Química e bióloga desenvolveram o teste molecular rápido para Covid-19
Segundo episódio da série apresenta as pesquisadoras da UFG que criaram o teste molecular rápido para Covid-19
Carolina Melo
Com a pandemia, pesquisadores da UFG se viram na tarefa de redirecionar objetivos, hipóteses, métodos e metodologias para atender a necessidade urgente do combate ao vírus Sars-CoV-2. Esse foi o caso das professoras da UFG Gabriela Rodrigues Mendes Duarte, do Instituto de Química (IQ), e Elisângela de Paula Silveira Lacerda, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB). Ambas estavam em meio a projetos de diagnóstico molecular para zika, dengue e chicungunya, quando, em meados de março, resolveram fechar uma parceria acadêmica e adaptar seus objetivos e metodologias para a Covid-19. O resultado foi o desenvolvimento do teste rápido para Covid-19, 10 mil vezes mais sensível do que o PCR, mais simples, rápido e cerca de 40 vezes mais barato.
Especializada em Química Analítica, professora Gabriela Rodrigues, como gosta dizer, “é prata da casa” devido a sua forte relação com a UFG. Formada na instituição, fez mestrado e trabalhou como professora substituta, até se tornar professora efetiva na Universidade. No entanto, foi a escolha da linha de pesquisa, no doutorado, que levou a pesquisadora a trabalhar com análise de DNA nas plataformas microfluídicas. “Queria trabalhar com análises genéticas e, no doutorado, usava a técnica de ampliação mais conhecida, ou seja, a PCR em microchips”, conta.
Já como professora da UFG, iniciou seus estudos de ampliação do DNA com outra técnica, chamada RT-LAMP. “Com a experiência que adquiri no doutorado, e com os trabalhos com microfluídica e análise de DNA, passei a utilizar a técnica de ampliação e aplicar em bactérias e vírus”, lembra Gabriela. A pesquisadora chegou a desenvolver novos diagnósticos para dengue, zika e chicumgunya. Até que, com o redirecionamento de sua pesquisa, e a parceria com professora Elisângela Lacerda, chegou ao desenvolvimento do teste de diagnóstico rápido e acessível de Covid-19. “Sabemos da importância da ampla testagem para a contenção do vírus”.
As pesquisas científicas são inevitavelmente multidisciplinares. E o estudo realizado pela UFG do diagnóstico para Covid-19 não é diferente. Ele envolve diferentes áreas de conhecimentos que, inclusive, estimularam a aproximação das pesquisadoras, a química Gabriela Rodrigues e a bióloga Elisângela Lacerda. A ampliação do material genético do vírus, a RT-LAMP, por exemplo, envolve técnicas de Biologia Molecular, que é uma área de estudo dos biólogos. Mas, para se ter ideia das relações interdisciplinares, quem inventou a PCR, uma outra técnica da Biologia Molecular, foi um bioquímico, o pesquisador Kary Mullis, vencedor do Nobel de Química.
Bióloga e professora do Instituto de Ciências Biológicas da UFG, Elisângela Lacerda vem realizando, desde 2016, o diagnóstico molecular de dengue, zika, chicumgunya e mayaro na população goianiense. O estudo avalia as formas manifestadas das doenças e as correlaciona com o diagnóstico molecular, visando, assim, diferenciar os sintomas de cada uma das arboviroses. Mesmo tendo objetos de pesquisas muito correspondentes, as professoras da UFG Elisângela Lacerda e Gabriela Rodrigues começaram, de fato, a trabalhar juntas quando assumiram o desafio de encontrar um diagnóstico mais rápido para a Covid-19.
O atual desafio das pesquisadoras, agora, é finalizar os estudos para a produção em larga escala. Para isso, recentemente, receberam incentivo financeiro do Ministério Público do Trabalho em Goiás (MPT-GO) e da Justiça do Trabalho. A pesquisa também foi aprovada nas chamadas emergenciais da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). E já foi submetido um artigo cientifico sobre o estudo. “Estamos avançando para conseguir em breve fazer os testes na população”, afirma Gabriela.
Breve Currículo das pesquisadoras
Gabriela Rodrigues Mendes - Bacharel e Licenciada em Química pela Universidade Federal de Goiás (UFG), onde também obteve o título de mestre em Química em 2001. No mestrado teve experiência na área de Química Analítica, com ênfase em Separações, atuando principalmente nos seguintes temas: cromatografia, ácidos graxos, triacilglicerídeos, óleos vegetais e tocoferóis. Entre 2001 e 2006 atuou como professora universitária. Em 2010 concluiu o doutorado na Universidade de São Paulo (USP), em Química Analítica, atuando principalmente nos seguintes temas: Instrumentação Analítica, Microchips, Eletroforese Capilar, Microfabricação, Análises Genéticas, Extração , Amplificação e Separação de DNA em Microchip. Em 2008 fez estágio de doutorado (sandwich) de 4 meses na University of Virginia sob a orientação do Prof. James P. Landers e em 2009 retornou novamente para outro estágio de mais 6 meses no mesmo Laboratório. Atualmente é Professora da Universidade Federal de Goiás e trabalha com diagnósticos moleculares para doenças infecciosas.
Elisângela de Paula Silveira Lacerda - Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Uberlândia (1994), mestrado em Imunologia e Parasitologia Aplicadas pela Universidade Federal de Uberlândia (1997) e doutorado em Genética e Bioquímica pela Universidade Federal de Uberlândia (2003). Elisângela Paula Silveira Lacerda é um PhD em Genética e Bioquímica, área de concentração Oncologia Experimental e Genética toxicológica pela Universidade Federal de Uberlândia. Atualmente é professora adjunto e Chefe do Departamento de Genética da Universidade Federal de Goiás e Pesquisadora PQ2 do Laboratório de Genética Molecular e Citogenética no Instituto de Ciências Biológicas da mesma instituição. Atua na busca de novas drogas com antitumorais atividades, com ênfase em tratamento de câncer com compostos orgânicos, inorgânicos e nanopartículas magnéticas, diagnósticos genéticos, estudos na área da farmacogenética e farmacogenômica, e coordenadora da Rede de Farmacogenética e farmacogenômica do Estado de Goiás. É orientadora nos Programas de Pós-Graduação em Ciências Biológicas e Programa de Pós-Graduação em genética e Biologia Molecular da Universidade Federal de Goiás, e colaboradora nos programas de Ciências Farmacêuticas e Inovação Farmacêutica da mesma universidade. Ela é membro do conselho editorial e revisora da Revista de Biologia Neotropical e Secretária da Sociedade Brasileira de Genética - Regional Centro Oeste.
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Fonte: Secom-UFG
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