Pesquisas em diversas áreas engrandecem cenário científico da UFG
Em sua história, a universidade apresenta exemplos de inúmeras contribuições para a sociedade
Luciana Santal
Nesses 60 anos desde a sua criação, a Universidade Federal de Goiás (UFG) acumula grandes conquistas científicas. Em 2013, com o objetivo de garantir a melhor organização e otimização das rotinas, a Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (PRPPG) se tornou duas: Pró-reitoria de Pós-graduação (PRPG) e Pró-reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI). Hoje, os professores Laerte Guimarães e Jesiel Carvalho respondem pelos setores, respectivamente.
No dia 25 de novembro, foi lançada a plataforma REDCap-UFG, vinculada à PRPI e com apoio técnico do Laboratório Multiusuário de Computação de Alto Desempenho (LaMCAD). Na ocasião, o reitor da UFG, Edward Madureira, destacou que as pesquisas evoluíram muito na universidade, com um crescimento no número de artigos publicados em periódicos de relevância nacional e internacional. Ele atribui esse avanço, entre outros fatores, à política de expansão das universidades federais a partir de 2006, ao quadro de professores, à criação de ambientes, como o REDCap-UFG, e às estratégias de colaboração em estruturas multiusuários.
Ao longo da história diversas pesquisas foram realizadas na Universidade Federal de Goiás. O trabalho da equipe de comunicação em relatar essas pesquisas e até mesmo resgatar informações contidas em documentos históricos e também na vivência de pessoas que ajudaram a construir a universidade permite hoje que recuperemos alguns exemplos de importantes pesquisas desenvolvidas na universidade. Seja via envio de materiais para a imprensa por meio do Projeto Visibilidade, publicações no Portal UFG e impresso e online, além da Revista UFG Afirmativa e livros da gestão, hoje é possível recuperar facilmente boa parte dessa história que compõe nossa identidade. Confira algumas dessas pesquisas e o quanto elas impactaram a sociedade:
- Marco nas descobertas sobre a doença de Chagas: o professor Joffre Marcondes Rezende, em pesquisa realizada com o professor Anis Rassi entre as décadas de 1950 e 1970, descobriu que a doença de Chagas causava alterações anatômicas no esôfago. A partir disso, criou a classificação de megaesôfago usada como referência em âmbito nacional, na qual está descrita a relação entre o comprometimento do órgão e a repercussão clínica. Pela relevância de seus estudos, o professor Joffre recebeu, em 1980, a comenda Carlos Chagas e, após sua aposentadoria em 1987, tornou-se Professor Emérito da UFG e Professor Honoris Causa da Universidade de Brasília (UnB).
- UFG ajudou no combate ao surto de meningite em 1970: o professor Joaquim Caetano Netto e uma equipe de professores do atual Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP/UFG) publicaram em 1973 um artigo sobre a evolução do estado endêmico para o epidêmico do surto de meningite meningocócica em Goiás. A pesquisa apresenta dados coletados no Hospital Oswaldo Cruz, no período de outubro de 1970 a junho de 1973. O professor apontou as diferenças que ele vê entre a experiência da década de 1970 e o que acontece agora com a pandemia de COVID-19. Entre elas, está o acesso rápido à vacina para meningite, que já estava disponível desde 1950, mas não era tão difundida devido a sua eficácia. No entanto, Joaquim explicou que a administração da vacina se tornou um importante fator de controle da doença já que atenuava a gravidade dos casos.
