PAINEL ECONÔMICO
Goiás já começa a sentir os impactos da Covid-19 na economia, principalmente no setor de serviços e comércio
Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – N. 121, maio de 2020
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou neste mês as primeiras pesquisas com os dados que já refletem os impactos da pandemia da Covid-19 sobre a economia doméstica. Em nível nacional, sabe-se que as respostas dos Governos federal, estaduais e municipais à pandemia foram diversas, com alguns impondo medidas de distanciamento social mais rígidas e outros trabalhando com modelos mais flexíveis. Então, vejamos e que dizem os dados para as economias goiana e brasileira.
A taxa de desocupação aumentou cerca de um ponto percentual no Brasil e em Goiás na passagem do último trimestre de 2019 para o primeiro trimestre de 2020. A média nacional passou de 11,0% para 12,2% e a goiana de 10,4% para 11,3%. Vale registrar que este resultado divulgado pelo IBGE se refere ao conjunto de dados coletados em janeiro, fevereiro e março de 2020, sendo que os impactos efetivos da Covid-19 sobre a economia goiana começaram a ser observados apenas a partir da segunda quinzena de março/2020. Certamente, os próximos dados devem ilustrar um quadro muito complexo no mercado de trabalho doméstico.
Além dos trabalhadores que perderam seus empregos, muitos tiveram seus contratos de trabalho suspensos, sem contar os informais, que já representavam mais de 40,0% do total das pessoas ocupadas antes da pandemia, tanto no Brasil quanto em Goiás, e que agora perderam as condições de manterem suas rendas. Tudo isso gera um cenário de grande insegurança para as empresas e para os trabalhadores. Muitas empresas, por exemplo, preferiram não aderir às linhas de financiamento com taxas de juros mais baixas disponibilizadas pelo Governo Federal, porque tais linhas exigem como contrapartida a manutenção dos trabalhadores e elas (as empresas) temem precisar demitir por conta da redução da demanda.
Com a perda do emprego e/ou queda na renda, as famílias têm priorizado os gastos em bens e serviços essenciais. As vendas do comércio varejista nacional caíram 1,2% na comparação com o mesmo mês do ano passado e em Goiás o recuo foi de 8,4%. O resultado do comércio varejista em Goiás só não foi pior por conta das vendas dos supermercados e farmácias, que continuaram autorizados a operar e tiveram crescimento de 5,6% e 3,7%, respectivamente. As lojas de rua e de shoppings centers tiveram queda expressiva das vendas. No caso do ramo de roupas e calçados, por exemplo, houve queda de 49,8% das vendas na comparação com março/2019. Nesta mesma linha, os serviços prestados às famílias (que envolvem hotéis e restaurantes) tiveram recuo de 30,0% e as atividades turísticas retraíram 29,4% em Goiás. Para o setor de serviços com um todo, houve queda de 2,7% e de 4,7%, respectivamente no Brasil e em Goiás.
A despeito de também ter caído, a produção industrial em Goiás teve desempenho melhor do que a média nacional, ao contrário do ocorrido nos setores de comércio e serviços. Por aqui, a queda foi de 1,2%, contra 3,8% de recuo em nível nacional. Ocorre que a indústria goiana é muito integrada com o setor agropecuário e, por isso, produz muitos bens essenciais destinados ao mercado interno e às exportações. Em março/2020, as produções de alimentos e bebidas, de etanol e de alguns minérios não caíram em Goiás na comparação com o ano passado e possuem peso significativo no total da produção industrial do estado. Além disso, as exportações goianas têm sido sustentadas pelo agronegócio, fundamentalmente pelos embarques de carnes e de produtos do complexo de soja para a China, que está mais adiantada na retomada das atividades.
Em suma, houve queda dos índices do comércio, da indústria e dos serviços e, por conseguinte, aumento da taxa de desocupação em Goiás e no Brasil. O setor agropecuário parece estar sendo menos impactado porque produz bens sem os quais as pessoas perdem suas condições mínimas de sobrevivência. Ainda que significativas, essas informações relativas ao mês de março/2029 não refletem completamente a convivência da sociedade brasileira com a Covid-19. Os próximos dados divulgados pelo IBGE devem apresentar um quadro ainda mais desafiador em termos econômicos, pois vão envolver períodos em que a pandemia já havia efetivamente se instalado no país.
Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – N. 121/maio de 2020. Equipe Responsável: Prof. Dr. Edson Roberto Vieira e Prof. Dr. Antônio Marcos de Queiroz
Fonte: Secom UFG
Categorias: colunistas FACE