
Pesquisa da UFG quer entender como vivem as araras-canindé em Goiânia
Relatos e participação dos moradores fazem parte do projeto
Carolina Melo
(Foto de capa do colaborador da pesquisa, Cássio Júnior)

Não raro, moradores de Goiânia se deparam nos céus da capital com as araras-canindé. Sejam buscando alimentos, fazendo ninhos ou apenas de passagem, as aves são cada vez mais vistas pela cidade. E, agora, esses avistamentos e contemplações podem fazer parte de um projeto de pesquisa da Universidade Federal de Goiás (UFG). Com a contribuição da população, o projeto “Araras de Goiânia” pretende entender o fluxo dessas aves na metrópole goiana, uma vez que é uma espécie encontrada com mais frequência nas áreas nativas do Cerrado.
O envolvimento dos moradores de Goiânia no fazer científico é um dos objetivos do projeto, coordenado pelo professor Carlos Bianchi, do Laboratório de Etnobiologia e Biodiversidade do Núcleo Takinahaky. “Já temos, até hoje, pouco mais de 300 contribuições no banco de dados, que incluem registros de ninhos, que por hora manteremos em sigilo por questões de segurança das aves, araras se alimentando, tamanhos de grupos e locais frequentados, como no centro da cidade”, surpreende-se o pesquisador.
O estudo, que teve início em agosto de 2020 como projeto piloto, pretende entender como uma espécie de ave tão grande se adaptou e se mantém na área urbana. “Queremos conhecer a ecologia das aves na cidade, ou seja, onde vivem, onde dormem, o que comem ao longo do ano, se reproduzem, se ficam aqui o ano inteiro, qual o tamanho da população e o tamanho dos grupos”, afirma o professor Carlos Bianchi.
Até agora, segundo o professor, foi possível identificar que, em Goiânia, as araras se alimentam das flores de flamboyant, frutos de jatobá, frutos de sete-copas e coquinhos pela cidade. “Alguns lugares concentram grupos maiores, como no setor Jaó e no Parque Macambira. Mas esses são dados ainda preliminares, precisamos expandir nossa rede de colaboradores pela cidade”.
Ciência cidadã
A ciência e a pesquisa científica precisam se aproximar das pessoas, de tal forma que elas percebam “que podem e devem contribuir para a construção do conhecimento”, entende o professor da UFG. Pensando nisso, o projeto Araras de Goiânia busca essa conexão e a participação ativa dos moradores da cidade. “Entre os nossos objetivos está o envolvimento da sociedade goianiense na realização da pesquisa, queremos fazer uma ciência cidadã”, afirma. “Nosso propósito é que o cidadão comum conheça o projeto, se interesse e queira contribuir com a pesquisa, prestando informações que ele mesmo registra sobre as araras e seus comportamentos.

A participação dos goianienses será estimulada em toda a etapa da pesquisa, desde a coleta de dados à discussão dos resultados. Com o resultado do estudo, segundo o professor Carlos Bianchi, as pessoas serão estimuladas a participar das decisões a serem tomadas. “Por exemplo, se precisamos de mais áreas verdes, se precisamos plantar certas espécies de plantas que beneficiam as aves, se precisamos de proteção ambiental em algumas localidades específicas, se queremos desenvolver um turismo orientado para a observação de aves em Goiânia, que tem grande potencial”, afirma.
A troca entre pesquisadores e população de Goiânia pode ser realizada pelos canais das redes sociais (Instagram: @ararasdegoiania; Facebook), pela página da ArarasGyn, e pelo email ararasgyn@gmail.com. Nos canais (exceto o e-mail) é possível acessar o formulário de colaboração, onde as pessoas respondem perguntas com as informações necessárias para a pesquisa, de forma simples, e podem enviar fotos e vídeos. “Precisamos de uma rede grande de observadores na cidade, logo, quanto mais gente espalhada por aí, mais "olhos" nas araras e no que elas estão fazendo teremos”, afirma o professor. Segundo ele, todos os dados estão sendo triados e inseridos num mapa que pode ser visto na página do projeto na internet. Ao clicar nas localidades registradas, o usuário também tem acesso ao nome da pessoa que avistou a ave e colaborou com a informação. “No futuro, quando a pandemia passar e tudo for totalmente seguro, podemos pensar em ações definidas com muito critério e planejamento para ter as pessoas acompanhando alguns trabalhos de campo na cidade, para que conheçam mais de perto como atuam os profissionais que trabalham com fauna”, planeja o professor.
Fonte: Secom-UFG
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