- Descobertas sobre o vírus da Dengue: Em 2004, a dissertação de mestrado da professora da Faculdade de Farmácia, Valéria Christina de Rezende Feres, tratou dos sorotipos dos vírus da dengue encontrados em Goiás. Ela utilizou técnicas da biologia molecular para o sequenciamento do material genético do vírus no Laboratório de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros (LACEN-GO). Os resultados levaram a professora a desenvolver uma pesquisa sobre a epidemiologia molecular do vírus da dengue DENV-3 em Goiânia. Sob orientação da professora Celina Turchi, o estudo resultou na tese de doutorado defendida em 2008. As contribuições da pesquisa da professora Valéria são importantes para os avanços na descoberta de uma vacina contra a doença. A professora Celina, que orientou o trabalho de Valéria, também realizou relevantes apontamentos sobre a dengue, como o estudo pioneiro no Brasil que revelou o impacto socioeconômico da doença.
- Ataque da lagarta Helicoverpa armigera em Goiás é descoberto por Escola de Agronomia: Em janeiro de 2013, a professora Cecília Czepak, da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFG), e estudantes da disciplina de Manejo Integrado de Pragas identificaram, pela primeira vez em território goiano, a presença da lagarta Helicoverpa armígera, em plantações de soja da Fazenda Mutum, a 20 km do município de Palmeiras de Goiás. A identificação da espécie foi importante para a proposta de enfrentamento da praga, feita pela Escola de Agronomia, Ministério da Agricultura, Secretaria Estadual da Agricultura, Embrapa e Agrodefesa.
- Método desenvolvido na UFG utiliza borra de café para filtrar água: o gerente de pesquisa do Laboratório de Métodos de Extração e Separação (Lames), Julião Pereira, defendeu em sua tese de doutorado em Química na UFG, no ano de 2016, a utilização da borra de café como filtro para se obter água potável. Ele é natural do Timor Leste, país produtor de café e que enfrenta dificuldades no oferecimento de água limpa à população. A pesquisa teve início em 2009, quando Julião chegou ao Brasil por meio do Programa Ciências sem Fronteiras. A borra do café, após três processos de extração, perde o cheiro e sabor de café e se torna um filtro três vezes mais eficiente que o carvão ativado.
- UFG coordena pesquisa global sobre Zika vírus: a professora da Faculdade de Farmácia (FF), Carolina Horta, coordena o projeto global OpenZika, realizado desde 2016 por meio de uma parceria entre a UFG, World Community Grid, da IBM, e cientistas de vários países, com o objetivo de acelerar o descobrimento de uma medicação capaz de tratar a doença. A professora trabalha no Laboratório de Planejamento de Fármacos e Modelagem Molecular (LabMol), onde se planeja e desenvolve fármacos (princípios ativos dos medicamentos), principalmente para o tratamento das chamadas doenças negligenciadas. A área de atuação da pesquisadora é abrangente, tanto que ela já desenvolve estudos com fármacos que possam ser usados no tratamento de pacientes com COVID-19.
- Cordilheira dos Andes explica biodiversidade da Amazônia: Um grupo de pesquisadores coordenados pelo professor Thiago Rangel, do Instituto de Ciências Biológicas da UFG, criou um sistema simulador da biodiversidade na América do Sul dentro da realidade virtual. O estudo levou o professor a ser o primeiro a publicar um artigo de pesquisa pela UFG na Revista Science, em julho de 2018. Com base em dados climatológicos da América do Sul dos últimos 800 mil anos, a pesquisa apresentou um modelo computacional com diversas explicações e hipóteses para a biodiversidade da região. Os resultados indicaram que os Andes influenciam nos chamados berçários, museus e cemitérios das espécies da região amazônica, pois quando esfria, as espécies migram das regiões mais altas para as mais baixas e, nas épocas quentes, o contrário acontece. Essa característica andina promove o surgimento e a manutenção de espécies.
- Cientista da UFG identifica primeiro mamífero brasileiro: A partir de um dente pré-molar de 3,5 milímetros, a professora da UFG, Mariela Cordeiro de Castro, e mais outros pesquisadores da Universidade de Campinas (Unicamp), da Universidade de São Paulo (USP), do Massachusetts Institute of Technology (MIT-EUA) e do Museo de La Plata (Argentina) reconheceram a primeira espécie brasileira de mamífero do Mesozóico, período em que os dinossauros habitavam a Terra. Como o fóssil foi encontrado no município de General Salgado, oeste do estado de São Paulo, o mamífero recebeu o primeiro nome de Brasilestes.
