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Universidade Federal de Goiás
Papo Musical

PAPO MUSICAL

Em 19/03/21 11:58. Atualizada em 19/03/21 12:00.

Eunice Katunda (1915-1990): Uma das musicistas mais atuantes no cenário musical brasileiro do século XX

Gyovana Carneiro*
Eunice Katunda (1915 – 1990)

 

A mulher inspiradora dessa semana é a pianista, compositora, regente, arranjadora, Eunice do Monte Lima, ou Eunice Katunda que também já foi Catunda.

Eunice Katunda foi brilhante! Mas, como muitas mulheres no mundo, ainda tem sua história pouco ventilada. Graças a autores como Ester Scliar, Carlos Kater, Joana Holanda, Iracele Souza, bem como, o site Piano Brasileiro,  o nome de Eunice Katunda  se mantem vivo.

Curiosamente, aos sete anos, a carioca Eunice entrou para a escola regular, mas nunca chegou a completar nem mesmo o curso primário, recebia ensinamentos em casa em forma de tutoria.

Eunice Katunda

 

Na música, foi considerada menina prodígio, iniciado cedo os estudos com a filha do compositor Henrique Oswald (1852 – 1931) – Mina Oswald. Entre os 9 e 12 anos passa a integrar a classe da pianista e compositora Branca Bilhar (1886 – 1891), em seguida, estuda com o célebre crítico musical Oscar Guanabarino (1851 – 1937).

Oscar Guanabarino (1851 – 1937)

 

Com onze anos deu um concerto no Instituto Nacional de Música recebendo uma quantia em dinheiro suficiente para comprar um piano Steinway.

 Aos 18 anos casa-se com o matemático Omar Catunda, muda-se para São Paulo, e, recebe aulas do compositor Camargo Guarnieri (1907 – 1993).

Eunice , Omar e Igor Catunda

 

Em 1944, muito bem recomendada pelo compositor Heitor Villa Lobos (1887-1959), realizou uma série de concertos na Argentina. No programa, Eunice já demonstrava sua preocupação em divulgar a música brasileira contemporânea, interpretando obras de Villa-Lobos, Oscar Lorenzo Fernândez (1897-1948), Camargo Guarnieri e dela própria.

Camargo Guarnieri (1907 – 1993)

 

Posteriormente, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro passando a integrar o Grupo Música Viva, liderado por Hans-Joachim Koellreutter (1915-2005), desafeto de Camargo Guarnieri.

O Grupo Música Viva, numa primeira fase, foi integrado por figuras tradicionais do meio musical carioca, como Luiz Heitor (1905 – 1992), e Villa-Lobos (1887 – 1959); sendo, logo a seguir,  integrado pelo jovem aluno de Koellreutter, Claudio Santoro(1919 – 1989).

A partir de 1944 entram no grupo os novos alunos de Koellreutter – Guerra Peixe(1914 – 1993), Eunice Catunda e Edino Krieger (1928). Nesta ocasião o grupo foi assumindo um ar de modernidade radical, confrontando-se com as tradições estabelecidas no meio musical.

Koellreutter
Claudio Santoro; Edino Krieger; Guerra-Peixe e Eunice Catunda

 

Nesta época Katunda faz uma importante viagem à Europa, junto com colegas e com o mestre Koellreutter, para fazer um Curso Internacional de Regência na Bienal de Veneza, onde permaneceu por nove meses, estabelecendo contatos importantes com músicos como Hermann Scherchen (1891-1966), Bruno Maderna (1920-1973) e Luigi Nono (1924-1990). 

Hermann Scherchen (1891-1966), Bruno Maderna (1920-1973) e Luigi Nono (1924-1990)

Em 1948 o grupo Música Viva sofre uma ruptura, praticamente deixando de existir, por divergências políticas entre Koellreutter e os jovens compositores, filiados ou simpatizantes do  Partido Comunista Brasileiro que passam a seguir a estética do realismo socialista com a qual Koellreutter não concordava.

Na década de 50  Katunda atua predominantemente em São Paulo. Entre suas atividades destacam-se: ministrar cursos de iniciação musical no Museu de Arte Moderna de São Paulo em iniciativa pioneira; criação e direção de um programa semanal na Rádio Nacional de São Paulo intitulado Musical Lloyd; atuação como pianista da Rádio Gazeta, além de atuar como compositora e arranjadora durante todo este período.

Katunda começa a rever os conceitos propagadas por Camargo Guarnieri e passa a concordar com muitas de suas ideias.

Em 1958 Eunice  recebe, pelo trabalho junto à Rádio Gazeta, o prêmio Radiolândia de melhor pianista atuante em emissoras brasileiras.

A década de 1960 foi marcada por uma intensa atividade como instrumentista e por mudanças na vida pessoal. Neste período realizou duas turnês aos Estados Unidos, apresentando-se no Carnegie Hall.

Carnegie Hall

 

Em 1964, separou-se de Omar Catunda. Em função disso, trocou o “C” de Catunda por “K” para dissociar seu sobrenome do ex-marido. Faleceu em 3 de agosto de 1990 na casa de seu filho Igor Catunda, em São José dos Campos (SP).

Infelizmente a obra de Eunice Katunda é pouco frequentada. Compositoras desta magnitude devem ser lembradas, estudas e divulgadas.

Ouviremos a obra Brasília de Eunice Katunda interpretada pela Orquestra sinfônica Nacional sob a regência de Ligia Amadio (1964) com a participação do Coral Brasil Ensemble da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Observe a a riqueza desta obra composta por uma brasileira sob a regência de uma maestrina:

 

 

* Gyovana Carneiro é professora da Escola de Música e Artes Cênicas (EMAC) da UFG

O Jornal UFG não endossa as opiniões dos artigos e colunas, de inteira responsabilidade de seus autores.

Fonte: Secom-UFG

Categorias: colunistas Emac