Icone Instagram
Icone Linkedin
Icone YouTube
Universidade Federal de Goiás
Painel Econômico

PAINEL ECONÔMICO

Em 29/06/20 16:26. Atualizada em 06/08/20 16:55.

Queda da economia já é a maior da história do país, mas Goiás deve registrar queda menor do que em outras regiões do país

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – Nº 122, junho de 2020


Os dados referentes ao mês de abril/2020 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dão a dimensão de como a pandemia da Covid-19 tem levado os índices de atividade econômica para níveis jamais registrados no país. As quedas de 18,8% produção industrial, de 16,8% do volume de vendas do comércio e de 11,7% do volume de serviços foram as maiores das séries relativas a esses setores disponibilizadas pelo IBGE.
Os impactos desse processo para os níveis de emprego e renda são assustadores. Somando-se as pessoas que estão desempregadas (10,1 milhões) com aquelas que não procuraram trabalho, mas que gostariam de trabalhar (26,3 milhões), chega-se a um total de 36,4 milhões de pessoas que, em maio/2020, estavam pressionando o mercado de trabalho doméstico, tal como mostrou a nova pesquisa do IBGE divulgada neste mês – a Pnad Covid-19. Das 84 milhões que estavam ocupadas, 19 milhões foram afastadas do trabalho em razão das medidas de distanciamento social e, dessas, 9,7 milhões (51,3%) ficaram sem nenhuma remuneração. Muita gente teve sua jornada de trabalho reduzida e passou a receber menos do que recebia antes da pandemia. Com isso, 36,4% dos domicílios brasileiros tiveram redução do rendimento e a razão entre o rendimento normalmente recebido e o efetivamente recebido pelos trabalhadores registrou queda de quase 20,0%.
Uma boa parte das pessoas que foram afastadas do trabalho por conta da pandemia não possui carteira assinada ou qualquer tipo de vínculo formal de trabalho. É o caso de muitos trabalhadores domésticos, de empregados do setor privado sem carteira assinada e de vários trabalhadores por conta própria sem CNPJ, como camelôs, cabelereiros, vendedores ambulantes e motoristas de aplicativo. Milhões desses trabalhadores perderam completamente sua capacidade de auferir renda quando foram afastados de suas atividades, ao contrário dos trabalhadores formais, cujos empregadores tiverem a opção de suspender seus contratos e/ou de reduzir sua jornada de trabalho.
Nesta perspectiva, o percentual de famílias endividadas (em cartão de crédito, cheque especial, cheque pré-datado, crédito consignado, crédito pessoal, carnê de lojas, prestação de carro e prestação da casa) apurado pela Confederação Nacional do Comércio aumentou de 66,5% em maio/2020, para 67,1% em junho/2020. E a causa do aumento desse percentual está justamente nas famílias de menor renda, haja vista que o percentual de famílias endividadas que ganham até dez salários mínimo aumentou de 67,4% para 68,2% neste período, enquanto o das famílias que ganham mais de dez salários mínimos caiu de 61,3% para 60,7%.
Quando foram introduzidas as primeiras medidas de distanciamento social, em março/2020, o IPCA, do IBGE, registrou leve aumento de 0,07% da média dos preços da economia, mas o grupo de alimentação e bebidas teve elevação de 1,13%; em abril/2020, esses índices foram de -0,31% e de 1,79%; e, em maio, de -0,38% e 0,24%. Ou seja, a despeito das quedas de vários preços, o grupo de alimentação e bebidas tem registrado aumentos continuados dos preços desses produtos e, como se sabe, tal grupo possui maior peso para as pessoas mais pobres, que também são aquelas que mais perderam renda neste momento em termos relativos, pois são maioria entre os trabalhadores informais. A pandemia, portanto, parece estar tendo efeito mais perverso sobre as pessoas mais pobres do país do que sobre as mais ricas.
O efeito desse processo sobre a demanda agregada pode ser grande. Os dados das Contas Nacionais do 1º trimestre de 2020, calculados pelo IBGE, evidenciam que as famílias são responsáveis por cerca de dois terços da demanda pelos bens e serviços produzidos no país. Isso sugere que as reduções dos índices de atividade econômica mencionadas acima não se deram apenas porque várias empresas foram obrigadas a manter suas atividades paralisadas, mas também em razão da perda da capacidade de demandar bens e serviços por parte de uma significativa parcela da população brasileira nesse período. Se as estimativas do FMI se concretizarem, a economia brasileira pode ter queda da 9,1% em 2020, a maior em 120 anos.
A economia goiana também deve registrar queda, mas talvez em menor proporção do que a brasileira. Cerca de 40,0% da produção industrial do estado vem do setor de alimentos e bebidas, cuja demanda interna foi menos atingida pela pandemia. Também tiveram crescimento as produções de medicamentos (que entram no rol dos produtos essenciais que têm sido mais demandados pela população) e de etanol (desta última porque muitas usinas goianas não foram planejadas para produzir açúcar como alternativa ao etanol). Além disso, as exportações para a China continuam firmes, o que, juntamente com o dólar em alta, têm garantido o aumento de renda para o setor agropecuário, que possui participação na economia goiana duas vezes maior do que na nacional. Porém, outros setores industriais importantes para o estado não tiveram a mesma sorte, como a produção de veículos (com queda de 98,2%), dos outros produtos químicos (-25,6%); de produtos de metal (-21,0%) e de minerais não metálicos (- 14,6%). E, assim como no Brasil, o comércio e os serviços foram bastante afetados em Goiás, com o primeiro recuando 19,6% e o segundo 17,0%. Com isso, cerca de 860 mil pessoas ou estão desempregadas ou gostariam de trabalhar embora não tenham procurado emprego e aproximadamente 37,0% das pessoas ocupadas no estado tiverem rendimento efetivo menor do que o normalmente recebido.
Por fim, vale destacar que, ainda que muitas pessoas estejam com uma certa sensação de que o pior já passou, especialmente por conta do relaxamento das medidas de distanciamento social em vários municípios do estado, essa parece não ser a realidade de Goiás. As estimativas feitas pelos pesquisadores da Universidade Federal de Goiás estimam que, caso os índices de distanciamento social permaneçam como estão, mais de 18 mil pessoas podem perder a vida em Goiás por conta da Covid-19 até o mês de setembro/2020. Tudo isso indica que é preciso manter a vigilância sobre a economia e, sobretudo, sobre a saúde da população.

Fonte: Secom UFG

Categorias: colunistas FACE