- Pesquisadoras da UFG desenvolvem partícula que reverte overdose por cocaína: Em 2019, a pesquisadora Sarah Fernandes desenvolveu uma nanopartícula, sob orientação da professora Eliana Lima, que é capaz de capturar até 70% da cocaína presente em organismos vivos. Essa descoberta é importante já que, após dois minutos de administração da partícula, pode-se reverter os sintomas de uma overdose, como a hipertensão arterial, que tem o risco de levar à morte por insuficiência respiratória. Essa foi a primeira vez que uma partícula produzida por meio da nanotecnologia foi utilizada com essa finalidade. A nanotecnologia é uma área da ciência que estuda e desenvolve estruturas e materiais extremamente pequenos (1 nanômetro é 1 milhão de vezes menor que o milímetro). Partículas nanométricas, obtidas a partir de lipídeos e polímeros, têm sido utilizadas para encapsular e transportar substâncias com diversas finalidades.
- UFG desenvolve teste molecular rápido para COVID-19 em microchips: já no primeiro dia de sintomas, é possível saber se a pessoa contraiu o vírus quando o teste é feito com a técnica RT-LAMP, desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa de Biomicrofluidica do Instituto de Química e do Laboratório de Genética Molecular e Citogenética do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás. A detecção é feita a olho nu: quando há a presença do vírus na amostra do paciente, o resultado do teste apresenta a cor verde fluorescente. Outra vantagem é o custo de produção, que é cerca de 40 vezes menor que o teste considerado padrão-ouro, a PCR, sigla para “Reação em cadeia polimerase”.
Os pesquisadores do Laboratório de Microfluídica e Eletroforese (LME) também desenvolveram testes rápidos em microchips que podem ter usos variados. O professor Wendell Coltro, em parceria com o Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, coordenou estudos sobre falsificação de uísque que pode ser identificada por meio de quatro testes. O professor já esteve na lista dos dez brasileiros mais inovadores com menos de 35 anos pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos. O projeto que o levou a essa conquista foi desenvolvido para diminuir muito o custo de análises clínicas de amostras biológicas. Com um carimbo de 50 dólares, ele já havia criado mais de dez mil “chips de papel” que poderiam ser utilizados para esses testes. Em 2019, Wendell foi selecionado para integrar a Academia Brasileira de Ciências.
- Projeto da UFG converte resíduos em produtos de alto valor agregado: projeto do professor Nelson Roberto Antoniosi Filho, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, desenvolve soluções sustentáveis por meio de reações químicas e processos físicos que transformam lixo em coprodutos. Óleo de cozinha vira biodiesel, retalhos de tecidos convertidos em base para tintas e tijolos balísticos, cascas e sementes de tomates se tornam fibras para barras de cereais. Essa gestão de resíduos contribui, pelo menos, em duas frentes: combate o desperdício e fornece matéria-prima para a crescente demanda da indústria.
- Análise de cera de ouvido detecta câncer, revela pesquisa da UFG: o professor Nelson Antoniosi também lidera um grupo de pesquisadores que publicaram um artigo científico no Scientific Reports Nature, veículo de comunicação dos mesmos editores da revista Nature, de elevado fator de impacto na comunidade científica mundial. A publicação refere-se à pesquisa sobre a detecção de câncer a partir da análise da cera de ouvido, que, por conter o histórico do metabolismo de seres humanos, pode dizer se o indivíduo está doente ou saudável. Os pesquisadores defendem que o exame seja realizado de forma rotineira no diagnóstico de câncer, por ser não invasivo, rápido, de baixo custo e alta precisão.
Fonte: Secom UFG
Categorias: UFG 60 anos pesquisas Institucional