INTEGRIDADE ACADÊMICA
Academias abertas? Fique em casa!
Tatiana Duque Martins*
Integridade acadêmica envolve diretamente valores morais e éticos na condução de qualquer atividade no âmbito da academia. A condução íntegra da atividade, portanto, é mais completa que a condução ética.
Nos tempos ímpares que vivemos hoje, em que nossas atividades e nossa liberdade de ir e vir estão sendo regidas por um conjunto de regras estabelecidas em prol do bem comum, da preservação da saúde e da vida de toda a população mundial, espera-se que essas regras limitantes sejam embasadas nas mais íntegras fontes de informação e nas mais íntegras intenções.
Qual, então, é a função de debates e trocas de informações embasadas em fontes não confiáveis, ignorando a ciência e os estudos acadêmicos? Por que há essa necessidade da causar desinformação?
Em 11 de maio, o Ministro da Saúde Nelson Teich, em meio à entrevista coletiva em que anunciaria o relaxamento das ações de quarentena em nosso país, foi informado pela imprensa de que cabelereiros e academias haviam sido autorizadas a reabrir pela Presidência da República. Sem comentar a situação em que o Ministro foi colocado, qual era a sua fonte de informações, uma vez que mencionou várias vezes que a situação do Brasil não é crítica?
Não é crítica?
Com base em dados? Dados esses que não foram adquiridos em testes em massa, uma vez que o Brasil realizou até 12 de maio 339.552 testes, ou seja, 1.597 testes por milhão de habitantes, prova da subnotificação.
Não que comparações sejam o modo mais eficiente de se antever a evolução da doença em nosso país, mas são úteis para nos alertar para os erros e acertos de outros países, para nortearmos nossas ações.
Se voltarmos a 30 de março, podemos comparar o que ocorria com o Brasil e os Estados Unidos, hoje o epicentro da COVID-19. Nessa data, o Brasil contabilizava 4.630 casos da doença e 163 mortes, enquanto que o relutante EUA já contabilizava 168.177 casos e 4. 066 mortes. A Bélgica, país que vem sendo discutido em redes sociais por ter sido um exemplo em uma notícia de amplo alcance, tinha 11.899 casos e 513 mortes.
Apenas em 12 de maio, 42 dias depois de verificar que 4 mil mortes com quase 170 mil casos poderiam ser marcas alcançadas se ações de isolamento social não fossem tomadas, o Brasil chegou a número de casos similar ao dos EUA naquele tempo.No entanto, conta 169.113 casos da doença, mas com 11.615 mortes, quase 3 vezes o número de mortes dos EUA, quando contabilizava número similar de casos! Brasil não é crítico...
Brasil é tido como não crítico porque contabiliza 796 casos por milhão de habitantes, enquanto que os EUA tem 4.187 casos por milhão. E o exemplo equivocado da Bélgica tem 4.612 casos por milhão de habitantes.
Não se comenta sobre a subnotificação quando se comparam esses números? Por que? Sobre os testes, os EUA já efetuaram até 12 de maio 9.619.855, ou 29.063 por milhão de habitantes e a Bélgica realizou 584.707, equivalentes a 50.451 por milhão de habitantes.
A informação mal trabalhada, equivocada ou criada é uma das principais causas das mortes em nosso país, não se engane. Academias abertas? Não sei você, eu fico em casa.
Fonte dos dados: https://www.worldometers.info/coronavirus/
*Tatiana Duque Martins é Professora Associada do Instituto de Química da UFG e Coordenadora do Comitê de Integridade Acadêmica – CIA/UFG
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Fonte: Secom UFG
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