INTEGRIDADE ACADÊMICA
É possível incentivar a integridade acadêmica no ensino remoto?
Tatiana Duque Martins*
A Pandemia da COVID-19 chegou ao mundo como o prenúncio de uma tragédia, ceifou vidas, mexeu com as economias e as fronteiras no mundo, mudou relações internacionais, causou impacto ambiental e espalhou o medo. Mas, os otimistas (e somos a maioria) buscam não somente se adaptar às situações adversas, mas reagir a elas, valorizando o que de bom elas trazem. No nosso caso, atores da atividade acadêmica, posso dizer que o que trouxe de bom foi a mudança das formas de relação e colaboração, em que, agora, utilizamos ferramentas antes subutilizadas. Nas atividades de ensino, causou uma mudança que veio para ficar, devido aos diversos benefícios que proporciona quando associada ao ensino presencial, que continua essencial para o aprendizado pela pesquisa.
As relações remotas, agora, são as únicas que podemos exercer e elas proporcionam facilidades, mas tem sua cota de dificuldade. Em especial, um problema bastante vivido pelos professores é como garantir que os alunos observarão a boa conduta na execução das atividades, em especial, aquelas com notas.
A resposta é a mesma para as atividades com nota que eram antes presenciais: não há forma de garantir. Ilude-se o professor que imagina que sua presença durante uma avaliação inibe a cola, por exemplo, ah, não...muito pelo contrário, propicia meios cada vez mais criativos de se realizar uma cola! Mas o fato de não termos ainda vivenciado essa situação remotamente nos assusta.
O combate e prevenção à má conduta no ensino remoto, portanto, deve ser baseada nos mesmos paradigmas com que são realizados no ensino presencial: por meio da informação e educação.
Não digo que essa é a receita do sucesso, mas, confiando-se que o aluno é essencialmente íntegro, assim como todo membro da academia, pode ter sim resultados surpreendentes. Portanto, aqui vão umas dicas de como promover a consciência sobre integridade acadêmica que podem diminuir os problemas de plágio e cola nas atividades remotas:
1- Instrua os alunos quanto ao comportamento íntegro: apresente aos alunos as condutas éticas estabelecidas pela UFG e que devem ser rigorosamente seguidas. Aproveite e apresente conceitos sobre as boas práticas, de forma a estimulá-los. Nesse ponto, é interessante que os alunos assinem termos de integridade em que confirmam compreender que cola, plágio, etc., são condutas não aceitas e que não devem ser praticadas. Lembre-se de informá-los que suas atividades podem ser checadas por programas anti-plágio, por exemplo.
2-Promova a proteção intelectual: lembre aos alunos as formas corretas de utilizar material de outrem em suas pesquisas e textos, as formas corretas de citação e de atribuir autoria, de modo que o produto intelectual acadêmico seja preservado.
3-Exerça com muito cuidado a tarefa da correção: leia com atenção os trabalhos e avaliações, tome tempo para isso, leia criticamente, você será capaz de identificar mudanças nas formas de discurso, na ortografia e correção das palavras, pode identificar, inclusive, assuntos que não foram abordados na disciplina e que não tem razão de serem comentados pelo aluno. Não é um exercício fácil, mas é possível. Use programas de detecção de plágio, mesmo que gratuitos. Aplique, sempre que possível, avaliações orais, esteja disponível para tirar dúvidas dos alunos, estabeleça horários de atendimento.
4- Seja o exemplo de integridade a ser seguido: o aprendizado também ocorre através da imitação, portanto, busque citar corretamente suas fontes usadas em suas aulas, esteja bem preparado para as aulas, seja pontual e estimule a honestidade.
Essas ações não vão erradicar a má conduta do ensino remoto, mas estimularão e informarão àqueles que querem aprender e agir com honestidade. Não se pressione, pois aqueles que não são essencialmente íntegros tendem a se comportar da mesma forma presencial ou remotamente. De resto, aproveite o que esse período tem de bom. Ele é passageiro, mas suas lições se perpetuarão.
*Tatiana Duque Martins é professora da UFG e coordenadora do Comitê de Integridade Acadêmica - UFG
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Fonte: Secom UFG
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