvas nas regiões onde se localizam os principais reservatórios de hidrelétricas no paÍs.
No grupo Alimentação e bebidas, destaca-se que, após acumular alta de cerca de 35,0% entre janeiro/2019 e janeiro/2020, as carnes, em geral, tiveram queda média de 2,6% em março/2020, depois de terem caído 4,2% em fevereiro/2020, refletindo, entre outros aspectos, a desaceleração da demanda chinesa, em meio à crise provocada por lá pelo coronavírus.
Por aqui, o coronavírus também já parece estar impactando a inflação. No caso dos Transportes, as passagens aéreas, cujos preços caíram 15,06% em Goiânia e 16,88% em nível nacional, contribuíram ativamente para a deflação registrada no grupo, repercutindo o receio das pessoas de se contaminarem durante eventuais viagens. Por sua vez, a redução dos preços dos combustíveis em Goiânia tem relação não apenas com as quedas dos preços promovida pela Petrobrás, mas também com o significativo arrefecimento da demanda provocado pela paralisação do comércio, das escolas e de várias outras atividades, cujos trabalhadores podem desempenhar suas funções sem sair de casa.
Com exceção fundamentalmente dos supermercados, cuja demanda está aquecida por conta do movimento de estocagens de alimentos e de produtos higiene e limpeza, é certo que haverá neste ano espaço restrito para as empresas repassarem aumentos de custos para os consumidores finais, que já sentem de perto os efeitos do coronavírus no seu cotidiano.
Após ter anunciado que as empresas poderiam suspender o pagamento dos salários dos trabalhadores por quatro meses, o Governo Federal recuou, mas ainda não apresentou nova proposta para evitar demissões em massa e promover a manutenção da renda dos trabalhadores. Além disso, cerca de 40,0% do total dos trabalhadores do país estão no mercado informal e não serão atingidos diretamente por eventuais medidas de auxílio ao emprego formal que venham a ser anunciadas. E, mesmo que haja alguma medida específica visando alcançar os trabalhadores informais, existe grande dificuldade de os encontrar e identificar para prestar apoio.
Tudo isso deixa o cenário relativo à inflação bem comportado para esse ano. Por outro lado, o nível de atividade econômica deve ficar bastante prejudicado, o que pode impactar ainda mais negativamente o mercado de trabalho e a renda das famílias. Do lado das empresas, a depender da duração da crise, muitas delas poderão desaparecer, especialmente as micro, pequenas e médias. Ademais, muitos estados e municípios, que já estavam com dificuldades orçamentárias e financeiras, terão que superar desafios ainda maiores para honrar seus compromissos. A ação tempestiva do Governo Federal, portanto, será fundamental para suavizar todos esses movimentos e conter uma catástrofe ainda maior na economia doméstica.
Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – N. 119/março de 2020. Equipe Responsável: Prof. Edson Roberto Vieira, Prof. Antônio Marcos de Queiroz e o bolsista Matheus Vicente do Carmo.
Fonte: Secom UFG
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