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Universidade Federal de Goiás
Livro Inteligências Artificiais

Livro questiona o poder das máquinas sobre o homem

Em 27/05/21 11:56. Atualizada em 27/05/21 12:06.

Fruto da tese do professor Márcio Alves da Rocha, obra levanta a reflexão sobre o limite das inteligências artificiais

Carolina Melo

Livro Inteligências Artificiais

O debate sobre a inteligência artificial e sua relação com os homens motivou o caminho da investigação do professor da Faculdade de Artes Visuais (FAV), Márcio Alves da Rocha, que esse mês lançou o livro Inteligência Artificial, Interação, Performance e Ilusão. A publicação independente é fruto de sua pesquisa realizada no Transtechnology, Univesity of Plymouth, no Reino Unido, e percorre conceitos e concepções que geram a reflexão teórica sobre a interação do homem com as máquinas.

O objetivo inicial da investigação do autor, que também é designer gráfico, foi encontrar formas para reduzir o atrito entre o homem e os computadores, no sentido de diminuir as dificuldades enfrentadas pelos usuários ao utilizar um computador. O caminho, no entanto, levou o pesquisador ao universo teórico da interação humano-computador (IHC), disciplina encarregada por criar as interfaces gráficas computacionais que ‘traduzem’ o sistema para o usuário. “Deparei-me com outros questionamentos, dentre eles os relacionados aos modelos mentais do usuário, o funcionamento da mente humana, as questões que envolvem cognição e inteligência e a nossa interação com o mundo, artefatos e objetos”, afirma Márcio Rocha.

Segundo explica, os estudos preliminares e a revisão da literatura revelaram que o modelo da mente proposto pela IHC com base nas teorias de como os humanos interagem com os computadores é insatisfatório. “É um modelo desincorporado e representacional da concepção da mente humana”. A obra então propõe um novo conceito, o “mente incorporada”, que, segundo o autor, traz uma compreensão mais profunda de como a mente funciona. “O reconhecimento de que a mente, o corpo e o mundo são entidades inter-relacionadas nos dá uma nova visão de como podemos melhorar nossas interações com máquinas e computadores”.

Por sua vez, o conceito de “inteligência” não é interpretado como uma entidade literal, assim como entende a Psicologia Cognitiva, e também não se enquadra, na avaliação do autor, como uma qualidade que pertence ou capacita apenas os seres humanos. Inspirado na filosofia da Inteligência Artificial (IA), o estudo defende que se trata de uma manifestação “que emerge quando condições favoráveis facilitam as interações entre agentes e artefatos”. Nesse sentido, segundo Rocha, é necessário compreender os diferentes papéis e formas de inteligência, ou seja, a computacional e a humana. Para o autor, as duas desempenham papéis simétricos na interação entre o homem e a máquina e a inteligência se manifesta entre essa interação.

Já a tecnologia é entendida como “uma prática e uma ideia imaginativa e não apenas uma manifestação concreta de uma solução para os problemas humanos”. O conceito é explorado tendo como fundo as descobertas arqueológicas dos primeiros robôs, máquinas artificiais e mecânicas, e os autômatos, inclusive os “fraudulentos”, que representam, segundo o pesquisador, “um repositório especial do desejo de capitalizar e tornar tais ideias manifestas, mesmo quando a tecnologia para a sua materialização ainda não está disponível”.

Livro Inteligências Artificiais
A máquina Turco Mecânico é utilizada como alegoria no livro para compreender alguns aspectos da inteligência artificial. Ela jogou xadrez por 80 anos sem que descobrissem seu funcionamento. Ganhou de Napoleão Bonaparte e Benjamin Franklin. O professor conta o segredo de seu funcionamento no livro e levanta o debate sobre por que é a inteligência humana que alimenta a inteligência artificial.

 

Com essa base conceitual, alicerçada em autores como Heidegger e Dreyfuss, o professor Márcio Alves da Rocha questiona, então, o poder das máquinas sobre o homem, dando destaque ao limite imposto às inteligências artificiais. “Entre elas, a incapacidade de formar esquemas simples sobre o funcionamento do mundo natural em que vivemos, a incapacidade de adquirir autoconsciência e de compreender linguagem e metáforas. Elas ‘compreendem’ apenas a sintaxe, mas não a semântica. E a linguagem não é somente o veículo pelo qual nos expressamos, mas pelo qual pensamos. Não é possível pensar sem a linguagem”, afirma.

Segundo Rocha, o livro traz a reflexão de que a maneira como o termo Inteligência Artificial é usado "no atual hype de marketing está quase que totalmente errado, e jamais cumprirá sua promessa de criar uma inteligência igual à humana”. Para tal ideia triunfar, de acordo com o autor, “depende de um maravilhoso truque de prestidigitação (ilusionismo), o que transforma a ideia inicial da IA em sua própria antítese”. A perspectiva histórica, avalia o autor, "é importante para entender a forma como pensamos sobre IA hoje, para que possamos perguntar de quais fraudes somos cúmplices quando falamos de máquinas que têm inteligência humana".

 

 

Fonte: Secom-UFG

Categorias: Tecnologia fav