PAPO MUSICAL
Eunice Katunda (1915-1990): Uma das musicistas mais atuantes no cenário musical brasileiro do século XX
Gyovana Carneiro*
A mulher inspiradora dessa semana é a pianista, compositora, regente, arranjadora, Eunice do Monte Lima, ou Eunice Katunda que também já foi Catunda.
Eunice Katunda foi brilhante! Mas, como muitas mulheres no mundo, ainda tem sua história pouco ventilada. Graças a autores como Ester Scliar, Carlos Kater, Joana Holanda, Iracele Souza, bem como, o site Piano Brasileiro, o nome de Eunice Katunda se mantem vivo.
Curiosamente, aos sete anos, a carioca Eunice entrou para a escola regular, mas nunca chegou a completar nem mesmo o curso primário, recebia ensinamentos em casa em forma de tutoria.
Na música, foi considerada menina prodígio, iniciado cedo os estudos com a filha do compositor Henrique Oswald (1852 – 1931) – Mina Oswald. Entre os 9 e 12 anos passa a integrar a classe da pianista e compositora Branca Bilhar (1886 – 1891), em seguida, estuda com o célebre crítico musical Oscar Guanabarino (1851 – 1937).
Com onze anos deu um concerto no Instituto Nacional de Música recebendo uma quantia em dinheiro suficiente para comprar um piano Steinway.
Aos 18 anos casa-se com o matemático Omar Catunda, muda-se para São Paulo, e, recebe aulas do compositor Camargo Guarnieri (1907 – 1993).
Em 1944, muito bem recomendada pelo compositor Heitor Villa Lobos (1887-1959), realizou uma série de concertos na Argentina. No programa, Eunice já demonstrava sua preocupação em divulgar a música brasileira contemporânea, interpretando obras de Villa-Lobos, Oscar Lorenzo Fernândez (1897-1948), Camargo Guarnieri e dela própria.
Posteriormente, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro passando a integrar o Grupo Música Viva, liderado por Hans-Joachim Koellreutter (1915-2005), desafeto de Camargo Guarnieri.
O Grupo Música Viva, numa primeira fase, foi integrado por figuras tradicionais do meio musical carioca, como Luiz Heitor (1905 – 1992), e Villa-Lobos (1887 – 1959); sendo, logo a seguir, integrado pelo jovem aluno de Koellreutter, Claudio Santoro(1919 – 1989).
A partir de 1944 entram no grupo os novos alunos de Koellreutter – Guerra Peixe(1914 – 1993), Eunice Catunda e Edino Krieger (1928). Nesta ocasião o grupo foi assumindo um ar de modernidade radical, confrontando-se com as tradições estabelecidas no meio musical.
Nesta época Katunda faz uma importante viagem à Europa, junto com colegas e com o mestre Koellreutter, para fazer um Curso Internacional de Regência na Bienal de Veneza, onde permaneceu por nove meses, estabelecendo contatos importantes com músicos como Hermann Scherchen (1891-1966), Bruno Maderna (1920-1973) e Luigi Nono (1924-1990).
Em 1948 o grupo Música Viva sofre uma ruptura, praticamente deixando de existir, por divergências políticas entre Koellreutter e os jovens compositores, filiados ou simpatizantes do Partido Comunista Brasileiro que passam a seguir a estética do realismo socialista com a qual Koellreutter não concordava.
Na década de 50 Katunda atua predominantemente em São Paulo. Entre suas atividades destacam-se: ministrar cursos de iniciação musical no Museu de Arte Moderna de São Paulo em iniciativa pioneira; criação e direção de um programa semanal na Rádio Nacional de São Paulo intitulado Musical Lloyd; atuação como pianista da Rádio Gazeta, além de atuar como compositora e arranjadora durante todo este período.
Katunda começa a rever os conceitos propagadas por Camargo Guarnieri e passa a concordar com muitas de suas ideias.
Em 1958 Eunice recebe, pelo trabalho junto à Rádio Gazeta, o prêmio Radiolândia de melhor pianista atuante em emissoras brasileiras.
A década de 1960 foi marcada por uma intensa atividade como instrumentista e por mudanças na vida pessoal. Neste período realizou duas turnês aos Estados Unidos, apresentando-se no Carnegie Hall.
Em 1964, separou-se de Omar Catunda. Em função disso, trocou o “C” de Catunda por “K” para dissociar seu sobrenome do ex-marido. Faleceu em 3 de agosto de 1990 na casa de seu filho Igor Catunda, em São José dos Campos (SP).
Infelizmente a obra de Eunice Katunda é pouco frequentada. Compositoras desta magnitude devem ser lembradas, estudas e divulgadas.
Ouviremos a obra Brasília de Eunice Katunda interpretada pela Orquestra sinfônica Nacional sob a regência de Ligia Amadio (1964) com a participação do Coral Brasil Ensemble da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Observe a a riqueza desta obra composta por uma brasileira sob a regência de uma maestrina:
* Gyovana Carneiro é professora da Escola de Música e Artes Cênicas (EMAC) da UFG
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Fonte: Secom-UFG
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