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Universidade Federal de Goiás
Água

Tarifa de água em Goiás não estimula economia no consumo, avalia pesquisa da UFG

Em 06/08/20 12:03.

Quanto maior o volume de água consumido, menor é o efeito preço para usuário, conclui estudo

Talita Prudente (Comunicação PRPG)

A demanda crescente por água contrasta com a natureza escassa desse recurso natural. Diante do cenário, Camila Rocha Gomes, do Programa de Pós-Graduação em Economia da UFG, desenvolveu uma pesquisa na linha de Economia da Energia e dos Recursos Naturais, com ênfase no uso residencial da água no Estado. A partir de  análises econométricas, a pesquisadora investigou o impacto do preço da água no nível de consumo domiciliar da população goiana (efeito preço) e conclui que a economia do recurso não ocorre onde deveria. 

Orientada pelo professor Sandro Eduardo Monsueto (FACE), o projeto de pesquisa,  financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG), questionou, portanto, a funcionalidade do sistema IBP (Increasing Block Price), adotado pela Saneago para a estruturação tarifária. A Saneago gerencia a captação, o tratamento e a distribuição da água no Estado. A cobrança mensal pelo serviço considera basicamente a categoria do imóvel (residencial, comercial, industrial ou público)  e a quantidade por m³ consumida pelo cliente. Mas até que ponto esse tipo de cobrança é eficiente e coerente com a realidade dos usuários? 

“O  IBP é um sistema crescente em bloco, em que quanto maior é o consumo, maior é a taxa correspondente. Isso resulta em uma sequência de preço marginal, diferente para cada nível de gasto. Aparentemente, é justo. Porém, o sistema deveria ser eficaz para moderar o uso da água, ou racionalizá-la em picos de alto consumo. O problema é que ele não é suficiente para assegurar a equidade no abastecimento”, explica Camila.

A pesquisadora observou que a tarifa da companhia recai sobre aqueles que já possuem baixo uso hídrico, moradores de regiões com maior fragilidade social. Enquanto isso, consumidores em larga escala,  residentes de bairros centrais, são indiferentes à discrepância do valor tarifário e não reduzem o gasto mensal de forma significativa.

Ao utilizar ferramentas estatísticas e matemáticas, Camila examinou a demanda por água em 4.858 bairros referentes aos 226 municípios goianos atendidos pela Saneago entre 2014 e 2016. Na época, apenas a região metropolitana de Goiânia, com 37% da população de Goiás, absorvia mais da metade do volume fornecido pela Saneago (59%). Um consumo médio per capita 1,12 m³ maior que a média estadual. 

Os cálculos mostram que reajustes baseados no IBC tendem a reduzir o consumo em apenas 3,6%. "Com a política tarifária,  o coeficiente do efeito preço, de fato, diminui. Mas ela por si só não é válida, dado que os usuários situados nos quantis de menor consumo médio per capita são mais sensíveis à taxação", pontua Camila. Ou seja, quanto maior o volume consumido, menor é o efeito preço para o usuário.

A pesquisa de Camila Rocha auxilia na compreensão das reais necessidades hídricas de Goiás e corrobora para a revisão do Plano Estadual de Recursos Hídricos, publicado em 2016 pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (SEMAD). A pesquisadora sugere que políticas associadas ao comportamento do consumidor sejam inseridas na gestão hídrica. “Com  base no consumo médio de cada localidade, é possível incluir na conta de água estímulos positivos para aqueles que diminuem o uso e negativos para os que consomem acima do padrão”, exemplifica.

 

Categorias: Economia Humanidades Face